Quem teve dengue está protegido contra o zika vírus?

Faltavam evidências que confirmassem se a infecção por dengue protegeria o indivíduo contra infecção do zika. Dois estudos recentes esclareceram a questão.

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A dengue (DENV) e o zika (ZIKV) estão amplamente correlacionados e possuem mais elementos em comum do que apenas a transmissão pelo mosquito Aedes aegypti. Ambas as doenças são denominadas como arbovírus, são autolimitadas, causam sintomas semelhantes (febre, dor de cabeça e no corpo) e podem deixar sequelas graves nos pacientes.

Na literatura científica há uma vasta gama de materiais que abordam os sintomas e efeitos adversos relacionados ao vírus da zika e da dengue. No entanto, faltam evidências que confirmem, por exemplo, se a infecção por DENV protegeria o indivíduo contra infecção do ZIKV.

Com base neste questionamento, foram elaborados dois estudos independentes entre si que analisaram indivíduos infectados pelo zika vírus. O primeiro levantamento foi realizado no Brasil, em Salvador (BA), após epidemia da doença na capital baiana em 2015-16; e o segundo ocorreu na Nicarágua, depois de um surto do ZIKV em 2016.

Leia mais: Qual a relação entre a infecção por Zika e a infertilidade masculina?

O primeiro estudo denominou-se Impact of preexisting dengue immunity on Zika virus emergence in a dengue endemic region foi conduzido por Rodriguez-Barraquer et al, que selecionaram 1453 moradores da capital baiana. Por meio de um teste que mediu a imunoglobulina G3 (IgG3), responsável pela resposta contra antígenos  os pesquisadores ZIKV NS1. pesquisadores descobriram que 73% dos participantes já haviam sido infectados com o zica durante a última epidemia (2015-2016). Os anticorpos preexistentes associados ao DENV também foram relacionados a 9% de redução no risco para a infecção do ZIKV (IC 95% [1 a 17%]).

No entanto, o estudo Prior dengue virus infection and risk of Zika: A pediatric cohort in Nicaragua, conduzido por Aubree Gordon et al entre 2016 e 2017, contesta os achados dos pesquisadores brasileiros e sugere que a preexistência de anticorpos contra o vírus da dengue não diminui o risco de infecção pelo do zika, apesar de amenizar os efeitos da segunda doença. A pesquisa foi conduzida em Managua, capital do país, com aproximadamente 3.700 pacientes pediátricos (entre 2 e 14 anos).

Os pesquisadores identificaram 1.356 infecções por zika (560 sintomáticos e 796 assintomáticos) entre os participantes. Por meio da história do paciente, pelo menos uma infecção anterior por dengue foi constatada em 743 crianças, 24,5% do total pesquisado. O estudo concluiu que os sintomas do ZIKV foram menores quando houve presença anterior de DENV (razão de incidência: 0,63; IC 95% [0,48 a 0.81]; p <0,005), porém o risco de infecção permaneceu inalterado. A limitação da pesquisa deveu-se ao coorte ser composto apenas por crianças, logo mais pesquisa devem ser aplicadas para determinar a relação entre as duas doenças em um público mais amplo.

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Referências:

  • Impact of preexisting dengue immunity on Zika virus emergence in a dengue endemic region”, foi publicado na revista Science. v. 363, n. 6427, p. 607-10. fev. 2019
  • Gordon A et al. Prior dengue virus infection and risk of Zika: A pediatric cohort in Nicaragua. PLoS Med 2019 Jan 22; 16:e1002726. (https://doi.org/10.1371/journal.pmed.1002726)

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