Os dados de paciente feminina, portadora de doença autoimune (lúpus eritematoso sistêmico), história de morbidade gestacional (parto prematuro por pré-eclâmpsia, abortamento precoce) e alteração isolada do TTPa (que não corrige após o teste de mistura), falam fortemente a favor da síndrome do anticorpo antifosfolípide (SAF).
Pacientes com SAF apresentam certos tipos de anticorpos circulantes (ex.: anticoagulante lúpico, anticardiolipina, anti-beta2 glicoproteína I), que podem interferir de maneira in vitro (se comportam como anticoagulantes in vitro), em ensaios coagulométricos dependentes de fosfolípídeos, como é o caso do TTPa.
Como esses anticorpos causam interferências no ensaio clássico do TTPa, o teste de mistura do plasma do paciente com plasma normal, na diluição de 1:1, não é capaz de corrigir o tempo, como no caso em questão.
Na deficiência de vitamina K, o TAP/INR estaria alargado isoladamente (na deficiência moderada) ou em conjunto com o TTPa (na deficiência severa), além dos tempos serem corrigidos após o teste de mistura.
Já na deficiência do fator IX, por ser um fator da via intrínseca da coagulação, é esperado um prolongamento do TTPa, com TAP/INR normal. Entretanto, assim como na deficiência de vitamina K, o teste de mistura corrigiria os tempos (a mistura 1:1 com plasma normal proporcionaria cerca de 50% da atividade do fator, o que seria suficiente para corrigir os tempos, no caso o TTPa).
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