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O JAMA publicou recentemente um pequeno estudo que visava comparar os efeitos de inativação plaquetária com o uso de uma dose de ataque de Ticagrelor padrão 180 mg, mas, em um braço, os pacientes engoliram os comprimidos e, no outro braço, eles mastigaram, tal como já é feito em síndromes coronarianas agudas com a Aspirina (em pacientes virgens de tratamento).
Vale ressaltar que o Ticagrelor, diferente de outros antiplaquetários, é a forma ativa da droga, sem necessidade de metabolização na primeira passagem pelo fígado, que inibe de forma reversível o receptor P2Y12 plaquetário. Dessa forma, a premissa testada nesse estudo foi medir o grau de inibição da ativação plaquetária (IAP) atingido 30 minutos, 1 hora e 4 horas após a administração da droga nos dois braços. Em um contexto de IAM com supra de ST-T (IAMCSSST), a dose de ataque é feita exatamente com o objetivo de se conseguir uma rápida IAP para os pacientes que vão passar por angioplastia com implante de stents coronarianos.
O estudo foi realizado em um único hospital terciário de maio a outubro de 2016, envolvendo 50 pacientes com IAMCSST que foram encaminhados para coronariografia de urgência. A dose de manutenção foi 180 mg/dia de Ticagrelor e 100mg/dia de Aspirina. As amostras de sangue para o teste de IAP (VerifyNow®) foram colhidas na admissão, 30 minutos, 1 hora (desfecho primário) e 4 horas para posterior comparação entre os dois braços do estudo. Os resultados são quantificados em PRU (P2Y12 reaction units). A alta reatividade plaquetária relacionada ao tratamento (HPR) foi considerado quando o PRU foi maior que 208.
O desfecho primário foi: PRU 1 hora após administração dos remédios. Os desfechos secundários foram: PRU nas outras medidas, taxas de HPR, eventos adversos maiores cardíacos e cerebrovasculares (MACE), sangramentos maiores e menores, além de dispneia e bradicardia sintomática.
Resultados
As médias de PRU de t0, t5h, t1h e t4h no grupo que mastigou quando comparado ao que engoliu foram respectivamente: 224 vs 219, 168 vs 230 (desfecho primário), 106 vs 181 e 43 vs 51. As diferenças foram mais importante principalmente nas medidas mais precoces sugerindo um efeito mais rápido da inativação plaquetária quando os comprimidos foram mastigados, restando pouca diferença entre os grupos após 4 horas da tomada dos medicamentos. As taxas de eventos adversos e sangramentos foram muito baixas e não houve diferença entre os grupos.
Os resultados deste pequeno estudo sugerem que possa existir um benefício na estratégia de mastigar os comprimidos de Ticagrelor em vez de engoli-los, baseados numa inativação plaquetária mais precoce e sua direta relação com a fisiopatologia do IAM e da relação dos antiplaquetários com angioplastia e implante de stents. Como foi um estudo pequeno (n=50) e sem o objetivo de analisar desfecho primário clínico, mais estudos são necessários para embasar essa estratégia.
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Referências:
- Elad Asher et al, Effect of Chewing vs Swallowing Ticagrelor on Platelet Inhibition in Patients With ST-Segment Elevation Myocardial Infarction. JAMA Cardiology outubro de 2017