NeurologiaJUN 2022

Softwares detectam crises epilépticas com acurácia em EEG contínuo?

Um estudo avaliou a acurácia do software Persyst para detecção de crises epilépticas em EEG c. Saiba mais no Portal PEBMED.

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Por Danielle Calil
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Em maio desse ano, a Neurology publicou estudo em que objetiva avaliar a acurácia do software Persyst para detecção de crises epilépticas em eletroencefalograma contínuo (EEG c) ao comparar com a detecção realizada por neurofisiologistas.  

Já foram realizados outros estudos com interesse em analisar a acurácia de programas automatizados, como o software Persyst, porém os resultados foram mistos. Além disso, a maioria desses estudos foram realizados em unidades especializadas em epilepsia – não englobando, portanto, ambiente de terapia intensiva cujo EEGc apresenta um maior desafio à leitura do exame pois costuma apresentar maiores artefatos assim como atividade de base desorganizada. 

Essa publicação apresenta originalidade visto que é o maior estudo com avaliação de acurácia em detecção automatizada de crises epilépticas em pacientes internados com EEG contínuo fora de uma unidade especializada em epilepsia. A sua relevância é justificada com base de que um montante considerável de solicitações de EEGc são solicitadas por equipes de terapia intensiva, ambiente em que há uma necessidade de pronta-resposta dos exames solicitados.

EEG

Como foi o estudo?

Foram inclusos exames de EEG contínuo de 24 horas realizados em pacientes internados em hospitais da Universidade de Pensilvânia, sendo que foram exclusos àqueles admitidos em unidade especializada em epilepsia. Todos os EEGs solicitados possuíam indicação para detecção de crises epilépticas. 

Primeiramente foi realizado estudo piloto, em que coletou EEGs realizados em terapia intensiva entre 2015 e 2019. Foram selecionados 23 exames de EEG pertencentes à 23 pacientes. Além disso, foram adicionados 62 exames de EEG sem crises epilépticas descritas no laudo a fim de mimetizar a prevalência de crises epilépticas numa grande população de terapia intensiva – visto que essa prevalência na literatura varia entre 8 e 48%. Esses 85 exames foram avaliados tanto por neurofisiologistas como pelo software Persyst 13 para detecção de crises epilépticas. 

Posteriormente, a coorte foi expandida para uma performance de larga escala desse estudo. Foram avaliados 7924 EEGs provenientes de 2854 pacientes entre dezembro de 2017 e outubro de 2020. Esses exames foram também avaliados por neurofisiologistas e pelo software Persyst na versão 12 e 13. 

Avaliação de sensibilidade, especificidade, valor preditivo positivo (VPP) e valor preditivo negativo (VPN) do software Persyst para detecção de crises epilépticas foram calculados.

Na coorte piloto, 23 exames de EEG apresentavam 229 crises epilépticas detectadas por neurofisiologistas. O software Persyst, por sua vez, detectou 111 das 229 crises (sensibilidade ajustada em 0.50, IC 95% entre 0.34 e 0.66). Nos 23 exames, Persyst detectou 183 crises epilépticas sendo que 111 eram realmente crises epilépticas de acordo com avaliação dos neurofisiologistas (VPP 0.60, IC 95% entre 0.42 e 0.75).

Entre os 85 exames presentes no estudo piloto, Persyst detectou 18 dos 23 exames que apresentavam crise, porém detectou 27 crises em 62 exames que não possuíam de fato crises epilépticas (taxa de falsos positivos estimada em 44%). 

Ao avaliar a coorte expandida, foram detectadas 786 crises em 7924 exames por neurofisiologistas (10%). Por sua vez, o programa automatizado detectou 6079 crises entre os 7924 exames (77%). Entre os 786 exames com crises epilépticas detectados por neurofisiologistas (que foi considerado o padrão ouro no estudo), o Persyst detectou crises em 723 exames (sensibilidade ajustada em 0.91, IC 95% entre 0.88 e 0.93). Contudo, é importante ressaltar que esse mesmo programa detectou 5356 entre 7138 exames que não apresentavam crises (taxa de falsos positivos ajustada em 0.74, IC 95% entre 0.72 e 0.75).  

Portanto, com essa análise, foi observado que o Persyst apresentou um baixo valor preditivo positivo (VPP 0.08, IC 95% entre 0.07 e 0.09), o que corresponderia a necessidade de um neurofisiologista avaliar 12.5 EEGs com crises detectadas pelo método automatizado para identificar apenas um exame com uma verdadeira crise epiléptica. Por outro lado, o valor preditivo negativo foi alto (VPN 0.97, IC 95% entre 0.96 e 0.98), o que corresponderia ao fato de apenas 3% de chance de apresentar uma verdadeira crise caso o Persyst não apresentasse nenhuma detecção de paroxismo epileptiforme.

Mensagens finais a partir desse estudo

  • Esse estudo proveu nível de evidência classe 2 que programas computacionais automatizados para detecção de crises epilépticas não as identificam de forma acurada.
  • Para revisão de EEG contínuo, o software Persyst não demonstrou boa aplicabilidade clínica devido ao seu baixo valor preditivo positivo nessa publicação.

Em maio desse ano, a Neurology publicou estudo em que objetiva avaliar a acurácia do software Persyst para detecção de crises epilépticas em eletroencefalograma contínuo (EEG c) ao comparar com a detecção realizada por neurofisiologistas.  

