Tofacitinibe em pacientes hospitalizados com pneumonia por Covid-19

Estudo descreveu um ensaio clínico para investigar a eficácia e a segurança do Tofacitinibe em pacientes com pneumonia por Covid-19.

A Covid-19 é uma doença viral, causada pelo Sars-Cov-2, que pode evoluir para uma pneumonia de difícil tratamento. Apesar do avanço da vacinação global, uma grande parte da população mundial ainda permanece sob risco da doença, principalmente em países menos desenvolvidos. Um estudo brasileiro, publicado esta semana na The New England Journal of Medicine descreveu um ensaio clínico controlado por placebo, randomizado, duplo-cego e multicêntrico, cujo objetivo foi investigar a eficácia e a segurança do Tofacitinibe em pacientes hospitalizados com pneumonia por Covid-19 sem suporte ventilatório invasivo ou não invasivo.

Leia também: Miocardite após vacina de mRNA contra a Covid-19: o que precisamos saber?

O Tofacitinibe é um potente agente imunossupressor, aprovado para uso pela Anvisa em 8 de dezembro de 2014, para tratamento de pacientes com artrite reumatoide ativa que tenham apresentado falha terapêutica a medicamentos modificadores do curso da doença ou a agentes inibidores do TNF. Ele é um inibidor seletivo das Janus quinases – enzimas que fazem a transdução dos sinais mediados por citocinas — além de modular a ação de interferons e interleucina-6, suprimindo a cascata inflamatória, principal causa de piora dos pacientes com Covid-19. Seus principais efeitos adversos são o aumento da incidência de infecções graves, tuberculose e herpes zoster, alterações laboratoriais como aumento do colesterol total, LDL-colesterol e HDL-colesterol, neutropenia e linfopenia, elevação de enzimas hepáticas, elevação da creatinofosfoquinase (CPK) e pequena elevação na creatinina (porém sem associação com o aumento da incidência de insuficiência renal).

Tofacitinibe em pacientes hospitalizados com pneumonia por Covid-19

Dados do estudo

O estudo incluiu pacientes > 18 anos, com RT-PCR positivo para Sars-Cov-2 e imagem radiológica compatível com pneumonia por Covid-19, hospitalizados por menos de 72 horas. Os critérios de exclusão foram: suporte ventilatório não invasivo ou invasivo, ECMO (extracorporeal membrane oxygenation), história de trombose ou imunossupressão e qualquer tipo de câncer em vigência de tratamento.

Os voluntários foram divididos em 2 grupos de 142 pacientes cada. Os grupos receberam 10 mg de Tofacitinibe ou placebo 2x/dia por 14 dias e foram acompanhados por 28 dias. O desfecho primário avaliado foi morte ou insuficiência respiratória com necessidade de suporte invasivo ou não invasivo ou ECMO. Os desfechos secundários avaliados foram: a incidência cumulativa de morte em 28 dias; escore (numa escala de 8) de gravidade da doença; a necessidade de ventilação mecânica ou ECMO; alta hospitalar; cura (definida como resolução da febre e tosse sem necessidade de suporte ventilatório); tempo de internação.

Resultados e discussão

Morte ou insuficiência respiratória (desfecho primário) ocorreu em 18,1% no grupo intervenção e 29% no grupo placebo, com relevância estatística (RR 0,63; IC 0,41 a 0,97; p = 0,04). Esses resultados foram ajustados para idade, sexo, duração dos sintomas e uso de corticoterapia (O estudo RECOVERY já havia sido publicado, mostrando benefício do uso de corticoide no tratamento da Covid-19, reduzindo mortalidade entre pacientes hospitalizados em uso de oxigenioterapia). Alguns pacientes também estavam em uso do antiviral oseltamivir, porém este não mostrou benefício como mostrado em estudos posteriores, ao contrário do remdesevir, que infelizmente não estava disponível no Brasil.

Saiba mais: Vacinação da Covid-19 em gestantes e puérperas: o precisamos saber até o momento?

Infelizmente, como descrito pelo próprio autor, as variáveis do desfecho secundários não foram ajustadas para uma análise multivariada, não apresentando relevância estatística e impossibilitando maiores conclusões.

Podemos concluir através deste estudo que o Tofacitinibe reduziu o risco de morte e insuficiência respiratória em pacientes hospitalizados com pneumonia por Covid-19 quando comparado a placebo. Porém, vale lembrar que o custo deste medicamento é elevado, dificultando seu uso em países menos favorecidos.

Referências bibliográficas:

  • Guimarães PO, Quirk D, Furtado RH, Maia LN, Saraiva JF, Antunes MO, Kalil Filho R, Junior VM, Soeiro AM, Tognon AP, Veiga VC, Martins PA, Moia DDF, Sampaio BS, Assis SRL, Soares RVP, Piano LPA, Castilho K, Momesso RGRAP, Monfardini F, Guimarães HP, Ponce de Leon D, Dulcine M, Pinheiro MRT, Gunay LM, Deuring JJ, Rizzo LV, Koncz T, Berwanger O; STOP-COVID Trial Investigators. Tofacitinib in Patients Hospitalized with Covid-19 Pneumonia. N Engl J Med. 2021 Jun 16. doi: 10.1056/NEJMoa2101643. Epub ahead of print. PMID: 34133856.
  • da Mota LM, Cruz BA, de Albuquerque CP, Gonçalves DP, Laurindo IM, Pereira IA, de Carvalho JF, Pinheiro Gda R, Bertolo MB, Pinto MR, Louzada-Junior P, Xavier RM, Giorgi RD, Lima RA. Update on the 2012 Brazilian Society of Rheumatology Guidelines for the treatment of rheumatoid arthritis: position on the use of tofacitinib. Rev Bras Reumatol. 2015 Nov-Dec;55(6):512-21. English, Portuguese. doi: 10.1016/j.rbr.2015.08.004. Epub 2015 Sep 26. PMID: 26456224.

Avaliar artigo

Dê sua nota para esse conteúdo

Selecione o motivo:
Errado
Incompleto
Desatualizado
Confuso
Outros

Sucesso!

Sua avaliação foi registrada com sucesso.

Avaliar artigo

Dê sua nota para esse conteúdo.

Você avaliou esse artigo

Sua avaliação foi registrada com sucesso.

Baixe o Whitebook Tenha o melhor suporte
na sua tomada de decisão.