Setembro Amarelo: quais os efeitos da pandemia de Covid-19 na saúde mental?

Em um ano de pandemia de Covid-19, não tem como o Setembro Amarelo passar em branco. A saúde mental precisa estar em voga.

Em um ano de pandemia de Covid-19, não tem como o Setembro Amarelo passar em branco. A saúde mental durante um momento como esse, que ainda exige distanciamento social, precisa estar em voga. No geral, o aumento de transtornos psiquiátricos como ansiedade, depressão e sintomas de estresse pós traumático, em tempos de epidemias parece estar bem estabelecido.

Em pesquisa superficial na plataforma Pubmed com os termos ansiedade e Covid-19, restritos ao título, aparecem 196 artigos publicados, o que evidencia a preocupação acerca do tema, uma vez que são necessários dados sobre o perfil e a magnitude da situação para produção de estratégias de abordagem voltadas para população afetada, principalmente no contexto atual no qual muitos profissionais e clínicas trabalham em esquema de horário reduzido.

médica conversando com paciente com saúde mental afetada pela covid-19

Saúde mental e pandemia de Covid-19

Estudos apontam que sintomas psiquiátricos, incluindo os já mencionados, foram relatados entre paciente com SARS-CoV tanto durante quanto após a epidemia de SARS em 2002, bem como entre profissionais de saúde e o público geral, incluindo período de curto e longo prazo – entre 1 e para além de 30 meses após a epidemia.

Porém, muitas vezes os estudos realizados utilizam-se de ferramentas tradicionais para coleta de dados – como pesquisa por telefone e registros médicos, o que pode acarretar demora na produção científica, bem como viés de seleção, uma vez que excluem parte da população que não procura atendimento médico, por exemplo.

O JAMA Network publicou uma Carta de Pesquisa (Research Letter) em agosto na qual pesquisadores da Division of Infectious Diseases and Global Public Health do Departamento de Medicina da Universidade da Califórnia, em San Diego, examinaram pesquisas na internet indicativas de ansiedade aguda durante o início da pandemia de Covid-19 nos Estados Unidos. Eles analisaram dados públicos agregados não identificáveis.

Leia também: A saúde mental de gestantes e puérperas durante a pandemia de Covid-19

A busca baseada em ansiedade aguda teve a maior prevalência em relação a outras afecções psiquiátricas; além disso, ela pode ser precursora de outras doenças mentais – como depressão, por exemplo -, estar seu aparecimento ligado a estressores externos e ser socialmente ‘contagiosa’.

Através do Google Trends eles monitoraram as pesquisas da seguinte forma:

  • Termos de busca: ansiedade e pânico em combinação com ataque, bem como sinais de ataque de ansiedade e sintomas de ataque de ansiedade;
  • Local e período: O EUA de 1º de Janeiro de 2004 até 4 de Maio de 2020.

O objetivo foi comparar os volumes de pesquisa depois de declarada emergência nacional pelo Presidente Trump em 13 de Março de 2020 com os volumes de pesquisa esperados caso a pandemia não ocorresse, levando em conta a tendência histórica e periodicidade dos dados.

Estratégias para cálculo dos volumes esperados e previsão de tendências contrafactuais foram realizadas em cima de um modelo de média móvel integrado e auto regressivo e foram calculados usando software estatístico R.

Em resumo, na comparação houve aumento nas consultas sobre ansiedade aguda no período entre 16 de Março e 14 de Abril. Abaixo, quadro com os resultados e a relação com acontecimentos importantes nos EUA acerca da pandemia.

Resultados Taxa de aumento Correlação
28/03/20: maior aumento nas consultas 52% (95% PI, 27% -81%) EUA ultrapassam China como maior número de casos
16/03/20 – 14/04/20: período de maior aumento 17% cumulativo (IC 95%, 13% -22%) Imposição de diretrizes de distanciamento social
CDC recomendam uso de máscaras
EUA ultrapassam Itália em número de mortes
15/04/20: retorno aos intervalos previstos X X

Ouça também: Saúde mental dos profissionais em tempos de coronavírus [podcast]

Conclusões

Em relação ao padrão de aumento inicial de consultas com posterior queda a níveis esperados, propõe-se que os americanos tenham se “acostumado” com o novo contexto em que vivemos atualmente ou que as pesquisas iniciais tenham trazido todas as informações cabíveis ao contexto virtual.

Três questões são bem pontuadas pelos autores.  O monitoramento constante acerca do tema deve ser feito uma vez que com o decorrer da pandemia novas necessidades populacionais podem surgir. É importante a criação de vias acessíveis, ou seja, rápidas e práticas, que auxiliem aqueles que precisam lidar com a ansiedade aguda, bem como as ferramentas que façam o link entre estes e a ajuda ofertada.

Fica claro que apesar de não podermos inferir que as pesquisas por ansiedade aguda foram motivadas especificamente por episódios específicos de ansiedade, os dados coletados através deste mecanismo fornece evidências dos efeitos psicológicos indiretos do Covid-19, podendo orientar recomendações e políticas de combate e auxílio à população.

Logo, a busca de informações utilizando a internet mostra-se como uma alternativa ágil e amplamente disponível para coleta dos dados e monitoramento dos efeitos colaterais do Covid-19 no aspecto psicossocial.

Referências bibliográficas:

  • Vindegaard, Nina, and Michael Eriksen Benros. “COVID-19 pandemic and mental health consequences: Systematic review of the current evidence.” Brain, behavior, and immunity, S0889-1591(20)30954-5. 30 May. 2020, doi:10.1016/j.bbi.2020.05.048
  • Ayers JW, Leas EC, Johnson DC, et al. Internet Searches for Acute Anxiety During the Early Stages of the COVID-19 Pandemic. JAMA Intern Med. Published online August 24, 2020. doi:10.1001/jamainternmed.2020.3305

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