Termoablação é um método para inativar tumores, mas ainda pouco acessível no Brasil

A termoablação orientada por métodos de radiologia intervencionista é uma terapia térmica eficaz, que consegue inativar tumores.

A termoablação orientada por métodos de radiologia intervencionista é uma terapia térmica eficaz, que consegue inativar os tumores primários ou metastáticos utilizando duas diferentes abordagens: a radioablação (com transferência de calor) e a crioablação (com uso do frio).

“O tratamento consiste em dirigir uma agulha (probe ou eletrodo) através da pele (percutânea) com o auxílio de um método por imagem e posicioná-la no interior do tumor, com o paciente geralmente submetido à anestesia local ou geral. Essas agulhas trocam a energia térmica (frio ou calor) com o tecido tumoral por um tempo que varia de três minutos no método por micro-ondas a até dez a quinze minutos no método por gás congelante. O procedimento completo pode durar de 45 minutos a duas horas”, explicou o médico radiologista Marco Túlio Gonzalez, que atua no Serviço de Intervenção Osteomuscular do Centro Avançado de Diagnóstico por Imagem Osteomuscular do Grupo Fleury, em entrevista ao Portal PEBMED.

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Termoablação é um método para inativar tumores, mas ainda pouco acessível no Brasil

Indicações clínicas

As indicações clínicas da termoablação compreendem os tumores primários ósseos benignos ou com enfermidade sistêmica sem indicação cirúrgica e que não apresentam controle satisfatório da doença metastática óssea pelas terapias convencionais, nem mesmo o controle local da dor com radioterapia e analgesia pelos opioides.

“As células que compõem o tumor ficam inativas e morrem quando submetidas às temperaturas acima de 56 °C ou ao frio, com temperaturas abaixo de -40 °C. No entanto, as ablações não são para qualquer doente. Os critérios de elegibilidade são muito bem estabelecidos e vão desde a expectativa de vida do paciente, tipo e número de lesões, condições clínicas até a pouca eficácia dos tratamentos sistêmicos medicamentosos ou de controle local pela radioterapia. Desta forma, objetiva-se otimizar a efetividade do método em restabelecer a melhor qualidade de vida possível”, esclareceu Gonzalez.

Segundo o especialista, que é membro da Sociedade Paulista de Radiologia e Diagnóstico por Imagem (SPR), a ablação é um método cada vez mais estudado na medicina. As evidências apontam que a técnica é potencialmente curativa no tratamento de pacientes oligometastáticos, que possuem menos de cinco lesões secundárias menores de dois centímetros

O tratamento destaca-se como melhor opção em tumores resistentes à radiação ou nos que respondem à radiação, mas que o paciente atingiu o limite de dose acumulada, ou ainda que os tecidos vizinhos possuem dose cumulativa menor e persiste o avanço local da doença.

Técnica minimamente invasiva e prognósticos possíveis

Muitas vezes, a técnica de termoablação percutânea pode substituir a cirurgia convencional com taxa de sucesso semelhante ou naqueles com enfermidade oncológica mais avançada que recusam o tratamento paliativo tradicional ou no qual o resultado foi subótimo (que não atinge a mais alta qualidade).

O procedimento pode ser realizado até mesmo em ambulatórios e unidades day clinic, com sedação ou anestesia geral, guiada por ultrassonografia e tomografia computadorizada, com a utilização de técnicas percutâneas minimamente invasivas pelo radiologista intervencionista.

A ablação também pode ser realizada por cirurgia aberta, sob orientação de um ultrassom intraoperatório. Em alguns casos, o paciente pode receber alta no mesmo dia ou entre 24 a 48 horas após a realização do procedimento.

“Para uma lesão única de um tumor benigno, como o osteoma osteoide, o prognóstico é excelente e o procedimento de ablação é considerado curativo. Já para pacientes oncológicos com doença sistêmica avançada, o acometimento metastático do esqueleto é uma situação que traz queda na qualidade de vida do paciente devido à restrição da mobilidade e, principalmente, pela dor, chegando ocasionalmente ao agravo do quadro por fraturas patológicas. Aqui as ablações têm um papel de cuidado paliativo no controle da dor e prevenção das fraturas, trazendo conforto e melhora da qualidade de vida do paciente; mas não altera o prognóstico da enfermidade”, destacou Gonzalez.

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Cobertura e valores

De acordo com o radiologista intervencionista, apesar dos resultados efetivos, a termoablação ainda é pouco acessível devido ao desconhecimento e/ou pela baixa inclusão do método nas discussões multidisciplinares de oncologia, como ferramenta efetiva no arsenal terapêutico dos pacientes oncológicos.

“Outro entrave é o custo ainda elevado, embora venha caindo com a entrada no mercado de novos fornecedores. O valor depende muito do método de ablação escolhido para determinada lesão, tamanho, número e localização, como também, da quantidade de agulhas usadas e tempo de internação. Podendo variar de 22 a 70 mil reais”, informou Gonzalez.

Ainda pouco disponível pelo Sistema Único de Saúde (SUS), o método possui cobertura no ROL da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) apenas nos casos de hepatocarcinomas (um subtipo de câncer do fígado) e o osteoma osteoide/osteoblastoma (tumor primário ósseo benigno, de caráter inflamatório e doloroso, mais comum na faixa pediátrica até 20 anos).

“Em todas as demais indicações, o paciente apenas consegue realizar o procedimento assumindo os seus custos. Mesmo que ele seja elegível, não conseguimos fazer muito justamente por conta da limitação de custo”, lamentou o entrevistado.

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