Suplementação de cálcio e vitamina D são eficazes em pacientes HIV?

O avanço na terapia antirretroviral aumentou a expectativa de vida dos pacientes infectados com HIV, com mais indivíduos atingindo idades mais avançadas.

O avanço na terapia antirretroviral aumentou a expectativa de vida dos pacientes infectados com HIV, com cada vez mais indivíduos atingindo idades mais avançadas. Ao mesmo tempo, ficam expostos por mais tempo aos eventos adversos dos antirretrovirais.

Osteopenia e osteoporose são condições prevalentes e que podem trazer grande morbidade ao favorecerem a ocorrência de fraturas. Além de secundária ao envelhecimento, a perda de densidade mineral óssea está associada à exposição prolongada ao fumarato de tenofovir (TDF), um dos antirretrovirais mais utilizados no Brasil, compondo o esquema inicial preconizado atualmente pelo Ministério da Saúde. Outros fatores de risco identificados incluem tabagismo, IMC baixo, níveis elevados de RNA viral do HIV e uso de inibidores de protease (IPs).

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Vitamina D para pacientes com HIV

Nesse contexto, tanto a prevalência de deficiência de vitamina D quanto o papel da suplementação de cálcio e vitamina D na população infectada pelo HIV permanecem desconhecidos. Um estudo recente procurou avaliar o impacto de suplementação de cálcio e vitamina D em pacientes com HIV e deficiência de cálcio e/ou vitamina D e densidade mineral óssea reduzida.

Métodos

O estudo foi conduzido em um hospital holandês em que todos os pacientes HIV positivos eram submetidos a rastreio de deficiência de vitamina D – definida como valores < 50nM – e cálcio – definida como excreção urinária de cálcio < 4 mmol/24h – de forma rotineira. Aos que foram identificados com deficiência de pelo menos um desses, ofereceu-se avaliação de densidade mineral óssea. Pacientes que já estavam em reposição ou que iniciariam bifosfonados ou denosumab foram excluídos.

Pacientes com deficiência de vitamina D foram tratados com colecalciferol 50.000 UI/mL com o objetivo de elevar os valores séricos para 75nM, com dose de ataque baseada no peso e posterior dose de manutenção de 50.000 UI mensalmente. Já os com deficiência cálcio foram tratados com carbonato de cálcio 1000 mg/dia.

A avaliação da densidade mineral óssea (DMO) foi feita por meio da realização de densitometria óssea no início do estudo (T0), um ano após o início do tratamento (T1) e ao final do estudo, cerca de 4 a 6 anos após o início do tratamento (T2). A taxa de mudança esperada na DMO foi ajustada pelo tempo de uso de antirretroviral, uma vez que estudos mostram que a perda de DMO ocorre principalmente nos primeiros dois anos de terapia.

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Resultados

Dos 268 pacientes, 180 (67%) possuíam deficiência de cálcio e/ou vitamina D. Destes, 143 realizaram densitometria óssea, sendo que 69 (49%) apresentavam DMO reduzida e foram incluídos na análise a longo prazo. A maioria (94%) apresentava contagem de linfócitos T-CD4 > 200 células/mm³. Nenhum era virgem de terapia antirretroviral e a média de tratamento era de 70 meses. Osteopenia foi diagnosticada em 57 (40%) e osteoporose, em 12 (8,4%) dos pacientes.

O nível médio de vitamina D aumentou de 48,1nM para 80nM em T1, isto é, após 1 ano de reposição, permanecendo estável posteriormente. Níveis de vitamina D > 50nM foram atingidos em 90% em T1 e em 85% em T2 de todos os pacientes que receberam suplementação. O nível alvo de > 75nM foi alcançado em 59% de todos os pacientes, tanto em T1 quanto em T2.

Os níveis séricos médios de cálcio aumentaram gradualmente ao longo de 70 meses, passando de 2,28 para 2,37mM, sem ocorrência de hipercalcemia. A excreção urinária média de cálcio aumentou de 2,7 para 4,6 mmol/24h em T1, permanecendo estável no período posterior. Os níveis alvo de excreção urinária de cálcio foram alcançados em 57% em T1 e em 44% em T2 de todos os pacientes tratados para deficiência de cálcio.

A DMO medida na coluna lombar aumentou em 2% (IC 95% 0,7% – 3%; p < 0,05) e em 0,5% (IC 95% – 0,3% – 1,2%; p =0,2) e 1% (IC 95% 0,2% – 1,7%; p < 0,05) nos quadris direito e esquerdo, respectivamente, em T1. Os aumentos relativos na DMO comparados com as mudanças esperadas foram de 2,2% para coluna lombar (IC 95% 0,9% – 3,4%), 1,1% para quadril direito (IC 95% 0,3% – 1,8%) e 1,5% para quadril esquerdo (IC 95% 0,9 – 2,3%), alcançando significância estatística em todas as comparações.

Em T2, a diferença entre a taxa de mudança de DMO esperada na coluna lombar e a encontrada foi de um aumento de 3% (IC 95% 1,2% – 4,8%; p < 0,05). Não houve diferença estatística significativa na DMO em ambos os quadris ao final do acompanhamento. Não foram encontradas associações entre a substituição de TDF e/ou IPs no esquema antirretroviral e mudanças na DMO.

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Os resultados mostram que a suplementação de vitamina D e cálcio foi capaz de postergar a redução da DMO no quadril e aumentar a DMO da coluna lombar durante o período de 70 meses de observação. O aumento principal ocorreu no primeiro ano de suplementação, principalmente para coluna lombar.

A prevalência de participantes com deficiência de vitamina D, com osteopenia e osteoporose foi semelhante a encontrada em outras coortes de pacientes HIV positivos, o que favorece a generalização dos resultados. O percentual de participantes que alcançaram os níveis alvo foi maior com os níveis séricos de vitamina D do que com os de cálcio e os autores especulam que a adesão seja um grande contribuidor para esse fenômeno.

Mensagens práticas

  • Deficiência de vitamina D e cálcio, assim como osteopenia e osteoporose, parecem ser altamente prevalentes na população que convive com o vírus HIV. Portanto, deve-se considerar a inclusão do rastreio dessas condições como parte integrante do cuidado regular nessa população;.
  • Suplementação de cálcio e vitamina D parecem ser eficazes como forma de retardar ou mesmo reverter a perda de densidade mineral óssea nos pacientes com deficiência de vitamina D e/ou cálcio;
  • Os resultados não mostraram associação com mudança do esquema antirretroviral para componentes não associados à perda de densidade mineral óssea, o que sugere benefício independente da suplementação. Em pacientes em que a troca de medicação não é possível, a suplementação de cálcio e vitamina D pode te rum papel importante na prevenção de osteopenia e osteoporose.

Referência bibliográfica:

  • Faber, J, Bech, A, van Bentum, P, Gisolf, J, Hassing, RJ, de Boer, H. Long-Term Impact of Calcium and Vitamin D Supplementation on Bone Density in HIV+ Patients witth Documented Deficiencies. AIDS RESEARCH AND HUMAN RETROVIRUSES Volume 36, Number 1, 2020. DOI: 10.1089/aid.2019.0109

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