Síndrome compartimental crônica do exercício: um desafio diagnóstico

A síndrome compartimental crônica (SCC) é uma condição subdiagnosticada sendo a segunda causa mais frequente de dor crônica na perna.

A síndrome compartimental crônica (SCC) é uma condição comum e frequentemente subdiagnosticada que corresponde à segunda causa mais frequente de dor crônica na perna relacionada ao exercício, perdendo apenas para a síndrome do estresse tibial medial.

Tradicionalmente ocorre em jovens atletas corredores, porém, com o aumento do número de praticantes de corrida observado nos últimos anos, é cada vez mais frequente em pacientes que fazem atividade física de baixo rendimento e naqueles de meia-idade.

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Características

A síndrome é caracterizada por dor, normalmente bilateral, induzida pelo exercício, e que cessa imediatamente ou após alguns minutos de descanso. Ocorre pelo aumento do volume muscular durante o exercício associado à diminuição da complacência do compartimento afetado. Esse desequilíbrio na relação conteúdo/continente levaria à elevação suprafisiológica da pressão tecidual e à redução do retorno venoso, que seriam responsáveis por desencadear o quadro doloroso. Pode ocorrer em qualquer segmento corporal que tenha pouca capacidade de expansão, sendo amplamente mais comum nas pernas, acometendo principalmente os compartimentos anterior e lateral (95% dos casos).

A lista de diagnósticos diferenciais é extensa e inclui a síndrome do estresse tibial, lesões musculares e tendíneas crônicas, hérnias musculares, aprisionamentos arteriais ou neurais e trombose venosa relacionada ao exercício.

A distinção entre essas patologias é um desafio, uma vez que elas podem coexistir, além de apresentarem sintomatologia semelhante, sendo sempre necessários exames complementares. Há consenso na literatura de que a ressonância magnética da perna com protocolo convencional é o melhor método para exclusão dos diagnósticos diferenciais, mas outros exames podem ser incluídos na investigação, conforme a suspeita clínica.

A manometria por agulha ainda é considerada o padrão-ouro para a confirmação diagnóstica da SCC, porém seu uso é bastante questionado visto que é um método com várias limitações, como a baixa reprodutibilidade dos protocolos existentes, estudos com baixos níveis de evidência e a disponibilidade limitada do equipamento apropriado, sobretudo no Brasil.

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Diante deste contexto, protocolos de ressonância magnética (RM), com aquisições de imagem pré e pós-esforço com uso de sequências sensíveis a líquido, têm emergido como uma ótima opção para o diagnóstico da SCC. Além de ser um método não invasivo, é facilmente reprodutível, bem aceito pelos pacientes e com boa disponibilidade nos grandes centros. Enquanto os protocolos convencionais de RM (apenas com sequências pré esforço) são úteis sobretudo para a exclusão dos diagnósticos diferenciais, estudos recentes têm demonstrado que protocolos específicos com aquisição de sequências ponderadas em T2 com supressão de gordura ou STIR, imediatamente após realização de esforço físico, apresentam boa sensibilidade, especificidade (96% e 90%, respectivamente) e correlação com a manometria para o diagnóstico da SCC. As alterações mais comumente encontradas nessas sequências são o aumento do volume compartimental, o abaulamento da membrana interóssea e aumento da intensidade de sinal muscular, sendo esse último o mais importante deles, podendo ser quantificado e comparado com outros compartimentos.

Mensagem final

O desenvolvimento de um método mais acessível e confiável para a investigação da síndrome compartimental crônica, quando comparado à manometria, é uma ótima notícia para nós, ortopedistas. Sem dúvidas, ainda são necessários mais estudos para o aprimoramento e padronização do método, mas os trabalhos publicados até o momento são promissores e apontam para a consolidação da RM como ferramenta fundamental na investigação desse verdadeiro desafio diagnóstico.

Referências bibliográficas:

  • Nico MAC, Carneiro BC, Zorzenoni FO, Ormond AG, Guimarães JB. O papel da ressonância magnética no diagnóstico da síndrome compartimental crônica do exercício. Rev Bras Ortop. 2020;55(6):673-80. doi: 10.1055/s-0040-1702961
  • Oliveira Jr. O, Bertolini FM, Lasmar RP, Vieira RB, Mendes PM, Marcatti MM. Chronic compartment syndrome of the legs: case report. Rev ABTPé. 2016;10(2):87-93.

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