Quem opera catarata há menos tempo tem maior risco de complicação cirúrgica?

Estudos recentes têm questionado a proficiência técnica de cirurgiões novos. Muitos fatores podem contribuir para deficiências na formação cirúrgica.

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Estudos recentes têm questionado a proficiência técnica de cirurgiões novos. Muitos fatores podem contribuir para deficiências na formação cirúrgica, incluindo as dificuldades financeiras dos programas de treinamento, a pressão envolvida na grande necessidade de eficiência hospitalar e o pouco tempo de treinamento. Apesar de algumas especulações, não existem dados objetivos que suportem essa ideia.

Os desfechos cirúrgicos entre os novos cirurgiões é um importante indicador dos programas de residência médica. Em particular, o resultado das cirurgias de catarata pode servir como um modelo ideal por diversas razões. A cirurgia de catarata é o procedimento cirúrgico mais realizado na maioria dos países desenvolvidos, com mais de 3 milhões feitas nos EUA anualmente. Além disso, existe uma curva de aprendizado bem demonstrada e os resultados são independentes da qualidade do fator “pós-operatório hospitalar”.

Foi publicado este ano na Ophtalmology estudo retrospectivo em Ontario, no Canada, com objetivo de investigar a adequação dos treinamentos cirúrgicos usando a cirurgia de catarata como exemplar. Foram analisadas as cirurgias de catarata em pacientes maiores de 66 anos, entre janeiro de 1997 e dezembro de 2013, através de banco de dados das unidades de saúde. As quatro principais complicações da cirurgia de catarata foram avaliadas: ruptura de cápsula posterior, fragmentos do cristalino no vítreo, descolamento de retina e endoftalmite suspeita.

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303.236 cirurgias foram realizadas em centros acadêmicos em Ontario neste período. A média de idade dos pacientes era de 77 anos. 0.7% dos pacientes tiveram um dos efeitos adversos avaliados: 0.5% tiveram rotura de cápsula posterior, 0.1% tiveram fragmentos do cristalino no vítreo, 0.02% com descolamento de retina e 0.1% com endoftalmite suspeita. Altas taxas de complicação foram mais comuns nos estágios iniciais da carreira, se tornando menos comuns ao longo dos anos de prática.

Cirurgiões no primeiro ano de prática independente foram 9.3 vezes mais susceptíveis a ter uma frequência maior de complicações (>2%) do que cirurgiões no décimo ano de carreira. Cada ano adicional de prática independente foi associado a 10% menos risco. O maior número de anos de prática independente teve o maior efeito protetor para a ruptura de cápsula posterior. Cada ano adicional de experiência foi associado a 13% menos risco. Os anos de prática também foram associados a um efeito significante no menor risco de “núcleo mergulhado”, porém não tiveram valor preditivo no descolamento de retina nem na endoftalmite suspeita.

O maior volume cirúrgico foi associado a menor taxa de todas as complicações avaliadas. Idade maior, sexo masculino, uso de tamsulosin e uso de antiglaucomatosos foram associados a risco aumentado de eventos adversos.

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Na análise isolada, a ruptura de cápsula posterior foi associada à maior idade, sexo masculino, uso de antiglaucomatosos e maior número de medicações utilizadas no último ano. O três primeiros fatores também foram associados a um risco aumentado de endoftalmite infecciosa. O maior risco de se ter fragmentos do núcleo no vítreo foi associado apenas à maior idade e maior número de medicações no último ano. O único fator associado a aumento de chance de ter descolamento de retina foi o sexo masculino.

A conclusão do estudo foi que as complicações cirúrgicas são significativamente mais presentes nas cirurgias de catarata de cirurgiões novos e com menor volume cirúrgico. Apesar da cirurgia de catarata ter sido usada como modelo, muitos outros procedimentos cirúrgicos necessitam de demandas específicas de treinamento e de grande desenvolvimento técnico. Se você começou a operar de forma independente há pouco tempo, fique atento sempre aos novos treinamentos e às possibilidades de complicações cirúrgicas.

Referência:

  • New Surgeon Outcomes and the Effectiveness of Surgical Training: A Population-Based Cohort Study. Robert J. Campbell, Sherif R. El-Defrawy, Sudeep S. Gill, et al. Published Online: January 24, 2017.

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