Sono infantil e estresse dos pais

Criar um ciclo sono-vigília regulado é um processo crítico e complexo. Muitos pais descrevem que o sono infantil é bastante interrompido.

Estabelecer um ciclo sono-vigília bem regulado é um processo crítico e complexo do desenvolvimento na primeira infância. Muitos pais descrevem que o sono infantil é bastante interrompido nessa fase, apesar de a maioria dos bebês consolidar seus hábitos de sono durante o primeiro ano de vida. Em geral, as crianças pequenas apresentam dificuldades para iniciar ou manter o sono e retornar à cama após o despertar noturno. Um outro ponto importante é que, além disso, os pais que desejam encorajar comportamentos saudáveis de sono podem achar difícil definir regras e limites apropriados, e esse é um grande desafio.

Os comportamentos parentais parecem desempenhar um papel fundamental na determinação dos padrões normativos de sono-vigília das crianças, em associação às características individuais dos filhos, tanto em relação ao neurodesenvolvimento quanto ao temperamento. Portanto, uma ampla gama de práticas parentais e interações pais-filhos podem favorecer ou interferir na regulação do sono infantil.

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Relação entre o sono infantil e o nível de estresse dos pais

O que diz a literatura?

Dados da literatura mostram que o estabelecimento de rotinas durante a infância tem efeitos positivos nos padrões de regulação biológica das crianças. A organização de rituais noturnos induz uma melhoria significativa na qualidade do sono infantil. Esses rituais podem ser definidos como padrões habituais de comportamento da família, em que os pais envolvem seus filhos em atividades recorrentes na mesma sequência, todos os dias antes de dormir. Em crianças em idade pré-escolares, rotinas estáveis estão associadas a marcadores de sono de boa qualidade, como:

  • Menor latência do sono;
  • Diminuição do despertar noturno;
  • Menor resistência à hora de dormir;
  • Maior duração do sono noturno.

Em relação às características individuais da criança, o temperamento tem papel relevante: a tendência a vivenciar e expressar emoções negativas com maior intensidade e frequência representam fatores de risco para a qualidade do sono. E o que seria essa regulação da emoção? Consiste na capacidade de diminuir, manter ou aumentar a excitação emocional para facilitar o envolvimento com o contexto. Portanto, observa-se que há importância do papel crítico do cuidador e da interação cuidador-criança, considerando ser este o contexto no qual as crianças adquirem suas capacidades regulatórias. A excitação emocional e a dificuldade em regular a emocionalidade negativa influenciam os problemas do sono e levam a processos familiares em que os pais, inadvertidamente, mantêm um problema de sono para evitar o sofrimento da criança.

Estudos recentes

Pesquisas atuais sobre o papel do funcionamento psicológico dos pais na qualidade do sono de crianças pequenas se concentram principalmente na depressão dos pais como um preditor de distúrbios do sono. Além disso, o apoio social percebido pelos pais está fortemente associado à sua capacidade de adaptação. Por fim, os problemas de sono das crianças prejudicam os padrões de sono dos pais e, portanto, sua capacidade de regular as emoções, o que é essencial para uma educação parental positiva.

Diante de todos esses desafios, um estudo realizado na Itália e publicado no jornal International Journal of Environmental Research and Public Health objetivou avaliar a relação entre a qualidade do sono das crianças, a regulação da emoção, as rotinas da hora de dormir, o envolvimento dos pais na hora de dormir, o suporte social percebido pelos pais e estresse, e integrar uma nova combinação das dimensões acima mencionadas em modelos preditivos para melhorar a qualidade do sono e reduzir o estresse parental.

Nesse estudo, 160 pais (80 mães e 80 pais), de 80 famílias heterossexuais italianas, de crianças com idades entre 18 e 36 meses foram recrutados. Quarenta e oito dessas crianças eram do sexo masculino. Os dados foram coletados no período de setembro de 2016 a março de 2017.

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Para participar do estudo, a criança deveria ter nascido a termo, não poderia ter história de hospitalização por mais de uma semana ou qualquer deficiência física/mental. A média de idade dos pais foi de 34 anos para homens e 36 anos para mulheres. Os pais tinham altos níveis educacionais, com apenas 3,1% dos homens e 1,8% das mulheres relatando ter concluído até o ensino médio. Os pais foram recrutados em jardins de infância de Roma. Eles receberam os questionários de psicólogos treinados que os convidaram a preenchê-los em casa, de forma independente (os questionários foram: o Parent–Child Sleep Interaction Scale; o Emotion Regulation Checklist; o Social Provisions Scale; e um questionário ad-hoc para avaliar o envolvimento dos pais nos cuidados diários com os filhos e na hora de dormir das crianças).

Achados e conclusões

Os pesquisadores observaram que a regulação emocional das crianças e o funcionamento psicossocial dos pais foram relacionados ao estresse parental. Além disso, o despertar noturno das crianças e o tempo necessário para elas adormecerem foram relacionados ao sofrimento dos pais. Os resultados desse estudo enfatizam que, durante os primeiros anos de vida, o desenvolvimento da regulação adequada dos padrões de sono-vigília representa um processo desafiador para crianças pequenas e também para toda a família.

As dimensões relacionadas ao contexto familiar proximal podem desempenhar um papel na formação de hábitos e práticas na hora de dormir. Outra questão a ser destacada é em relação ao papel protetor do suporte social percebido pelos pais para o estresse parental e o envolvimento paterno na hora de dormir para a qualidade do sono das crianças. Casais que compartilham responsabilidades de cuidar são caracterizados por níveis mais elevados de apoio percebido e níveis mais baixos de estresse, promovendo a regulação e consolidação dos padrões de sono de seus filhos, no que concerne ao tempo necessário para adormecer e ao número de despertares noturnos. Portanto, os resultados deste estudo confirmam a natureza complexa e composta do sono na primeira infância, abordando a estrutura da dinâmica familiar e o papel do contexto familiar no sono infantil.

A importância desse estudo é que seus resultados chamam atenção para algumas implicações práticas relevantes que precisam ser levadas em consideração. Os profissionais de saúde têm um papel considerável a desempenhar, não apenas em orientar as famílias no reconhecimento precoce dos distúrbios do sono, mas também no planejamento e realização de modelos de intervenção sob medida a serem aplicados o mais rapidamente possível em condições de risco. As intervenções devem ser focadas no apoio às famílias e crianças em suas tentativas de alcançar padrões de sono adequados e, consequentemente, beneficiando a cognição, o comportamento e o afeto das crianças, condições fortemente dependentes de um sono de boa qualidade.

Os pesquisadores descreveram também que os profissionais da escola podem tirar proveito das recomendações da literatura sobre o sono, não apenas em seu trabalho prático diário em contextos educacionais da primeira infância, mas também em termos de enfocar e compartilhar estratégias eficazes de gerenciamento do sono com os pais, apoiando indiretamente o cuidado das crianças pequenas. No entanto, mais pesquisas são necessárias e podem contribuir para aprofundar a compreensão e aumentar a consciência das relações entre o contexto proximal e o sono das crianças, identificando fatores de risco e proteção nos padrões de sono infantil.

Referências bibliográficas:

De Stasio S, Boldrini F, Ragni B, Gentile S. Predictive Factors of Toddlers’ Sleep and Parental Stress. Int J Environ Res Public Health. 2020 Apr 6;17(7):2494. doi: 10.3390/ijerph17072494. PMID: 32268482; PMCID: PMC7177928.

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