Risco de morte por febre amarela pode ser identificado mais cedo

Estudo lançado na revista The Lancet identificou e descreveu os preditores de morte medidos na admissão hospitalar de pacientes com febre amarela.

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A cada cem pessoas picadas por mosquitos infectados com o vírus da febre amarela, cerca de 10% irão desenvolver os sintomas da doença. Embora a maioria dos infectados com o vírus da febre amarela não desenvolva a enfermidade, cerca de 30% dos pacientes sintomáticos acabam morrendo.

Um estudo identificou e descreveu os preditores de morte medidos na admissão hospitalar. Foi feito a partir de uma coorte de pacientes internados durante o surto de febre amarela de 2018 na periferia da cidade de São Paulo. Ele foi publicado em artigo na revista The Lancet Infectious Diseases e liderado por Esper G. Kallas, professor titular do Departamento de Moléstias Infecciosas e Parasitárias da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), 

Metodologia

Neste estudo de coorte observacional, foram incluídos pacientes com o vírus da febre amarela de dois hospitais em São Paulo: o Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo e o Instituto de Doenças Infecciosas Emílio Ribas.

Noventa e cinco pacientes com suspeita de febre amarela foram incluídos no estudo, e 136 pacientes foram excluídos. Três (3%) dos 95 pacientes com suspeita de febre amarela que foram incluídos no estudo foram excluídos porque receberam um diagnóstico diferente. E 16 pacientes com RNA indetectável da febre amarela foram excluídos.

Por conseguinte, 76 com infecção confirmada pelo vírus da febre amarela, com base no vírus do vírus da febre amarela detectável no sangue (74 doentes) ou no vírus da febre amarela confirmados apenas no relatório da autópsia (dois doentes), foram incluídos na análise. Vinte e sete (36%) dos 76 pacientes morreram durante o período de 60 dias após a internação hospitalar.

Veja também: Febre amarela: veja 5 mitos e verdades sobre a doença

Foram gerados 14 genomas completos do vírus da febre amarela das primeiras 15 amostras detectáveis ​​pela carga viral. Os genomas pertenciam a um único clado monofilético do genótipo da América do Sul, sub-genótipo E.

Alguns fatores foram associados a maior mortalidade. Dentre eles, idade avançada, sexo masculino, maior contagem de leucócitos e neutrófilos e maior alanina aminotransferase. Além disso, aspartato transaminase (AST), bilirrubina e creatinina, tempo prolongado de protrombina e maior carga viral plasmática de RNA do vírus da febre amarela também contribuíram para esse desfecho. 

Em um modelo de regressão multivariado, idade mais avançada, contagem de neutrófilos aumentada, AST aumentada e carga viral maior permaneceram independentemente associados à morte. 10 cópias / mL ou mais morreram (IC95% 72–100), em comparação com apenas três (11%) de 27 (IC95% 2–29) entre pacientes com contagens de neutrófilos de menos de 4000 células por mL e cargas virais de menor que 5 · 1 log 10 cópias / mL.

Saiba mais: Quais são os preditores de mortalidade em pacientes com febre amarela?

Marcadores

Foram identificados preditores clínicos e laboratoriais de mortalidade na internação hospitalar que poderiam auxiliar no atendimento de pacientes com vírus da febre amarela. A identificação desses marcadores prognósticos em pacientes pode ajudar os médicos a priorizarem a internação na unidade de terapia intensiva, pois os pacientes frequentemente se deterioram rapidamente.

Os achados do estudo apoiam o importante papel do vírus na patogênese da doença. Com isso, sugerem que um antiviral eficaz poderia alterar o curso clínico para pacientes com as formas mais graves de febre amarela.

Os pesquisadores identificaram que a febre amarela tende a se agravar em relação ao aumento da idade do paciente. A contagem de neutrófilos elevada, o aumento da enzima hepática AST (aspartato aminotransaminase) e a maior carga viral também estão associados ao risco de morte. Todos os 11 pacientes com contagem de neutrófilos igual ou superior a 4 mil células/ml e carga viral igual ou superior a 5.1 log10 cópias/ml (ou seja, 125 mil cópias do vírus por mililitro de sangue) morreram, em comparação com apenas três mortes entre os 27 pacientes com contagens de neutrófilos menor que 4.000 células/ml e cargas virais de menos de 5.1 log10 cópias/ml (menos de 125 mil cópias/ml).

“O organismo pode estar tentando combater alguma outra coisa que não é o vírus da febre amarela. Acreditamos que a multiplicação do vírus nas células do intestino possa estar permitindo a passagem de bactérias que vivem no intestino para a corrente sanguínea. Essa poderia ser a razão para o acionamento do sistema imune e o aumento na produção de neutrófilos. Outra possibilidade é que a resposta imune estaria desequilibrada no paciente, o que pioraria o seu quadro de saúde”, afirmou Kallás.

Outro marcador de gravidade é o aumento da carga viral no sangue dos pacientes. Por outro lado, os pesquisadores constataram que a icterícia na pele dos doentes não é um marcador de gravidade no momento da entrada do paciente no hospital.

Esse estudo representa um avanço muito importante para a medicina, uma vez que a identificação de marcadores prognósticos em pacientes pode ajudar os médicos a priorizar a internação na unidade de terapia intensiva.

*Esse artigo foi revisado pela equipe médica da PEBMED

 

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