Síndrome do anticorpo antifosfolipídeo na gestação: como manejar?

A síndrome do anticorpo antifosfolipídeo (SAAF) é uma desordem autoimune, caracterizada laboratorialmente pela presença de anticorpos antifosfolipídeos.

A síndrome do anticorpo antifosfolipídeo (SAAF) é uma desordem autoimune, caracterizada laboratorialmente pela presença de anticorpos antifosfolipídeos (anticoagulante lúpico, anticardiolipina e/ou anti-beta2-glicoproteína I) e clinicamente por alguns critérios:

  • Trombose (venosa, arterial ou microangiopática) e/ou morbidade gestacional (uma ou mais mortes inexplicadas de feto morfologicamente normal ≥ 10 semanas de gestação; ou
  • Um ou mais partos prematuros de neonatos morfologicamente normais < 34 semanas de gestação por eclâmpsia, pré-eclâmpsia ou insuficiência placentária; ou
  • Três ou mais abortamentos espontâneos consecutivos < 10 semanas de gestação na ausência de alterações genéticas, anatômicas ou hormonais).

Síndrome do anticorpo antifosfolipídeo na gestação

Com acompanhamento multidisciplinar adequado (obstetrícia, reumatologia e hematologia) e terapia com anticoagulante e antiagregante plaquetário, as complicações obstetrícias podem ser reduzidas, e até 70-80% das gestações de portadoras da síndrome podem ser bem sucedidas. Importante ressaltar que a gestação por si só já gera em estado pró-trombólico; dessa forma, mulheres com SAAF que já tiveram algum evento trombótico prévio têm maior risco de recorrência na gestação.

Antes de qualquer coisa, é fundamental que as mulheres sabidamente portadoras de SAAF sejam orientadas quanto aos riscos gestacionais, junto aos seus parceiros, antes da gestação. Tais riscos devem ser avaliados individualmente, conforme história pregressa de trombose e história obstétrica prévia: pacientes com complicações obstétricas prévias têm maior risco de recorrência do que aquelas com gestações anteriores sem intercorrências.

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Mulheres com evento trombótico nos últimos três meses ou com complicações severas (ex.: hipertensão pulmonar grave) devem ser aconselhadas a evitar a gestação. Além disso, deve-se orientar todas as pacientes com SAAF quanto aos outros fatores de risco tromboembólico (como tabagismo, sobrepeso e terapia hormonal).

É aconselhável a realização de ultrassonografia com Doppler entre a 20ª e a 24ª semanas de gestação. Se houver alteração, o exame deve ser repetido regularmente para avaliação de crescimento e vitalidade fetais e do volume do líquido amniótico.

Antagonistas de vitamina K e os novos anticoagulantes orais atravessam a placenta, devendo ser evitados durante a gestação pelo risco de teratogênese. Gestantes com história pregressa de trombose devem receber anticoagulação com heparina de baixo peso molecular (HBPM) em dose intermediária ou plena. Doses profiláticas, associadas a AAS, podem ser usadas nas pacientes com história de trombose venosa profunda provocada por outros fatores. A anticoagulação pode ser substituída por varfarina no puerpério, visto ser uma droga segura na lactação.

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Recomenda-se manter a terapia anticoagulante por até seis semanas após o parto. Pacientes grávidas com histórico de morbidade gestacional são manejadas com baixas doses de AAS e doses profiláticas de heparina (HBPM ou heparina não fracionada – HNF).

Em gestações com boa evolução, recomenda-se, sempre que possível, o parto vaginal, que se associa a menor risco de trombose pós-parto, reservando a cesariana para os casos com indicação obstétrica.

Referências bibliográficas:

  • Schreiber, Karen, and Beverley J. Hunt. “Managing antiphospholipid syndrome in pregnancy.” Thrombosis research 181 (2019): S41-S46.
  • Bouvier, Sylvie, et al. “Comparative incidence of pregnancy outcomes in treated obstetric antiphospholipid syndrome: the NOH-APS observational study.” Blood, The Journal of the American Society of Hematology 123.3 (2014): 404-413.
  • Galarza-Maldonado, Claudio, et al. “Obstetric antiphospholipid syndrome.” Autoimmunity reviews 11.4 (2012): 288-295.

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