Refluxo e cirurgias bariátricas: qual o melhor procedimento?

Entre as cirurgias bariátricas temos as que “protegem” os pacientes de eventuais refluxos e que podem até induzir um refluxo.

A obesidade e sobrepeso são bastante associadas à presença de doença do refluxo gastroesofágico. O aumento da pressão intra-abdominal é um forte componente deste equação, e a presença do refluxo pode ser um fator que modifique qual dos tipos de cirurgias bariátricas será realizada.

Entre os tipos mais aceitos de cirurgia bariátrica temos  aqueles que “protegem” os pacientes de eventuais refluxos (by-pass gástrico e banda gástrica) e outros que podem até induzir  um refluxo gastro-esofágico (sleeve). O uso de bandas gástricas está cada vez mais descontinuado, devido a complicações e falhas terapêuticas, enquanto o sleeve, apresenta números crescentes devido a sua simplicidade de execução. Um quarto tipo de cirurgia bariátrica, o by-pass gástrico com anastomose única, tem se difundido ao longo dos últimos anos com a experiência dos diferentes  centros sendo menor que os demais tipos.

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O trabalho da British Journal of Surgery, comparou os resultados a longo prazo destes 4 tipos diferentes de procedimentos para obesidade. Devido  a popularidade mais recente, o by-pass com anastomose possui um tempo menor de observação com apenas 03 anos, enquanto os demais métodos o acompanhamento foi de pelo menos 10 anos.

Refluxo e cirurgias bariátricas qual o melhor procedimento

Desenho do estudo

Estudo multicêntrico, prospectivo para avaliar os resultados a longo prazo da cirurgia bariátrica em relação a doença do refluxo e esôfago de Barrett. Os pacientes eleitos para o procedimento cirúrgico já realizam uma endoscopia pré-operatória, e assim no pós-operatório foram acompanhados com endoscopias regulares a cada 2-3 anos.

Resultados

O período de coleta de dados foi de outubro de  2006 a dezembro de 2010, com 498 pacientes incluídos sendo dividido em: banda gástrica, 117 pacientes; By-pass, 100 pacientes, Sleeve 165 pacientes. Entre janeiro de 2015 e dezembro de 2018 116 pacientes realizaram o By-pass com anastomose única. Deste total, 14 foram excluídos por complicações pós-operatórias e outros 28 por necessidade de cirurgia revisional. Após outras exclusões permaneceram 193 pacientes com observação mínima de 10 anos e 48 outros com a observação mínima de 3 anos para os casos de by-pass com anastomose única.

Os pacientes com banda gástrica apresentaram um aumento dos sintomas e achados endoscópicos de DRGE (14% para 31 %; p < 0,0001) assim como os pacientes submetidos a sleeve aumentaram os sintomas de 26,3% para 58,9% (p < 0,0001). Em contrapartida, aqueles submetidos a by-pass gástrico obtiveram uma redução dos sintomas de refluxo que variou de 36,6% para 14,6% (p < 0,0001). Em relação ao by-pass com anastomose única houve um discreto aumento de sintomas e achados endoscópicos porém não apresentou significância estatística. Os pacientes submetidos a sleeve também apresentavam uma elevada taxa de uso de inibidores de bomba de próton chegando a 51% de uso no pós-operatório. De forma similar os achados endoscópicos de refluxo e esofagite também foram mais elevados nos pacientes submetidos a sleeve com uma incidência de 74% de esofagite e 16,8% de Barrett (p < 0,0001).

Discussão

Os resultados deste estudo demonstraram que a gastrectomia em sleeve expõe o paciente  a um risco elevado para desenvolvimento de lesões esofágicas por refluxo. O único procedimento que apresentou uma diminuição dos sintomas de refluxo foi o by-pass clássico, visto que o by-pass com anastomose única apresentou também um discreto aumento dos sintomas de GERD, apesar de não ter tido significância estatística.

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Apesar de não demonstrado por este estudo, displasia associada ao Barrett, diversas outras publicações já demonstraram que o refluxo pode acelerar essa evolução displásica até o desenvolvimento de adenocarcinoma. O esófago de Barrett, pode ser considerado uma complicação tardia da cirurgia de sleeve, até porque não  foi demonstrado a presença desta patologia após a realização dos demais tipos de cirurgia bariátrica.

Para Levar para Casa

Pacientes com obesidade e refluxo o melhor tratamento é o by-pass gástrico. O sleeve gástrico possui diversos benefícios técnicos e fisiológicos especialmente pela passagem duodenal dos nutrientes como o ferro. No entanto a realização do sleeve se paga um preço do refluxo gastroesofágico que em alguns casos tornará necessária uma segunda intervenção.

Referências bibliográficas:

  • Genco A, Castagneto-Gissey L, Gualtieri L, et al. GORD and Barrett’s oesophagus after bariatric procedures: multicentre prospective study. Br J Surg. 2021;108(12):1498-1505. doi:10.1093/bjs/znab330

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