Ressuscitação cardiopulmonar em gestantes: o que muda?

“Parada cardiorrespiratória” e “gestação” são palavras que, quando colocadas na mesma frase, soam ainda mais aterrorizantes.

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Parada cardiorrespiratória” e “gestação” são palavras que, quando colocadas na mesma frase, soam ainda mais aterrorizantes. Felizmente, esta associação não é muito comum: estima-se que a frequência de PCR em gestantes seja em torno de 1:12.000 nos Estados Unidos e Canadá. As causas são diversas e podem ou não ser diretamente relacionadas à gestação, tais como hipertensão, fenômenos embólicos, sepse, complicações anestésicas, trauma e hemorragia. A mortalidade materna varia de 30-80% e a fetal é de cerca de 60%.

Existem diversas particularidades em relação ao manejo da PCR nessa população em comparação com não-gestantes. Isso se deve principalmente às modificações da gravidez no organismo materno que, embora fisiológicas, acabam por dificultar algumas das manobras de ressuscitação cardiopulmonar (RCP). Cabe ao profissional conhecer tais particularidades e saber contorná-las, a fim de melhorar a resposta às manobras de RCP.

A compressão da aorta e da veia cava pelo útero gravídico, principalmente após a 20a semana de gestação, reduz o retorno venoso, o débito cardíaco e a eficácia das compressões torácicas durante a RCP. A reserva pulmonar diminuída, aumento no consumo de oxigênio e o deslocamento do diafragma pelo útero traz dificuldades à ventilação, com um maior risco de broncoaspiração. Há, também, um risco aumentado de hemorragias devido ao estado hiperdinâmico.

Identificada a PCR, as manobras devem ser iniciadas imediatamente. Devem ser efetuadas compressões torácicas, com a paciente em decúbito dorsal, após lateralização do útero para a esquerda, ou com a paciente sobre superfície rígida ligeiramente inclinada, a fim de melhorar o retorno venoso. No que diz respeito à ventilação, deve-se manejar a gestante como uma paciente com via aérea difícil. Desfibrilação ou administração de drogas endovenosas por acesso calibroso supra-femoral não devem ser atrasados, quando indicados. As drogas e as doses utilizadas são as mesmas para a população não grávida. Deve-se também tentar identificar e reverter a causa da PCR o mais rápido possível.

Pelo fato de gestantes se tornarem anóxicas mais precocemente do que a população geral, elas estão predispostas a sofrer danos cerebrais irreversíveis após 4-6 minutos de PCR. Caso não seja restabelecido o pulso materno após 4 minutos de RCP, está indicada a cesariana perimortem como parte da reanimação. Esta medida é válida se o fundo uterino estiver na altura da cicatriz umbilical ou acima dela (idade gestacional acima de 20 semanas), independentemente da vitalidade fetal. O nascimento deve ocorrer no 5o minuto.

É recomendada laparotomia com incisão vertical e histerotomia clássica em função da facilidade e rapidez do acesso. Alguns estudos observaram restabelecimento do pulso e da pressão arterial imediatamente após o nascimento, pela melhora da resposta às manobras de reanimação, que devem ser mantidas mesmo durante o procedimento. Embora a cesariana perimortem possa melhorar o desfecho neonatal, este não é seu principal objetivo, não sendo indicada, portanto, a monitorização do bem estar fetal durante a RCP materna.

LEIA MAIS: Insuficiência Cardíaca na Gestação – diagnóstico e tratamento

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