Residência Médica: por que estudar resolvendo questões é tão essencial?

Desde que começamos no curso preparatório, professores nos dizem que resolver questões e fazer simulados é fundamental para aprovação na residência médica.

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Desde que começamos nosso curso preparatório, professores constantemente nos dizem que resolver questões e fazer simulados é fundamental para aprovação na residência médica, o que é absolutamente inegável. Afinal, todos nós conhecemos a importância de saber nossos pontos fortes e fracos, sem falar na adaptação ao cansaço de resolver uma prova longa em poucas horas.

Mas será que esses são o maior benefício de se testar? E como você poderia extrair ainda mais vantagens dessa técnica?

O evento da resolução de questões é estudado na psicologia cognitiva há mais de 100 anos, sendo denominado de “Efeito Teste”. Mas a ideia da importância de se testar é mais antiga ainda. Em 1620, Bacon escreveu:
“Se você ler um pedaço de texto por vinte vezes, não o aprenderá de cor tão facilmente como se tivesse lido dez vezes enquanto tentava recitar de tempos em tempos e consultando o texto quando sua memória falhasse. ‘’

Muitos de nós resolvemos questões para verificar nosso nível de aprendizado em determinado assunto. Caso esse nível esteja abaixo do desejado, reestudamos o conteúdo para melhorar o resultado. Parece bem lógico, correto? Porém nosso cérebro não trabalha desta forma… Estudos como Roediger, Karpicke (2006) demonstram que podemos obter um melhor resultado se continuarmos nos testando (resolvendo questões, flash cards ou escrevendo tudo o que lembramos em uma folha em branco) em vez de reestudarmos o conteúdo.

Leia mais: Como estudar para a prova de residência médica

Roediger e Karpicke (2006) realizaram um estudo no qual os alunos tinham que aprender um de dois temas em uma de três situações (S=Estudo, T=Teste): estudos repetidos (SSSS), único teste (SSST) ou testes repetidos (STTT). Todos os candidatos foram avaliados depois de cinco minutos e após sete dias.

Proporção média de unidades de ideia evocadas no teste final após um intervalo de retenção de 5 min ou 1 semana em função da condição de aprendizagem (SSSS, SSST ou STTT) no Experimento

“Então, se eu errar questões, devo continuar me testando em vez de retornar à apostila ou rever a aula? Eu não vou aprender errado? Quando eu estudo após resolver as questões eu sinto que aprendi mais…” Pois é, essa é a palavra chave, “sentir”. Ao reler um conteúdo, ou assistir a uma aula, estamos criando uma memória de curto prazo, que nos garante a sensação de aprendizado. Porém, como estudamos de forma passiva, em poucos minutos esse conteúdo será novamente esquecido. Quando nos testamos, estamos estudando de forma ativa, nosso cérebro está realmente raciocinando. Ou, de forma mais técnica, o “Efeito Teste” pode ser devido ao aumento de rotas de evocação de nossa memória (Bjork 1988).

Agora tudo começa a fazer mais sentido, pois dificilmente esquecemos as questões que erramos e frequentemente nem lembramos do que se tratavam as questões que acertamos. A esse efeito damos o nome de “dificuldade desejada”. Então, quanto mais questões eu fizer, mais oportunidades eu terei de estudar ativamente durante a resolução da questões e no entendimento de suas resoluções/comentários.

Mas lembremos, nosso foco não é memorizar um assunto por uma semana, e sim por meses ou até anos. Então devemos resolver questões de forma espaçada, para que criemos memória a longo prazo e aumentemos nossa confiança nos assuntos estudados.

Para melhor aproveitar os benefícios do efeito teste, crie a rotina de, após estudar, resolver questões daquele tema por algumas semanas. Não precisa ficar ansioso e resolver todas as questões da apostila de uma vez… Dedique-se a resolver algumas questões por dia, de forma atenta. E, quando errar ou tiver dúvida, espere acabar todas as questões para buscar o por quê do seu erro.

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Referências:

  • AGARWAL, Pooja K. et al. Examining the testing effect with open‐and closed‐book tests. Applied Cognitive Psychology: The Official Journal of the Society for Applied Research in Memory and Cognition, v. 22, n. 7, p. 861-876, 2008.
  • BJORK, Robert A. Retrieval practice and the maintenance of knowledge. Practical aspects of memory: Current research and issues, v. 1, p. 396-401, 1988.
  • ROEDIGER III, Henry L.; KARPICKE, Jeffrey D. Test-enhanced learning: Taking memory tests improves long-term retention. Psychological science, v. 17, n. 3, p. 249-255, 2006.

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