Artrite reumatoide: Qual o impacto do MTX no desenvolvimento de doença intersticial pulmonar?

Doença intersticial pulmonar ligada à artrite reumatoide é relativamente frequente e o metotrexato costuma ser ligado à toxicidade pulmonar.

A doença intersticial pulmonar (PID) associada à artrite reumatoide (AR) (PID-AR) é relativamente frequente, podendo atingir de 2,2 a 30% dos pacientes, dependendo da série analisada. Além disso, é responsável por grande morbidade e letalidade, sendo responsável por 6,8 a 9,8% das mortes em pacientes com AR.

Leia também: Quais os tipos de pneumopatias na artrite reumatoide?

O metotrexato (MTX), atualmente recomendado como primeira linha de tratamento para todos os casos de AR, foi historicamente associado à ocorrência de toxicidade pulmonar. De fato, o MTX está associado ao desenvolvimento de pneumonite por hipersensibilidade aguda e subaguda em casos raros, mas a sua associação com doença pulmonar fibrosante vem sendo questionada por estudos mais recentes. Alguns apontam para a ausência de risco de piora da PID-AR, enquanto que outros sugerem, inclusive, um papel protetor do MTX.

De modo a responder essa questão, Juge et al. desenvolveram um estudo para avaliar o real impacto do MTX no desenvolvimento da PID-AR.

Estudo tenta verificar qual o impacto do metotrexato no desenvolvimento da doença intersticial pulmonar em pacientes com artrite reumatoide

Métodos

Trata-se de um estudo caso-controle multicêntrico, dividido em duas fases: uma de descoberta (conduzida na França) e uma de repetição internacional (realizada na Itália, Reino Unido, México, Brasil e Estados Unidos). Foram incluídos 410 pacientes com PID-AR fibrótica crônica e 673 pacientes com AR sem PID, os quais foram comparados com relação à exposição ao MTX.

Todos os pacientes do estudo preencheram os critérios classificatórios para AR (EULAR/ACR 2010 e/ou ACR 1987) e realizaram TC de tórax de alta resolução (TCAR). A data de inclusão no estudo foi considerada a data em que foi realizada a TCAR que confirmou ou excluiu a presença de PID-AR.

A exposição ao MTX foi avaliada desde o diagnóstico da AR até o momento da realização da TCAR, de modo a evitar o risco de viés pela suspensão do MTX após um potencial diagnóstico de PID-AR. A acurácia da obtenção de informações relacionadas à dose cumulativa de MTX foi considerada baixa pelos autores, então sua interpretação foi meramente descritiva.

Pacientes com diagnóstico provável de pneumonia por hipersensibilidade foram excluídos da análise.

Saiba mais: Como identificar a doença intersticial pulmonar associada à esclerose sistêmica?

Resultados

No total, foram incluídos 1.083 pacientes (410 com PID-AR e 673 AR sem PID, sendo 100 PID-AR e 165 AR sem PID na fase de descoberta e 310 PID-AR e 508 AR sem PID na fase de repetição internacional).

Os pacientes com PID-AR foram mais frequentemente do sexo masculino, mais velhos, com início mais tardio da AR, tabagistas e com um menor tempo de exposição ao MTX. A DLCO foi o principal parâmetro da prova de função pulmonar alterado, com mediana de 56% (43-69%); a mediana da CVF foi de 78% (62-93%).

Após ajuste para as demais variáveis, o uso do metotrexato em algum momento da doença se correlacionou de maneira inversa com a chance de desenvolver PID-AR. O OR encontrado foi de 0,43 (95%IC 0,26-0,69, p = 0,0006).

Além disso, o tempo para detecção de PID-AR em pacientes que fizeram uso de MTX foi maior do que naqueles que não utilizaram a medicação (11,4±10,4 vs. 4,0±7,4, p < 0,001), o que sugere que o uso de MTX pode ter retardado o desenvolvimento da PID-AR.

Esses achados foram consistentes nas diferentes populações, após análise de sensibilidade e nos diferentes padrões tomográficos (pneumonia intersticial usual e outros padrões tomográficos).

Comentários

Esse estudo traz alguns dados relevantes para a prática clínica, principalmente por nos tranquilizar com relação ao risco de toxicidade pulmonar do MTX. Ainda que seja possível, esse risco parece pequeno e está mais relacionado à pneumonia por hipersensibilidade aguda e subaguda, não à PID-AR fibrosante. Além do mais, o uso dessa medicação pode estar associado, inclusive, a um efeito protetor para o desenvolvimento da PID-AR, por propiciar um melhor controle do processo inflamatório sistêmico característico da AR, que precisa ser melhor estudado (vide comentário nas limitações).

Algumas limitações merecem destaque, como: o desenho retrospectivo (próprio dos estudos de caso-controle); o fato de não ter sido possível avaliar os motivos que levaram a não prescrição do MTX (que poderiam introduzir vieses de seleção dos pacientes e, desse forma, limitar a interpretação com relação ao efeito protetor do MTX); a impossibilidade de avaliação de drogas utilizadas concomitantemente ao MTX; a dificuldade de se avaliar a dose cumulativa de MTX para cada paciente; e a falta de representatividade de pacientes com PID-AR avançada (maioria dos pacientes apresentavam valores de CVF de 78% ou mais do predito).

Dessa maneira, os autores do estudo concluem que o MTX não parece se associar com um risco aumentado de PID-AR e que foi observado que a PID-AR foi detectada mais tardiamente em pacientes que fizeram uso de MTX.

Referências bibliográficas:

  • Juge P-A, Lee JS, Lau J, et al. Methotrexate and rheumatoid arthritis associated intersticial lung disease. Eur Respir J. 2020. doi:10.1183/13993003.00337-2020.

Avaliar artigo

Dê sua nota para esse conteúdo

Selecione o motivo:
Errado
Incompleto
Desatualizado
Confuso
Outros

Sucesso!

Sua avaliação foi registrada com sucesso.

Avaliar artigo

Dê sua nota para esse conteúdo.

Você avaliou esse artigo

Sua avaliação foi registrada com sucesso.

Baixe o Whitebook Tenha o melhor suporte
na sua tomada de decisão.

Especialidades