Relação entre Diabetes Melitus tipo 2 e Insuficiência Cardíaca

A insuficiência cardíaca é desfecho importante para quem tem diabetes melitus e as atuais drogas hipoglicemiantes podem influenciar no seu desenvolvimento.

Tempo de leitura: [rt_reading_time] minutos.

Foi publicado na revista Circulation de julho de 2019 o statement da American Heart Association (AHA) e da Heart Failure Society of America (HFSA) sobre Diabetes Melitus (DM) e insuficiência cardíaca (IC). 

Mais de 29 milhões de adultos americanos têm DM tipo 2, enquanto 6,5 milhões têm IC. O direcionamento é necessário devido à patofisiologia compartilhada por ambas condições e aos potenciais perigos e vantagens das terapêuticas conjuntas. 

Com frequência, DM e IC ocorrem juntas e uma aumenta o risco da outra independentemente. Em coortes de IC, a prevalência de DM tem sido de 10-47%. Por outro lado, entre pacientes diabéticos, a prevalência de IC é de 9-22%, o que representa quatro vezes a prevalência na população geral.

A DM também é um importante fator de risco para desenvolvimento de sintomas em pacientes com disfunção do ventrículo esquerdo (VE) assintomáticos. O risco de IC entre diabéticos aumenta com a idade, doença arterial coronariana (DAC), doença arterial periférica, nefropatia, retinopatia, duração do DM, obesidade, hipertensão e NT-proBNP alto.

Pacientes diabéticos com IC assintomática, frequentemente, têm anormalidades subclínicas da estrutura e função cardíacas correspondendo ao estágio B de IC do American College of Cardiology/ AHA. Essas alterações incluem disfunção sistólica do VE, aumento da massa cardíaca, da espessura parietal relativa, e do tamanho do átrio esquerdo (AE), disfunção diastólica, e aumento na fração de volume extracelular. Geralmente, essas alterações são causadas por isquemia/infarto.

A hiperglicemia e hiperinsulinemia aceleram a aterosclerose via proliferação de células musculares lisas vasculares e inflamação. Estudos de imagem mostram que a hipertrofia do VE é uma importante característica do coração diabético. Ela causa disfunção diastólica que é uma manifestação funcional precoce da cardiomiopatia diabética e está presente em 40-75% dos pacientes diabéticos. 

A maioria dos autores concorda que uma meta de HBA1c abaixo de 7% é o ideal para a maioria dos adultos com DM. A metformina é o fármaco mais usado e a indicação de primeira linha para diabéticos do tipo 2. Mas, deve se contraindicada em caso e função renal abaixo de 30ml/min/1,73m2 ou também em casos de hipóxia como na IC aguda.

As sulfonilureias podem aumentar a mortalidade cardiovascular. As tiazolidinedionas, incluindo a rosiglitazona, podem causar ou exacerbar IC sendo que não são recomendadas para nenhum paciente com IC sintomática. Os agonistas GLP-1 ( glucagon-like peptide ) exenatide e lixienatide não devem ser recomendados ou devem ser usados com cuidado em caso de função renal abaixo de 30ml/min/1,73m2. Podem reduzir o risco de eventos cardiovasculares maiores e a mortalidade. Entretanto, não têm impacto na internação por IC.

A liraglutida pode reduzir a progressão da nefropatia. Nesse ponto devemos fazer um parêntese devido ao crescente uso dessa última classe de medicamentos para perda de peso. O FDA ( Food and Drugs Administration ) adverte que os agonistas GLP-1 podem aumentar o risco de câncer de tireoide, sendo contraindicado em pacientes com histórico familiar de carcinoma medular tireoidiano em pacientes com síndrome neoplásica endócrina múltipla tipo 2.

Saiba mais: Conheça a relação entre diabetes e ICFEP e saiba como abordar

Os inibidores DPP-4 ( dipeptidil-peptidase) podem aumentar o risco de internação por IC. Os inibidores SGLT-2 (sodium glucose cotransporter ) foram a primeira classe de hipoglicemiantes a demonstrar redução do risco de internação por IC entre diabéticos. Diminuem o risco cardiovascular e a mortalidade geral. São contraindicados com função renal < 30 ml/min/1,73 m2.

A canaglifozina é contraindicada com função renal < 45 ml/min/1,73 m2. A dapaglifozina é contraindicada com função renal abaixo de 60 ml/min/m2. A canaglifozina e a empaglifozina podem reduzir a progressão da nefropatia. A canaglifozina foi associada com amputações de membros inferiores em pacientes diabéticos com insuficiência renal estabelecida ou em risco de insuficiência renal. Portanto, o uso de metformina e inibidores de SGLT-2 é preferível em pacientes com alto risco para IC ou naqueles com IC estabelecida. 

O uso de insulina está associado com aumento de peso e risco de hipoglicemia devendo ser usada com cuidado e monitoramento. Metformina e inibidores SGLT-2 são preferíveis se o controle glicêmico puder ser atingido sem insulina.

Os medicamentos como IECA, beta-bloqueadores, ivabradina, inibidores da neprisilina, inibidores do receptor AT-1 podem ser usados em diabéticos segundo os guidelines correntes. A espironolactona parece ter efeito hiperglicemiante devendo–se preferir outro mineralocorticóide. 

O paciente diabético precisa de cuidados multidisciplinares, sendo importante um time de profissionais integrados. O time é composto por médicos, enfermeiros, farmacologistas, nutricionistas, assistentes sociais e agentes de saúde comunitária. Juntos, interagem para montar um plano terapêutico individualizado para o melhor interesse do paciente.

 

Referências:

  • Dunlay et al. Type 2 diabetes Mellitus and Heart Failure. Circulation 2019; 139:00-00.

Avaliar artigo

Dê sua nota para esse conteúdo

Selecione o motivo:
Errado
Incompleto
Desatualizado
Confuso
Outros

Sucesso!

Sua avaliação foi registrada com sucesso.

Avaliar artigo

Dê sua nota para esse conteúdo.

Você avaliou esse artigo

Sua avaliação foi registrada com sucesso.

Baixe o Whitebook Tenha o melhor suporte
na sua tomada de decisão.