Reserva de emergência: a primeira coisa que o médico deve fazer ANTES de investir

Neste artigo gostaria de falar sobre algo que julgo de extrema importância, e que deveria ser feito antes da realização de qualquer aplicação financeira visando longo prazo.

Tempo de leitura: [rt_reading_time] minutos.

Neste artigo gostaria de falar sobre algo que julgo de extrema importância, e que deveria ser feito antes da realização de qualquer aplicação financeira visando longo prazo. Considere que o capital utilizado para investir deva ser, a priori, um dinheiro que não precisaremos até o prazo final estimado do investimento, ou seja, uma quantia que podemos abdicar agora sem prejudicar o andamento de nossas vidas e resgatá-la no futuro, acrescida de juros. O que aconteceria se no meio do caminho você perdesse o emprego? Ou necessitasse gastar com despesas médicas, ou qual qualquer revés financeiro? Você seria obrigado a fazer um empréstimo? Se desfazer da sua carteira de ações mesmo na baixa? Sair de um fundo de investimentos mesmo com prejuízo? É para isso que existe a reserva de emergência.

O que é a reserva de emergência?

Considero ela como uma espécie de “colchão de segurança”. Como o próprio nome sugere, ela serve para termos um suporte para infortúnios como diminuição de renda, acidentes, doenças, furto, eventos que infelizmente ninguém está imune. A reserva deve nos dar tempo de responder de maneira rápida até que as coisas normalizem novamente.

Tenha em mente que, apesar de ser uma reserva, e não um investimento propriamente, isso não quer dizer que devemos deixar o dinheiro dela em qualquer lugar, e nem remunerá-la de qualquer forma.

“Mas eu sou médico, caso precisar de dinheiro extra, é só eu dar alguns plantões a mais”.

Pergunte ao seu professor de faculdade/residência se era mais fácil conseguir plantão na época dele ou na sua! Além disso, como já discutido no artigo anterior, fatores como aumento da oferta de médicos e diminuição da qualidade e até mesmo da quantidade de serviços de saúde estão tornando essas ofertas de plantão um pouco menores do que já foram. E, por último, ninguém está livre de ficar temporariamente impossibilitado de trabalhar, o que para um profissional predominantemente autônomo, pode significar decréscimo importante na renda.

Quanto dinheiro devo guardar na minha reserva de emergência?

Eu sugiro um mínimo de três meses da média das suas despesas mensais com casa, carro, alimentação, e outras despesas fixas, caso seja um profissional com emprego estável e, pelo menos, seis meses caso seja predominantemente autônomo.

“Rodrigo, eu não tenho a mínima ideia de quanto eu gasto por mês”.

Nada que um pouco de organização por, pelo menos, alguns meses não resolvam (afinal, anotar todas as suas despesas, desde o aluguel até o cafezinho no meio do plantão pode se tornar uma tarefa maçante e chata. Mas acho necessário por algum período de tempo para lhe dar uma ideia de onde está indo seu dinheiro).

Hoje em dia existem diversos aplicativos para celular que te ajudam a registrar seus gastos diários. Além de você estimar seus gastos, você pode se surpreender com a quantidade de dinheiro que por ventura pode estar gastando mal com lanches e almoços que, no fim, nem são tão gostosos assim.

Caso prefira algo mais tradicional, também há várias planilhas de excel disponíveis na internet para lhe ajudar, desde modelos mais simples até mais detalhistas, a depender do perfil.

Por que você acha que eu devo fazer minha reserva de emergência antes de começar a investir?

Vamos imaginar o seguinte cenário: você é um médico com emprego estável e que tem dinheiro guardado para sustentar você e sua família pelos próximos seis meses caso perca toda sua renda, dinheiro que a princípio também deva ser suficiente para cobrir eventualidades que apareçam pelo caminho sem se endividar ou vender seus bens.

