Síndrome oculoglandular de Parinaud causada por esporotricose

A síndrome oculoglandular de Parinaud é uma conjuntivite granulomatosa unilateral associada à linfadenopatia pré-auricular e submandibular.

A síndrome oculoglandular de Parinaud (SOP) manifesta-se como uma conjuntivite granulomatosa unilateral associada à linfadenopatia pré-auricular e submandibular. A adenopatia pode ser muito acentuada. A doença por arranhadura do gato é a causa mais comum de SOP. Trata-se de uma doença infecciosa benigna que geralmente se desenvolve após o contato ou arranhadura de gato doméstico (Felis sylvestris catus).

O agente etiológico, endêmico em gatos, é Bartonella henselae, um bacilo pleomórfico gram-negativo. Outros organismos causadores incluem Mycobacterium tuberculosis, Mycobacterium leprae, Francisella tularensis, Yersinia pseudotuberculosis, T. pallidum, C. trachomatis, Sporothrix schenckii, Listeria monocytogenes, Paracoccidioides brasiliensis, Cryptococcus neoformans. Alguns vírus, como herpes simplex tipo 1 e Epstein-Barr, também foram isolados.

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Paciente com síndrome oculoglandular de Parinaud

Situação no país e características

No Brasil, não tem sido rara a síndrome oculoglandular associada à esporotricose, que foi descrita por Benjamim Schenk, em 1898, e é causada pelo fungo dimórfico patogênico Sporothrix schenckii. Ela é caracterizada por uma infecção de caráter subagudo ou crônico de ocorrência em humanos e animais, por lesões polimórficas dos tecidos cutâneos e subcutâneos, com envolvimento dos canais linfáticos adjacentes, que podem supurar, drenar e ulcerar. As infecções causadas pelo S. schenckii geralmente ocorrem através de ferimentos ou arranhões com espinhos ou farpas de vegetais contaminados, e mordeduras e lambeduras de animais infectados, no entanto, alguns casos de infecções sem trauma prévio já foram relatados, mas são raros.

A conjuntivite da SOP caracteriza-se classicamente por lesões nodulares na conjuntiva bulbar ou tarsal, evidenciando uma reação granulomatosa, que pode se apresentar de forma branda ou grave, com úlceras ou necrose. A adenopatia presente pode ser dolorosa ou não, e seu tamanho e consistência variam bastante. Casos atípicos já foram relatados, tais como surgimento de conjuntivite granulomatosa bilateral e ausência de infartamento ganglionar. Outros sinais e sintomas não específicos podem acompanhar a SOP, tais como febre, hiperemia e reação folicular conjuntival, sensação de corpo estranho e secreção mucoide ou purulenta.

Diagnóstico

O diagnóstico é clínico e, geralmente, existe a história de exposição a gatos quando associado à bartonelose. Em relação à esporotricose, o diagnóstico pode ser feito por detecção direta ou indireta do agente etiológico. No exame direto, o método de coloração pelo gram (gram-positivo) pode ser útil na detecção inicial do agente etiológico. O exame histopatológico também pode ajudar, porém é pouco eficaz se comparado à cultura específica para o fungo. Exames sorológicos, apesar de pouco usados, têm demonstrado ótima sensibilidade e especificidade na detecção de anticorpos para antígenos do S. schenckii. O método ELISA mostrou uma sensibilidade de 90% e especificidade de 86%.

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Tratamento

O tratamento pode ser favorável em casos leves, porque a doença é autolimitada e não é conhecida por causar complicações na córnea. Em casos mais graves, antibióticos sistêmicos podem ser considerados, embora um tratamento ideal não tenha sido identificado.

No tratamento da esporotricose, diversas drogas antifúngicas estão descritas na literatura médica. O iodeto de potássio foi a primeira droga descrita e, por muito tempo, foi considerada como o medicamento de primeira linha. Outra droga, o itraconazol, tem potente atividade antifúngica contra o Sporothrix schenckii e compartilha seus princípios básicos de atividade com seu predecessor, o cetoconazol. A dose de 100 mg/dia pelo período mínimo de três meses tem demonstrado bons resultados na literatura, mas em alguns casos a dose pode chegar a 400 mg/dia. O fluconazol é uma alternativa terapêutica, porém não é usada como primeira opção. A anfotericina B por via endovenosa permanece a droga de escolha para a esporotricose sistêmica e disseminação da doença, além dos casos que não responderam com as drogas descritas acima.

A esporotricose é uma doença geralmente de bom prognóstico, até mesmo quando acomete imunocomprometidos. A rapidez no diagnóstico da doença e a escolha da melhor opção terapêutica aceleram a melhora do paciente e diminuem as chances de complicações.

Referência bibliográfica:

  • Ribeiro ASA, Bisol T; Menezes MS. Síndrome oculoglandular de Parinaud causada por esporotricose. Rev. Bras. Oftalmol. 2010 Out;69(5):317-322.

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