Caso clínico: Paciente com TTPa prolongado isoladamente. O que será?

Exame físico sem alterações, e exames complementares dentro dos limites da normalidade, exceto pelo TTPa. Confira o caso clínico.

JSRT, sexo feminino, 37 anos, G2P1A1, retorna à consulta com o cardiologista para apresentar exames e finalizar o risco cirúrgico para correção eletiva de desvio de septo nasal. Apresenta quadro de hipertensão arterial sistêmica (HAS) controlada em uso de captopril + hidroclorotiazida e de lúpus eritematoso sistêmico (LES) em remissão, em uso de hidroxicloroquina.  

História obstétrica de nascido vivo por parto prematuro com 35 semanas (devido a pré-eclâmpsia), e um abortamento espontâneo de feto com 12 semanas de idade gestacional. 

Exame físico sem alterações, e exames complementares dentro dos limites da normalidade, exceto pelo TTPa (tempo de tromboplastina parcial ativada) que se encontrava isoladamente alargado (Tempo da paciente: 52 segundos, com relação P/T: 1,73; Valor de Referência: 25 a 35 segundos e relação P/T de até 1,30), com TAP/INR normais. 

Na observação do TTPa, o laboratório clínico executante do exame colocou a seguinte nota: “Após teste de mistura do plasma da paciente com plasma normal (1:1) – Tempo da paciente: 50 segundos; Relação P/T: 1,66”. 

Quiz 1/

Diante da história clínica e dos achados laboratoriais encontrados, a principal hipótese diagnóstica é: 

Comentários

Os dados de paciente feminina, portadora de doença autoimune (lúpus eritematoso sistêmico), história de morbidade gestacional (parto prematuro por pré-eclâmpsia, abortamento precoce) e alteração isolada do TTPa (que não corrige após o teste de mistura), falam fortemente a favor da síndrome do anticorpo antifosfolípide (SAF). 

Pacientes com SAF apresentam certos tipos de anticorpos circulantes (ex.: anticoagulante lúpico, anticardiolipina, anti-beta2 glicoproteína I), que podem interferir de maneira in vitro (se comportam como anticoagulantes in vitro), em ensaios coagulométricos dependentes de fosfolípídeos, como é o caso do TTPa.  

Como esses anticorpos causam interferências no ensaio clássico do TTPa, o teste de mistura do plasma do paciente com plasma normal, na diluição de 1:1, não é capaz de corrigir o tempo, como no caso em questão.

Na deficiência de vitamina K, o TAP/INR estaria alargado isoladamente (na deficiência moderada) ou em conjunto com o TTPa (na deficiência severa), além dos tempos serem corrigidos após o teste de mistura. 

Já na deficiência do fator IX, por ser um fator da via intrínseca da coagulação, é esperado um prolongamento do TTPa, com TAP/INR normal. Entretanto, assim como na deficiência de vitamina K, o teste de mistura corrigiria os tempos (a mistura 1:1 com plasma normal proporcionaria cerca de 50% da atividade do fator, o que seria suficiente para corrigir os tempos, no caso o TTPa).

Referências bibliográficas: 

  • Funke A, Danowski A, de Andrade DCO, et al. A importância de reconhecer a síndrome antifosfolípide na medicina vascular. J Vasc Bras. 2017 Apr-Jun;16(2):140-149. 
  • Khamashta MA, Amigo MC. Antiphospholipid syndrome: overview of pathogenesis, diagnosis, and management. In: Rheumatology, 6, Hochberg MC, Silman AJ, Smolen JS, Weinblatt ME, Weisman MH (Eds), Elsevier, Philadelphia 2015. Vol 2, p.1144. 
  • Lambroussis CG, Foster D, Sharma A. Antiphospholipid Syndrome Secondary to Lupus Anticoagulant: Case Report for Clinical Anticoagulation Determination. Cureus. 2022 Aug 5;14(8):e27702. 
  • Malbora B, Bilaloglu E. Lupus Anticoagulant Positivity in Pediatric Patients With Prolonged Activated Partial Thromboplastin Time: A Single-Center Experience and Review of Literature. Pediatr Hematol Oncol. 2015;32(7):495-504. 
  • Zhong Y, Yan B, Yu Z, et al. Differential diagnosis and clinical management of isolated prolonged activated partial thromboplastin time in a patient with Hashimoto thyroiditis-associated thyroid cancer: A case report. Medicine (Baltimore). 2021 Jul 9;100(27):e26608.  

Diante da história clínica e dos achados laboratoriais encontrados, a principal hipótese diagnóstica é: 

Comentários

Os dados de paciente feminina, portadora de doença autoimune (lúpus eritematoso sistêmico), história de morbidade gestacional (parto prematuro por pré-eclâmpsia, abortamento precoce) e alteração isolada do TTPa (que não corrige após o teste de mistura), falam fortemente a favor da síndrome do anticorpo antifosfolípide (SAF). 

Pacientes com SAF apresentam certos tipos de anticorpos circulantes (ex.: anticoagulante lúpico, anticardiolipina, anti-beta2 glicoproteína I), que podem interferir de maneira in vitro (se comportam como anticoagulantes in vitro), em ensaios coagulométricos dependentes de fosfolípídeos, como é o caso do TTPa.  

Como esses anticorpos causam interferências no ensaio clássico do TTPa, o teste de mistura do plasma do paciente com plasma normal, na diluição de 1:1, não é capaz de corrigir o tempo, como no caso em questão.

Na deficiência de vitamina K, o TAP/INR estaria alargado isoladamente (na deficiência moderada) ou em conjunto com o TTPa (na deficiência severa), além dos tempos serem corrigidos após o teste de mistura. 

Já na deficiência do fator IX, por ser um fator da via intrínseca da coagulação, é esperado um prolongamento do TTPa, com TAP/INR normal. Entretanto, assim como na deficiência de vitamina K, o teste de mistura corrigiria os tempos (a mistura 1:1 com plasma normal proporcionaria cerca de 50% da atividade do fator, o que seria suficiente para corrigir os tempos, no caso o TTPa).

Referências bibliográficas: 

  • Funke A, Danowski A, de Andrade DCO, et al. A importância de reconhecer a síndrome antifosfolípide na medicina vascular. J Vasc Bras. 2017 Apr-Jun;16(2):140-149. 
  • Khamashta MA, Amigo MC. Antiphospholipid syndrome: overview of pathogenesis, diagnosis, and management. In: Rheumatology, 6, Hochberg MC, Silman AJ, Smolen JS, Weinblatt ME, Weisman MH (Eds), Elsevier, Philadelphia 2015. Vol 2, p.1144. 
  • Lambroussis CG, Foster D, Sharma A. Antiphospholipid Syndrome Secondary to Lupus Anticoagulant: Case Report for Clinical Anticoagulation Determination. Cureus. 2022 Aug 5;14(8):e27702. 
  • Malbora B, Bilaloglu E. Lupus Anticoagulant Positivity in Pediatric Patients With Prolonged Activated Partial Thromboplastin Time: A Single-Center Experience and Review of Literature. Pediatr Hematol Oncol. 2015;32(7):495-504. 
  • Zhong Y, Yan B, Yu Z, et al. Differential diagnosis and clinical management of isolated prolonged activated partial thromboplastin time in a patient with Hashimoto thyroiditis-associated thyroid cancer: A case report. Medicine (Baltimore). 2021 Jul 9;100(27):e26608.  

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