Segurança das vacinas contra Covid-19 em pacientes com doenças inflamatórias crônicas

Resumo de um artigo recente sobre a eficácia e segurança da vacinação contra Covid-19 em pacientes com doenças inflamatórias crônicas.

A Covid-19 continua causando muitas mortes por todo mundo, e o Brasil é um dos principais epicentros atuais da pandemia. Pacientes com doenças reumáticas imunomediadas (DRIM) são considerados de risco para adquirir a doença e apresentar uma evolução mais desfavorável. Em um outro texto para o portal PEBMED, apresentei um artigo sobre os fatores de risco associados à morte por Covid-19 em pacientes com doenças reumáticas. Neste, vou apresentar um resumo de um artigo recém-publicado sobre a eficácia e segurança da vacinação contra Covid-19 nessa população específica.

Para endereçar essa questão, Geisen et al. publicaram um estudo observacional monocêntrico que incluiu pacientes com DRIM que receberam vacinas com vetores virais (mRNA da BioNtech/Pfizer ou Moderna).

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Segurança das vacinas contra Covid-19 em pacientes com doenças inflamatórias crônicas

Metodologia

Os pacientes incluídos receberam vacinas com vetores virais (mRNA BioNtech ou Moderna), conforme o programa de vacinação oficial da Alemanha. Controles voluntários foram selecionados a partir de profissionais de saúde da University Medical Center em Kiel; já os pacientes com DRIM foram obtidos do setor de reumatologia ambulatorial de Kiel. As duas doses foram aplicadas com 35 dias de intervalo, exceto no caso de pacientes acima de 80 anos, que as receberam com intervalo de 21 dias.

Foram incluídos 26 pacientes com DRIM e 42 controles saudáveis. Desse total, 5 receberam a vacina da Moderna, enquanto que o restante recebeu a vacina da BioNtech/Pfizer.

Os pacientes foram monitorados quanto ao surgimento de atividade de doença com instrumentos específicos e inespecíficos, como DAS28, avaliação global do médico e do paciente, antes a primeira dose, 7 dias após a primeira dose, no dia da segunda dose e 7 dias após a segunda dose. Se houvesse reativação, os pacientes seriam reavaliados em uma avaliação adicional. Com relação à segurança, todos os sujeitos incluídos foram acompanhados até 14 dias após a aplicação da segunda dose.

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A resposta imunológica foi avaliada através da dosagem de anticorpos IgG e IgA contra o SARS-CoV-2 e da pesquisa de anticorpos neutralizantes. As amostras de sangue para essa avaliação foram coletados no dia da primeira dose, no dia da segunda dose e 7 dias após a segunda dose.

Resultados

No grupo controle, a maioria era do sexo feminino (69,2%), com idade média de 37,5±13,4 anos; já no grupo de pacientes com DRIM, 64,3% eram do sexo feminino, com idade média de 50,5±1,58 anos.

Dentre as doenças incluídas na análise, temos: artrite reumatoide, artrite psoriásica/psoríase, outras espondiloartrites, doença de Crohn, lúpus eritematoso sistêmico, miopatia inflamatória, doença mista do tecido conjuntivo, arterite de células gigantes, sarcoidose, esclerose múltipla. Apenas 6 desses pacientes não estavam em uso de alguma terapia biológica, 8 estavam em uso de DMARD sintético convencional (hidroxicloroquina, leflunomida, sulfassalazina e azatioprina) e 7 estavam em uso de prednisolona (apenas 1 com dose acima de 7 mg/dia).

Todos os sujeitos incluídos apresentaram produção de anticorpos após vacinação, com detecção de IgG e IgA acima dos cutoffs dos kits e detecção de anticorpos neutralizantes. Apesar disso, os títulos de IgG encontrados nos pacientes com doenças reumáticas imunomediadas (DRIM) foi menor do que aqueles observados nos controles normais (2053±1218 vs. 2685±1102, p = 0,037). O mesmo aconteceu para os títulos de IgA (24,52±30,48 vs. 47,65±45,12, p = 0,0035) e anticorpos neutralizantes (nível de atividade inibitória 87,42±17,94 vs. 96,04±1,551, p = 0,0442). Vale ressaltar que os autores não encontraram diferenças significativas nos níveis de IgG após controle para os grupos etários. Com relação à medicação utilizada, não houve diferença na resposta vacinal de acordo com as drogas utilizadas.

Os pacientes com DRIM apresentaram uma maior tendência a relatarem eventos adversos menores do que os controles saudáveis, como fadiga (53,8% vs. 43,2%) e mialgia (42,3% vs. 31,6%). Já a febre foi mais relatada no grupo saudável (13,5% vs. 0 no grupo DRIM).

Os pesquisadores não observaram um incremento na atividade de doença após a vacinação. Nenhum paciente necessitou de ajuste de medicações após a vacinação.

Comentários

Esses são os primeiros dados publicados com relação à eficácia laboratorial e segurança das vacinas contendo vetores virais em pacientes com DRIM. Pode-se dizer que, nesse pequeno estudo observacional, não foi encontrada nenhuma questão que preocupe quanto à segurança. Além disso, a resposta imunológica foi satisfatória no grupo dos pacientes com DRIM.

A principal limitação desse estudo é o seu pequeno tamanho amostral, que aumenta a chance de erro do tipo 2. Ademais, foi conduzido em apenas um centro, o que limita sua validação externa.

Desse modo, novos e maiores estudos são necessários e já estão sendo conduzidos em vários centros. Por ora, os dados apresentados indicam que vacinas com vetores virais parecem imunogênicas e seguras em pacientes com DRIM.

Referências bibliográficas:

  • Geisen UM, Berner DK, Tran F, et al. Immunogenicity and safety of anti-SARS-CoV-2 mRNA vaccines in patients with chronic inflammatory conditions and immunosuppressive therapy in a monocentric cohort. Ann Rheum Dis. 2021. doi:10.1136/annrheumdis-2021-220272.

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