Tempo de leitura: 4 min.
A cirurgia bariátrica tem se estabelecido cada vez mais como uma modalidade efetiva para o tratamento da obesidade. Hoje o tratamento cirúrgico apresenta resultados mais duradouros quando comparado ao tratamento não operatório e as duas principais cirurgias utilizadas são o bypass em y-de-roux (BPG) e a gastrectomia vertical (GV) também chamada de gastrectomia em sleeve.
No entanto, existe uma falta de dados sobre a evolução a longo prazo quando se compara as complicações associadas as mesmas. Intuitivamente, podemos pensar que as cirurgias de menor porte apresentam menor morbidades associada, quando comparadas a cirurgias mais complexas. Historicamente a banda gástrica ajustável, apesar da pequena complexidade relacionada ao procedimento, ao longo dos anos apresentou intercorrências como migrações, erosões e até mesmo insucesso de perda de peso que hoje praticamente inviabiliza o seu uso rotineiro.
O foco deste estudo foi comparar o risco associado nas duas principais modalidades cirúrgicas BPG e GV em uma cohort ao longo de cinco anos, incluindo re-hospitalizações, reoperações e necessidades de intervenção como endoscopias e sondas enterais.
Leia também: Obesidade aumenta risco de complicações na infecção pelo novo coronavírus?
O estudo utilizou uma rede de colaboração de dados existente para registro de pacientes submetidos a cirurgia bariátrica em diversos centros pelo mundo, (PCORnet de Cirurgia Bariátrica) a qual foi previamente descrito em outro estudo.
Foram levantados dados de todos os pacientes entre 20 e 79 anos de idade submetidos a cirurgia bariátrica primária (não revisional) entre 1 de janeiro de 2005 a 30 de setembro de 2015. Para a análise deste estudo apenas foram incluídas cirurgias de GV e BPG, visto que outras modalidades são menos frequentes e foram analisadas em outros estudos do mesmo banco de dados.
Foram definidos dois desfechos primários: operações e intervenções. Definiu-se como operações qualquer procedimento que envolva acesso ao abdome e de certa forma relacionado ao procedimento. As colecistectomias foram especificamente retiradas da análise. Já as intervenções foram caracterizadas como qualquer acesso à via enteral (ex: gastrostomias ou sonda enteral) ou procedimentos feitos pela radiologia intervencionista como paracentese e drenagens de abcessos sem a necessidade de incisões na pele.
De desfechos secundários, foram definidos: endoscopias e internações hospitalares, sendo que foram excluídas as internações por motivos obstétricos.
Um total de 33.560 adultos em dez centros foram elegíveis para este estudo, sendo na sua maioria mulheres (80%), com uma média de idade de 45 anos e média de 49 de IMC. Quanto aos procedimentos cirúrgicos 18056 (54%) realizaram BPG e 15504 a GV. O grupo de pacientes da gastrectomia vertical era discretamente mais jovem 44,1 anos enquanto o grupo do by-pass 45,8 anos.
A análise estatística do desfecho primário evidenciou que o grupo da GV possuía taxa de risco de 0,72 quando comparada ao grupo da BPG, em um tempo de observação de 5 anos após o procedimento, podendo ser resumida na tabela abaixo:
Desfecho | Taxa de Risco Ajustada | P valor |
Operação ou intervenção (excluindo endoscopia) | 0,715
| <0,001 |
Endoscopia | 0,471 | <0,001 |
Revisão | 1,165 | 0,09 |
Hospitalização | 0,822 | <0,001 |
Mortalidade | 0,942 | 0,66 |
Quanto aos desfechos secundários, as endoscopias por qualquer razão (diagnóstica ou terapêutica) eram mais frequentes no grupo do BPG, assim como as hospitalizações. Já a taxa de mortalidade não apresentou diferença estatística entre os dois grupos.
Com este aumento expressivo da utilização da cirurgia bariátrica a necessidade de informação a respeito dos resultados a longo prazo também se fez necessário, principalmente na hora de decidir qual procedimento realizar em um determinado paciente. Nos resultados deste trabalho com 5 anos de observação apenas 1 modalidade se mostrou mais frequente no grupo da GV foi a cirurgia revisional porém sem peso estatístico.
A análise pormenores dos dados, especificamente quando analisou características de subgrupos permitiu dizer que a GV apresenta resultados: 1) melhores quando IMC mais baixo, 2) melhores em pacientes com menos comorbidades, 3) discretamente melhores em hispânicos. No entanto, a análise global continua sendo favorável ao sleeve e que nestes 3 grupos os resultados são ainda melhores.
Os dados referentes a doença do refluxo também foram favoráveis para a realização da GV ao se analisar a longo prazo. Apesar da preocupação existente do agravamento do refluxo com o procedimento de sleeve, a análise estatística não mostrou esta evidência.
Veja mais: Como manejar complicações pulmonares no pós-operatório?
O estudo conclui que a necessidade de intervenções após a cirurgia bariátrica é comum, porém ainda mais frequente quando se realiza o by-pass, e que os achados deste estudo podem auxiliar na tomada de decisão de qual procedimento realizar.
Apesar do expressivo número de pacientes analisados e da boa estatística utilizada, devemos lembrar que este estudo é observacional e muitos detalhes da escolha do método cirúrgico utilizado não pode ser analisado porque não fez parte do desenho do mesmo. Também um importante limitante é que apenas as intervenções foram analisadas como desfecho o que impede a conclusão a respeito da qualidade de vida.
Porém sem dúvida é um importante argumento para colocar na balança no momento da decisão de qual método cirúrgico utilizar.
Referências bibliográficas:
Hipotensão é uma das condições mais comuns no paciente grave, além de estar associada a…
É essencial diferenciar a síndrome de retirada da recaída ou recorrência já que a sintomatologia…
Um estudo teve o objetivo de avaliar a eficácia do gel de clindamicina vaginal comparado…
Estudo comparou o grau de restrição das políticas de enfrentamento à covid com escores de…
Estudo mostrou que a suplementação de cálcio está ligada à queda da qualidade da função…
Levantamento aponta que o número de cirurgias para correção da catarata realizadas pelo SUS caiu…