Remdesivir para tratamento da Covid-19: Quando e como usar?

Devido a pandemia por Covid-19, o mundo busca estratégias terapêuticas eficazes nas diversas fases da doença (como o remdesivir).

Desde que a pandemia por Covid-19 começou, o mundo empenhou-se na tentativa de encontrar estratégias terapêuticas eficazes nas diversas fases da doença. Até março de 2021, não haviam terapias comprovadas para o uso na fase inicial da síndrome, com foco na inibição da atividade viral.

Temos como estratégias bem estabelecidas até o momento, o uso da dexametasona na dose de 6 mg ao dia por 10 dias e do tocilizumabe na dose de 8 mg\kg\dose, nos casos de pacientes com necessidade de oxigenoterapia suplementar. Além disso, apenas o racional de manter uma estratégia de ventilação mecânica protetora e seguimento de suporte de vida usual. Um paper bastante interessante, com a participação da Drª Ludhmila Hajjar, que vale muito a pena em ser lido, sumariza de forma consistente as principais recomendações no cuidado dos pacientes graves por pneumonia decorrente da Covid-19.

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Ao passo em que algumas metas já são bem estabelecidas, faltava o preenchimento da lacuna de um tratamento direcionado para a ação viral. Ou seja, algo que atacasse diretamente o vírus e reduzisse a expressão da lesão pulmonar provocada por ele. Diversos esquema antivirais foram testados ao longo do ano e em novembro de 2020 a Organização Mundial de Saúde (OMS) publicou uma nota não recomendado o uso de antivirais no Covid-19, incluindo o Remdesivir, com base em estudos clínicos de resultados conflitantes.

Na contramão da OMS, a Food and Drug Administration (FDA) dos EUA aprovou recentemente o uso de remdesivir para o tratamento de pacientes hospitalizados com Covid-19 com base principalmente nos resultados do Adaptive Covid-19 Treatment Trial (ACTT-1) e em 11 de março de 2021, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) optou por liberar o uso do medicamento para tratamento no Brasil.

Remdesivir para tratamento da Covid-19: Quando e como usar?

O remdesivir

O remdesivir consiste em um inibidor de vírus dependente de RNA-polimerase com atividade inibitória in vitro contra o SARS-CoV-1 e o vírus da Síndrome respiratória do Oriente Médio (MERS-CoV), tendo sido identificada como uma possível terapia promissora contra à Covid-19 devido à sua capacidade de inibição do SARS-CoV-2 in vitro. Além disso, em estudos com primatas não humanos, o remdesivir mostrou que em 12 horas após a inoculação com MERS-CoV, foi capaz de reduzir os níveis de vírus do pulmão e consequentes danos pulmonares.

Com base nas evidências propostas acima, a Anvisa liberou o uso do medicamento para o tratamento da Covid-19 exclusivamente em ambiente hospitalar, tornando-se o primeiro medicamento com recomendação em bula para o tratamento da doença. Baseado no estudo, na avaliação geral, as chances de melhora foram maiores no grupo remdesivir no dia 15, quando comparadas com o grupo do placebo (razão de probabilidade, 1,54; [IC de 95%, 1,25-1,91], p < 0,001). Já a avaliação de mortalidade no dia 29 foi de 11% para o grupo de rendesivir e 15% para o grupo placebo (razão de risco, 0,73; [IC de 95% 0,52- 1,02; p = 0,068).

Quando e como usar

Como citado anteriormente, o uso do remdesivir é destinado para as formas moderada e grave de Covid-19, que tenham necessidade de oxigenoterapia e com uso exclusivo em ambiente hospitalar. Os critérios de inclusão e exclusão seguem abaixo:

Critérios de inclusão:

  1. Pacientes ≥12 anos de idade ou mulher não grávida e peso corporal acima de 40 kg;
  2. Possuir infecção por SARS-CoV-2 confirmada por laboratório, conforme determinado por PCR, ou outro ensaio comercial ou de saúde pública confiável  em qualquer amostra, há < 72 horas antes da administração;
  3. Presença de pneumonia definida clinicamente e com exames de imagem;
  4. Hipoxemia definida como SpO2 ≤ 94% ou taquipneia como FR > 24 irpm e necessidade de oxigênio suplementar independente do tipo de suporte ofertado.

Critérios de exclusão:

  1. ALT/AST> 5 vezes o limite superior do normal;
  2. Doença renal crônica grave de estágio 4 ou requerendo diálise (ou seja, eGFR <30);
  3. Gravidez ou amamentação;
  4. Alergia ao Remdesivir.

Como administrar

Remdesivir 100 mg por frasco — 200 mg no primeiro dia em dose única diária, seguida de 100 mg ao dia por pelo menos 5 dias e não ultrapassando os 10 dias.

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Conclusão

O uso do remdesivir parece promissor, com respaldo em literatura internacional indexada e com baixo índice de efeitos colaterais graves, mostrando efetividade em acelerar o tempo de recuperação. Com o tempo, estudos mais robustos vão poder definir para qual lado da balança os rumos do seu uso devem andar, mas por agora, consiste em um fio de esperança que não pode ser menosprezado e pode ser ofertado ao cuidado dos pacientes internados e com necessidade de oxigenoterapia ainda na fase aguda de evolução da doença.

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