Setembro Amarelo: o que podemos refletir a partir do suicídio de celebridades?

Neste mês, a Associação Brasileira de Psiquiatria lança o tema “Setembro Amarelo” para chamar a atenção sobre a prevenção do suicídio. Saiba mais:

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Neste mês, a Associação Brasileira de Psiquiatria lança o tema “Setembro Amarelo” para chamar a atenção sobre a prevenção do suicídio. Este ano, a morte de pelo menos dois artistas chamou a atenção no mundo: a estilista Kate Spade e o chefe de cozinha Anthony Bourdain. Outro caso famoso e frequentemente lembrado é do ator Robin Williams, morto em agosto de 2014.

Através destes 3 casos, vamos revisar e discutir um pouco este tema difícil, cercado de tabus e sofrimento. O caso do músico Avicii não será abordado, pois ainda não há material científico suficiente sobre o desdobramento de sua situação.

Kate Spade

Kate Spade era uma conhecida estilista. Discreta sobre seu sofrimento, após a morte, o marido revelou que Kate fazia tratamento para transtorno depressivo e ansiedade há 5 anos. A irmã informou que Kate não buscava ajuda com medo de que isso repercutisse na marca que levava seu nome.

Na internet, Claudia Herrera publicou um tributo à artista, declarando que sabia que diversas pessoas famosas tinham câncer ou outras doenças crônicas, mas que desconhecia a depressão de Kate. Ela conclui dizendo que hoje é mais aceitável falar de câncer de mama e de testículo do que da mente. A partir disso, houve um questionamento nas mídias sobre o estigma que afeta os transtornos mentais.

Anthony Bourdain

Anthony Bourdain era um renomado chefe de cozinha, além de escritor e influenciador. Contudo, Bourdain era muito aberto sobre os transtornos mentais que lhe acometiam, especialmente a depressão e o uso de substâncias como cocaína, heroína, LSD, álcool e tabaco.

Robin Williams

Robin Williams era um famoso ator americano que atuou em diversos filmes e programas de sucesso. A ocasião de sua morte causou grande comoção. Ao longo da carreira, Williams tinha feito uso de cocaína por alguns anos e de álcool por mais tempo, além de ter sofrido com o transtorno depressivo, chegando a falar publicamente sobre o assunto.

Contudo, familiares dizem que o ator nunca havia expressado pensamentos ou comportamentos suicidas. O artista também lidava com problemas financeiros decorridos, dentre outras causas, de dois processos de divórcio. Próximo à sua morte, Williams havia sido diagnosticado com sintomas de parkinsonismo (Parkinson-like), piorando os problemas anteriores. Relatórios médicos referentes a um período pouco anterior ao falecimento revelaram sintomas paranoicos e alucinações. No relatório final da necrópsia, concluiu-se que Robin Williams sofria de demência por corpos de Lewy.

Leia mais: Setembro Amarelo: porque precisamos discutir o suicídio

setembro amarelo

Discussão

Em junho deste ano, o Centers for Disease Control and Prevention (CDC) publicou uma nota indicando que as taxas de suicídio aumentaram em 25,4% nos EUA entre 1999 e 2016. A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que ocorra um suicídio a cada 40 segundos no mundo. E tudo indica que, para cada indivíduo que comete suicídio, há outras 20 pessoas tentando terminar com suas vidas. Nos casos em que não há letalidade, o paciente pode ficar com sequelas permanentes. Nos EUA, esta é a 10ª causa de morte e, no mundo é a 17ª.

Alguns transtornos mentais ganham destaque como fatores de risco para suicídio, como o transtorno depressivo maior, o transtorno afetivo bipolar, a esquizofrenia, o transtorno de personalidade borderline e os transtornos por uso de álcool e outras substâncias. Problemas financeiros também são fatores de risco para depressão e suicídio. O risco aumenta conforme há mais comorbidades associadas ao quadro inicial. Algumas das formas mais comuns de suicídio envolvem enforcamento, envenenamento e armas de fogo. As tentativas são mais comuns entre jovens e no sexo feminino, mas os homens têm maior sucesso no ato quando tentam se matar.

Fatores de proteção envolvem suporte familiar e de amigos, assim como a religiosidade, espiritualidade e a fé. É importante desenvolver o bem-estar social e estratégias de enfrentamento para o paciente. Os profissionais de saúde, especialmente médicos, devem estar atentos aos pacientes com ideação suicida. É importante o estudo dos principais fatores de risco e de proteção a fim de melhorar a identificação e abordagem. A psicoeducação também merece destaque, pois é possível reconhecer sinais ao ouvirmos o discurso dos familiares, orientando-os depois sobre como agir.

Conclusão

Os principais fatores de risco para suicídio envolvem questões de interação social, biológicas e ambientais. Alguns dos principais transtornos mentais envolvidos são o transtorno depressivo maior, o alcoolismo e o abuso de outras substâncias, assim como problemas financeiros e nos relacionamentos.

Vários países já desenvolveram estratégias para lidar com este problema, incluindo o “Prevention of suicide: guidelines for the development and application of national strategies” (tradução livre: Prevenção do suicídio: diretriz para o desenvolvimento e aplicação de estratégias nacionais) feito pelas Nações Unidas. Infelizmente, apesar dessas medidas, os índices continuam a aumentar. Por isso é importante que médicos, enfermeiros, psicólogos e demais profissionais de saúde suspeitem e identifiquem os transtornos mentais, fazendo as devidas avaliações e encaminhamentos necessários para orientar os pacientes e suas famílias.

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Referências:

  • Tohid H. Robin Williams’ suicide: a case study. Trends Psychiatry Psychother. vol.38 no.3 Porto Alegre July/Sept. 2016.
  • Abubucker S. Reflections on the Spade and Bourdain Suicides. The American Journal of Psychiatry – Residents’ Journal; Published Online: 1 Sep 2018. (https://doi.org/10.1176/appi.ajp-rj.2018.130904)

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