Já foram realizados outros estudos com interesse em analisar a acurácia de programas automatizados, como o software Persyst, porém os resultados foram mistos. Além disso, a maioria desses estudos foram realizados em unidades especializadas em epilepsia – não englobando, portanto, ambiente de terapia intensiva cujo EEGc apresenta um maior desafio à leitura do exame pois costuma apresentar maiores artefatos assim como atividade de base desorganizada. 

Essa publicação apresenta originalidade visto que é o maior estudo com avaliação de acurácia em detecção automatizada de crises epilépticas em pacientes internados com EEG contínuo fora de uma unidade especializada em epilepsia. A sua relevância é justificada com base de que um montante considerável de solicitações de EEGc são solicitadas por equipes de terapia intensiva, ambiente em que há uma necessidade de pronta-resposta dos exames solicitados.

EEG

Como foi o estudo?

Foram inclusos exames de EEG contínuo de 24 horas realizados em pacientes internados em hospitais da Universidade de Pensilvânia, sendo que foram exclusos àqueles admitidos em unidade especializada em epilepsia. Todos os EEGs solicitados possuíam indicação para detecção de crises epilépticas. 

Primeiramente foi realizado estudo piloto, em que coletou EEGs realizados em terapia intensiva entre 2015 e 2019. Foram selecionados 23 exames de EEG pertencentes à 23 pacientes. Além disso, foram adicionados 62 exames de EEG sem crises epilépticas descritas no laudo a fim de mimetizar a prevalência de crises epilépticas numa grande população de terapia intensiva – visto que essa prevalência na literatura varia entre 8 e 48%. Esses 85 exames foram avaliados tanto por neurofisiologistas como pelo software Persyst 13 para detecção de crises epilépticas. 

Posteriormente, a coorte foi expandida para uma performance de larga escala desse estudo. Foram avaliados 7924 EEGs provenientes de 2854 pacientes entre dezembro de 2017 e outubro de 2020. Esses exames foram também avaliados por neurofisiologistas e pelo software Persyst na versão 12 e 13. 

Avaliação de sensibilidade, especificidade, valor preditivo positivo (VPP) e valor preditivo negativo (VPN) do software Persyst para detecção de crises epilépticas foram calculados.

Na coorte piloto, 23 exames de EEG apresentavam 229 crises epilépticas detectadas por neurofisiologistas. O software Persyst, por sua vez, detectou 111 das 229 crises (sensibilidade ajustada em 0.50, IC 95% entre 0.34 e 0.66). Nos 23 exames, Persyst detectou 183 crises epilépticas sendo que 111 eram realmente crises epilépticas de acordo com avaliação dos neurofisiologistas (VPP 0.60, IC 95% entre 0.42 e 0.75).

Entre os 85 exames presentes no estudo piloto, Persyst detectou 18 dos 23 exames que apresentavam crise, porém detectou 27 crises em 62 exames que não possuíam de fato crises epilépticas (taxa de falsos positivos estimada em 44%). 

Ao avaliar a coorte expandida, foram detectadas 786 crises em 7924 exames por neurofisiologistas (10%). Por sua vez, o programa automatizado detectou 6079 crises entre os 7924 exames (77%). Entre os 786 exames com crises epilépticas detectados por neurofisiologistas (que foi considerado o padrão ouro no estudo), o Persyst detectou crises em 723 exames (sensibilidade ajustada em 0.91, IC 95% entre 0.88 e 0.93). Contudo, é importante ressaltar que esse mesmo programa detectou 5356 entre 7138 exames que não apresentavam crises (taxa de falsos positivos ajustada em 0.74, IC 95% entre 0.72 e 0.75).  

Portanto, com essa análise, foi observado que o Persyst apresentou um baixo valor preditivo positivo (VPP 0.08, IC 95% entre 0.07 e 0.09), o que corresponderia a necessidade de um neurofisiologista avaliar 12.5 EEGs com crises detectadas pelo método automatizado para identificar apenas um exame com uma verdadeira crise epiléptica. Por outro lado, o valor preditivo negativo foi alto (VPN 0.97, IC 95% entre 0.96 e 0.98), o que corresponderia ao fato de apenas 3% de chance de apresentar uma verdadeira crise caso o Persyst não apresentasse nenhuma detecção de paroxismo epileptiforme.

Mensagens finais a partir desse estudo

  • Esse estudo proveu nível de evidência classe 2 que programas computacionais automatizados para detecção de crises epilépticas não as identificam de forma acurada.
  • Para revisão de EEG contínuo, o software Persyst não demonstrou boa aplicabilidade clínica devido ao seu baixo valor preditivo positivo nessa publicação.

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Referências bibliográficas

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Danielle CalilDanielle Calil
Médica formada pela Universidade Federal Fluminense em 2016. ⦁ Neurologista pela Universidade Federal do Rio de Janeiro em 2020. ⦁ Fellow em Anormalidades do Movimento e Neurologia Cognitiva pelo Hospital das Clínicas da UFMG em 2021. ⦁ Atualmente, compõe o corpo clínico como neurologista de clínicas e hospitais em Belo Horizonte como o Centro de Especialidades Médicas da Prefeitura de Belo Horizonte, Hospital Materdei Santo Agostinho e Hospital Vila da Serra.

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