Percebe como é mais fácil investir dessa forma? Como é mais seguro? Saber que você está investindo um dinheiro que não vá fazer falta para suas necessidades e para as das pessoas que você gosta caso o perca é uma amarra que está sendo desfeita para potencializar seus resultados. Aí você pode, por exemplo, aplicar seu dinheiro no prazo que julgar melhor e aguentar períodos de baixa sem se preocupar com a chance da necessidade imediata de reaver o dinheiro.

Mais do autor: ‘Finanças pessoais – por que e como começar?’

Quais as características que a aplicação em que estou deixando minha reserva de emergência deve ter?

1) Liquidez: liquidez é a rapidez com que podemos reaver o dinheiro do investimento de volta. Sendo uma reserva voltada para emergências, não podemos esperar semanas ou meses para usarmos o dinheiro. Quanto maior a liquidez, melhor.

2) Baixo risco de mercado: significa a oscilação do investimento ao longo do tempo. Suponha que você fez uma reserva de emergência num fundo de ações e precisaria do dinheiro um dia após a delação do Joesley Batista? Deixar este dinheiro aí não parece uma boa ideia, não é mesmo?

3) Baixo risco de crédito: é o risco da insolvência do título, ou seja, de você não reaver seu dinheiro de volta. Para isso, vamos preferir títulos garantidos pelo Fundo Garantidor de Crédito (FGC, que garante até 250 mil por CPF, incluindo a rentabilidade do investimento) ou pelo governo federal.

Um investimento com alta liquidez baixo risco de mercado e baixo risco de crédito, sem dúvida, não terá a melhor rentabilidade do mercado, mas entenda que é uma forma de deixar seu dinheiro rendendo de forma segura (e isso não significa render mal, como veremos abaixo) e disponível rapidamente para eventualidades.

Quais investimentos que atendem a essas características?

1) Poupança: ainda é o investimento mais popular de qualquer brasileiro, independente do grau de instrução. É fácil de executar (basta ter uma conta no banco) e tem liquidez imediata. Com a queda da taxa SELIC (a taxa básica de juros do país) para menos que 8,5% (enquanto escrevo está em 7,4%) a poupança rende 70% do valor da SELIC + a taxa referencial ou TR (taxa usada como fator de correção monetária, utilizada para determinar o rendimento de investimentos como a poupança e financiamentos imobiliários), sua rentabilidade diminui substancialmente.

Portanto, algumas alternativas igualmente fáceis de serem dominadas são mais rentáveis e atendem aos propósitos da reserva de emergência.

2) Fundos de renda fixa: dentre os diversos perfis de fundos existentes (ações, multimercados, cambiais) estes se adéquam melhor a uma reserva de emergência, pois investem a maior parte do dinheiro em ativos conservadores. Antes de investir em qualquer fundo de investimento, independente do propósito, leia atentamente o prospecto do fundo, que nada mais é do que uma espécie de manual de instruções do fundo, onde fala sobre a sua política de investimento, taxa de administração, liquidez, aplicação mínima de entrada, retirada mínima, etc. Apesar dos fundos possuírem características semelhantes, eles costumam ser bastante heterogêneos entre si (inclusive entre os fundos de renda fixa), e você, se optar por este tipo de investimento, deve escolher pelo que mais lhe agrade, e isso pode demandar um pouco de tempo.

Com a SELIC no valor em que está os fundos mais conservadores estão remunerando de forma muito semelhante ou até pior do que a caderneta de poupança. Isso decorre porque este perfil de fundo remunera de forma muito próxima ao CDI (Certificado de Depósito Interbancário, a taxa de juros praticada entre instituições financeiras, por exemplo, de um banco para outro. Hoje está em 7,39%, sempre muito próxima da SELIC), mas ao retirar o dinheiro deles nós precisamos descontar o imposto de renda e a taxa de administração do fundo (valor pago ao administrador que geralmente varia entre 0,5-3% ao ano, sendo descontado mensalmente do valor líquido) do nosso lucro.

Vale lembrar que os fundos de investimento não são garantidos pelo FGC.

