Terapia com MDMA para tratamento do transtorno de estresse pós-traumático

O transtorno de estresse pós-traumático é de difícil tratamento. As estratégias com maior evidência são a psicoterapia e psicofarmacológicas.

O transtorno de estresse pós-traumático (TEPT) é uma condição de difícil tratamento. As estratégias com maior qualidade de evidência são a psicoterapia (terapia cognitivo comportamental ou terapia de exposição) e estratégias psicofarmacológicas (inibidores seletivos da recaptação de serotonina em monoterapia ou associação com risperidona). Porém, essas terapias apresentam pequeno tamanho de efeito (especialmente as estratégias farmacológicas) e altas taxas de abandono de tratamento. Assim, o TEPT tem grande impacto na qualidade de vida e alto custo ao sistema de saúde.

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Nesse contexto, o 3,4-metilenodioximetanfetamina (MDMA), associado a psicoterapia, vem sendo estudado como alternativa no tratamento do TEPT. A Multidisciplinary Association for Psychedelic Studies (MAPS) é a principal entidade envolvida no financiamento e planejamento dos estudos de utilização do MDMA no tratamento do TEPT, incluindo o artigo discutido a seguir.

Terapia com MDMA para tratamento do transtorno de estresse pós-traumático

Design do estudo com uso do MDMA

Realizou-se um ensaio clínico randomizado (n = 91 pacientes), duplo-cego, comparando o uso de MDMA (80 a 180 mg) ao placebo, em 3 sessões de psicoterapia (seguindo protocolo da MAPS) a cada 4 semanas, além de 3 sessões de psicoterapia complementar exclusiva. A decisão do uso do placebo foi justificada pelos autores para garantir melhor avaliação do perfil de segurança da droga.

Os participantes foram diagnosticados com TEPT através dos critérios do DSM-5, utilizando a Mini International Neuropsychiatric Interview (MINI). Foram incluídos apenas pacientes com pontuação ≥ 35 na Clinician-Administered PTSD Scale for DSM-5 (CAPS-5), limiar para a classificação de TEPT grave. Foram excluídos pacientes com transtorno bipolar, histórico de abuso de substâncias, e transtornos psicóticos. Além disso, pelo potencial risco cardiovascular do MDMA, foram excluídos pacientes com condições médicas como hipertensão descompensada, arritmias ou alargamento de QT.

Quais foram os efeitos do MDMA neste trabalho?

Quanto aos resultados, a mudança na pontuação total da CAPS-5 entre a medida inicial e a final favoreceu o MDMA (d=0,91; IC 95% 0,44–1,37; p < 0,0001), com 33% dos pacientes no grupo do MDMA apresentando critérios de remissão contra 5% no grupo placebo. A mudança na pontuação total da Sheehan Disability Scale (desfecho secundário) também favoreceu o MDMA (d=0,43; p=0,0116). O MDMA demonstrou ainda resultado positivo na redução de sintomas depressivos em análise exploratória da escala Beck Depression Inventory II (BDI-II).

Destaca-se o bom perfil de segurança, sem aumento de desfechos relacionados ao suicídio ou efeitos adversos graves. Efeitos colaterais relacionados à droga como rigidez muscular, hiporexia, náusea, aumento da pressão arterial e frequência cardíaca foram transitórios e sem repercussões clínicas importantes.

Limitações a serem destacadas incluem o pequeno número de pacientes para melhor compreensão do perfil de segurança; a população com pequena variação étnica; a exclusão de pacientes com comorbidades clínicas ou psiquiátricas; além de mudanças de protocolo por conta da pandemia de covid-19.

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Mensagens práticas

  • O MDMA apresenta grande potencial no tratamento de pacientes com TEPT grave.
  • O MDMA parece ter grande efeito na diminuição dos sintomas do TEPT, em espaço curto de tempo. Ainda será necessário avaliar se os benefícios serão mantidos a longo prazo, e entender melhor o perfil de efeitos colaterais.
  • Mesmo passando pelo processo regulatório e aprovado para uso clínico, o uso de MDMA deverá ocorrer em ambiente com equipe especializada, o que implica em elevação dos custos e dificuldade de acesso.
  • Atualmente o tratamento do TEPT demanda, em grande parte dos casos, abordagem com psicoterapia especializada e terapia farmacológica.

Para saber mais sobre o assunto:

Em artigo publicado na Scientific American em fevereiro de 2022, a primeira autora do estudo descreve um breve histórico do MDMA e dificuldades no processo regulatório, porém com otimismo para aprovação da substância em futuro próximo.

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Referências bibliográficas: Ícone de seta para baixo
  • Mitchell JM. MDMA-assisted therapy for severe PTSD: a randomized, double-blind, placebo-controlled phase 3 study. Nat Med. 2021 Jun;27(6):1025-1033. doi: 10.1038/s41591-021-01336-3.
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