Síndrome de dor miofascial: pontos-gatilho miofasciais e seu papel no tratamento da cefaleia

Mecanismos vasculares, centrais e periféricos têm sido ligados à patofisiologia das cefaleias primárias, em especial a migrânea.

Mecanismos vasculares, centrais e periféricos têm sido ligados à patofisiologia das cefaleias primárias, em especial a migrânea. A ocorrência de dolorimento pericraniano espontâneo e à palpação em pacientes com migrânea é descrita na literatura, o que leva à suposição de que mecanismos miofasciais possam estar ligados à gênese da migrânea de alguma maneira.

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Dor miofascial

O conhecimento sobre a dor miofascial ganhou impulso a partir da década de 1950 a partir dos trabalhos de alguns médicos, entre eles a Dra. Janet Travell, que depois veio a escrever o livro que é referência na área até os dias de hoje. A dor miofascial é fonte de nocicepção concomitante a várias condições clínica, desde quadros de lombalgia até disfunções orofaciais, por exemplo.

Como o próprio nome diz, dor miofascial significa dor proveniente de músculos e tecidos conjuntivos e um de seus atributos principais é a existência de pontos gatilho miofasciais. Esses pontos gatilho são pontos irritáveis ​​dentro de bandas anormais de músculo ou fáscia que, quando pressionados, causam dor local e dor referida com padrões específicos para cada músculo, e que quando palpados exacerbam ou reproduzem a experiencia de dor reportada pelo paciente.

Quando comparamos controles saudáveis com pacientes diagnosticados com migrânea, a coexistência de dor miofascial parece correlacionar-se tanto com a gravidade das crises, quanto com a cronicidade da cefaleia. A abordagem concomitante da dor miofascial em pacientes que realizam tratamento para quadros crônicos de cefaleia também parece promover benefícios adicionais no controle da doença. Os músculos mais comumente afetados por dor miofascial em pacientes com cefaleia são trapézio, esternocleidomastoideo, temporal e masseter.

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Tratamento da cefaleia

Entre especialistas em cefaleia, o tratamento concomitante da dor miofascial em pacientes com cefaleia do tipo tensional e migrânea pode chegar a 81.5% e 67.7% dos pacientes tratados, respectivamente. Assim, em publicação recente, a American Headache Society concluiu que muitos cefaliatras utilizam o tratamento da dor miofascial no auxílio do controle da dor e incapacidade em pacientes com cefaleia de diferentes origens e, apesar da relativa escassez de dados sobre eficácia, quando realizado de maneira apropriada, com adequada seleção de pacientes e com as conhecimento anatômico e experiência técnica adequadas, o agulhamento miofascial parece ter um papel no tratamento adjuvante das cefaleias primárias.

Portanto, a disfunção miofascial, além de ser clinicamente relevante em diversas condições de dor musculoesquelética, parece ter algum papel no tratamento adjuvante de cefaleias primarias como a migrânea. Assim, deve-se considerar a contribuição dos pontos-gatilho miofasciais para a dor e incapacidade do paciente através de um histórico médico cuidadoso e de um exame físico específico. Em geral, pacientes com pontos-gatilho miofasciais se beneficiarão de um plano de tratamento multimodal, incluindo o agulhamento miofasical e técnicas de terapia manual.

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