3) CDB com liquidez diária: os Certificados de Depósito Bancário são títulos de dívida emitidos por instituições financeiras para se capitalizarem. De forma mais simples, você empresta dinheiro para uma instituição financeira em troca de juros, que podem ser pré-fixados (por exemplo, 10% ao ano), pós fixados (100% do CDI ao ano) ou atrelados ao IPCA (índice que mede a inflação do país. Por exemplo, IPCA + 5% ao ano). Este tipo de investimento é uma forma bem interessante de reserva de emergência, pois remunera relativamente bem, é garantido pelo FGC e tem liquidez. O contra é que para entrar em bons CDBs geralmente é necessário um valor mínimo (que pode variar de 3 mil a até 100 mil reais) e os valores mínimos de retirada também costumam ser um pouco mais altos.

Baixe grátis nosso e-book com um guia de investimento para médicos

4) Tesouro SELIC: esta é minha modalidade favorita para a reserva de emergência. Como citei no artigo anterior, o tesouro direto é um programa do tesouro nacional em que você empresta dinheiro para o governo por determinado prazo em troca de juros. O tesouro SELIC (também chamado de LFT) é o título que possui sua rentabilidade totalmente atrelada à taxa SELIC.

É considerado um título “soberano”, por ser garantido pelo governo federal, sendo, portanto, mais seguros do que os assegurados pelo FGC no que tange ao risco de crédito, já que não são somente investidores pessoa física que fazem esse tipo de aplicação, mas principalmente grandes instituições financeiras nacionais e estrangeiras. O pagamento deste título por parte do governo é parte essencial para a credibilidade do país.

Para investir no tesouro direto é necessário estar vinculado a uma instituição financeira (no site do tesouro tem um ranking de instituições com relação as taxas aplicadas por elas para esta aplicação. Procure uma com taxa zero!), e então você pode aplicar pelo próprio site da instituição ou diretamente pelo site do tesouro.

Tesouro SELIC rende mais que a poupança? Sim! O pagamento de 70% da SELIC + TR para a poupança se SELIC menor ou igual a 8,5% é estratégico para que a poupança renda sempre menos que o valor da SELIC. Senão, investidores de fora aplicariam seu dinheiro em poupança aqui no Brasil, e não em títulos do governo, não é verdade?

Contudo, fique atento à tributação do título, pois ela pode deixar o seu lucro não tão vantajoso assim. Quanto mais tempo deixar a aplicação, menor a taxa de IR a ser pago (até 15% se a partir de 721 dias do investimento), o que potencializa o retorno em caso de retirada. Mais um motivo para mexer na sua reserva somente em emergências.

Qual a liquidez do tesouro direto? Em no máximo três dias úteis após a venda do título, o dinheiro estará na sua conta.

Por que especificamente o tesouro SELIC? O tesouro direto não é livre de risco de mercado (a oscilação do ativo) caso seja feita a venda antecipada do título (que é o que pode vir a acontecer na reserva emergencial). Por exemplo, imagine o título do tesouro que pague hoje 10% ao ano, pré-fixado (LTN). Se a SELIC hipoteticamente subir para 15%, nossa LTN não é mais tão interessante assim, não é mesmo? Ao vender o título antes do vencimento, você não terá garantia de que recebera o valor esperado de 10% ao ano proporcional ao tempo em que ficou com o título. Logo, esta variação não é bem-vinda para emergências.

Ainda tem muito mais a falar sobre tesouro direto, e sobre todas as outras aplicações citadas (certamente ainda serão tema de artigo!). Espero que as dicas tenham sido úteis para suas decisões em investimentos.

Dúvidas? Sugestões? Deixe seu comentário aqui embaixo!

É médico e também quer ser colunista da PEBMED? Clique aqui e inscreva-se!

Avaliar artigo

Dê sua nota para esse conteúdo

Selecione o motivo:
Errado
Incompleto
Desatualizado
Confuso
Outros

Sucesso!

Sua avaliação foi registrada com sucesso.

Avaliar artigo

Dê sua nota para esse conteúdo.

Você avaliou esse artigo

Sua avaliação foi registrada com sucesso.

Baixe o Whitebook Tenha o melhor suporte
na sua tomada de decisão.