Qual o efeito da musicoterapia no tratamento dos transtornos por uso de substâncias?

A musicoterapia pode contribuir no tratamento dos transtornos por uso de substâncias? Saiba mais sobre o estudo que analisa seus efeitos.

A musicoterapia é um campo do conhecimento que pode contribuir no tratamento de diferentes transtornos. O uso abusivo de substâncias, lícitas ou ilícitas, prescritas ou não, é um deles, e representa um importante problema de saúde pública global com alta prevalência em países de alto e de baixo índice de desenvolvimento humano.  

Como se trata de uma questão determinada pela relação complexa entre aspectos culturais, sociais, históricos, psicológicos e biológicos, o tratamento adequado envolve, a nível individual, abordagens multiprofissionais capazes de abarcarem tamanha complexidade, além de políticas públicas eficientes a nível populacional. 

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A nível terapêutico, a musicoterapia pode ser entendida como ferramenta que envolve a aplicação de conhecimentos diversos no estabelecimento de uma aliança terapêutica capaz de suscitar respostas emocionais e comportamentais que tragam efeitos positivos em termos psicopatológicos e na qualidade de vida. Dessa forma, considerando sua aplicação e investigação científica crescente e as necessidades não atendidas no campo dos danos relacionados ao uso de substância, faz-se necessária a revisão do tema na tentativa de melhor compreender seus benefícios e guiar pesquisas futuras. Recentemente publicada, uma revisão sistemática e metanálise da Cochrane objetivou avaliar a efetividade da musicoterapia e seus impactos no tratamento dos transtornos por uso de substâncias.

Metodologia, intervenção e população

Foi realizada ampla busca em múltiplas bases de dados sem restrições de idioma, data de publicação ou idade dos participantes. Foram incluídos apenas ensaios clínicos randomizados publicados até fevereiro de 2021 (data das buscas) investigando o efeito da musicoterapia aplicada a pacientes com transtorno por uso de substâncias.  Os grupos de comparação da meta-análise foram os seguintes: musicoterapia associada ao cuidado padrão comparada ao cuidado padrão apenas e musicoterapia associada ao cuidado padrão comparada ao cuidado padrão associado a um controle ativo.  

Os objetivos primários envolveram avaliação de escalas validadas do impacto em sintomas psicológicos, fissura pela substância, motivação para o tratamento e motivação para manter-se sem uso da substância. O risco de viés foi realizado através da Cochrane risk of bias tool, e avaliação da qualidade de evidência e de recomendações clínicas através do Grading of Recommendations, Assessment, Development and Evaluations (GRADE). Para informações mais detalhadas acerca da metodologia aplicada em revisões da Cochrane, sugiro leitura do Cochrane Handbook for Systematic Reviews of Interventions.

Resultado e limitações

A análise qualitativa incluiu 21 estudos (total de 1.984 participantes), enquanto as metanálises incluíram 16 estudos. Todos os participantes incluídos tiveram diagnóstico realizado através de critérios da CID-10 ou DSM-IV. Em termos de droga de escolha, a amostra foi variada, incluindo abuso de álcool, heroína e drogas de prescrição com uma pequena parcela de uso de crack ou cocaína. Apenas dois estudos incluíram população de adolescentes e a maioria dos estudos foi realizado em instalações de desintoxicação de curta permanência (16 estudos).  

Os principais resultados positivos na comparação da musicoterapia associada ao cuidado padrão com o cuidado padrão apenas foram: 

  • Tamanho de efeito médio da musicoterapia na diminuição da fissura (grau de certeza moderado pelo GRADE) 
  • Pequeno a médio tamanho de efeito da musicoterapia no aumento da motivação para o tratamento (grau de certeza moderado pelo GRADE) 

Não foi encontrado efeito claro da musicoterapia na redução de sintomas depressivos ou ansiosos, motivação para permanecer sem uso da substância ou permanência no tratamento. Entretanto, tais achados devem ser interpretados à luz das limitações dos estudos incluídos, especialmente a realização de musicoterapia a curto prazo na maioria dos casos (centros de desintoxicação de curto prazo com permanência menor que cinco dias). Limitações de validade externa incluem: predominância de população branca na amostra e estudos realizados em sua maioria nos Estados Unidos.

Mensagem prática

  • A revisão sistemática e meta-análise discutida demonstrou que a musicoterapia aplicada no tratamento de pacientes com transtornos por uso de substâncias tem efeito na diminuição da fissura e melhora da motivação com grau moderado de certeza pelo GRADE. 
  • As evidências no campo estão em desenvolvimento e estudos de longo prazo, com maior qualidade metodológica e em populações mais variadas em termos socioculturais são necessários para melhor compreensão dos efeitos.

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Referências bibliográficas: Ícone de seta para baixo
  • Ghetti C, Chen XJ, Brenner AK, Hakvoort LG, Lien L, Fachner J, et al. Music therapy for people with substance use disorders. Cochrane Database of Systematic Reviews [Internet]. 2022 [citado 10 de junho de 2022];(5). Disponível em: https://www.cochranelibrary.com/cdsr/doi/10.1002/14651858.CD012576.pub3/full 

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