Tratamento atual da AR durante gestação garante ótimas taxas de controle da doença

O tratamento da artrite reumatoide (AR) passou por uma verdadeira revolução nos últimos 20 anos, com a incorporação de várias novas drogas.

O tratamento da artrite reumatoide (AR) passou por uma verdadeira revolução nos últimos 20 anos, com a incorporação de várias novas drogas eficazes no controle da atividade inflamatória articular e sistêmica. A estratégia atual utilizada no tratamento de pacientes com AR é a treat-to-target (T2T), que foi validada em diferentes cenários clínicos.

No entanto, devido à passagem transplacentária dos anticorpos monoclonais (exceto do certolizumabe pegol) e à ausência de dados de segurança para a maioria dos biológicos e DMARDs sintéticos alvo específicos, a implementação da estratégia T2T é uma preocupação em gestantes portadoras de AR.

Ademais, a AR, assim como diversas outras doenças reumatológicas autoimunes, associa-se com piores desfechos gestacionais quando está em atividade clínica (quanto pior o grau de atividade, maior a chance de complicação durante a gestação).

Leia também: História natural da osteoartrite de quadril: resultados de 10 anos de seguimento

Dessa forma, estudos desenhados para avaliar essa questão são necessários, de modo a maximizar a relação de benefício/risco relacionado ao uso dos DMARDs no período pré-concepcional, durante o transcorrer da gestação e no puerpério.

Pensando nisso, Smeele et al. desenvolveram o estudo de coorte chamado PreCARA (Preconception Counseling in Active RA), cujo objetivo principal foi avaliar a viabilidade de uma estratégia moderna de tratamento da AR, incluindo T2T e prescrição de anti-TNF.

Tratamento atual da AR durante gestação garante ótimas taxas de controle da doença

Métodos

Trata-se de um estudo observacional (nenhuma intervenção foi feita para atender ao estudo; os tratamento foram indicados pelos médicos que assistiam as pacientes). As gestantes com AR acompanhadas em um hospital terciário recebiam o tratamento T2T conforme o seguinte protocolo institucional: primeiro, sulfassalazina com ou sem hidroxicloroquina; na falha, era prescrita prednisona até 7,5 mg/dia e/ou anti-TNF (preferencialmente o certolizumabe). Caso a paciente já estivesse em uso de anti-TNF, o mesmo era mantido até a época recomendada pela EULAR; a troca para certolizumabe e/ou prednisona era considerada após suspensão dos demais anti-TNF.

A atividade de doença foi avaliada através do DAS28-PCR, a cada visita da paciente. Um possível aumento na atividade de doença nas semanas 6 e 12 pós-parto também foi avaliado.

Os resultados do PreCARA foram comparados com os resultados do estudo PARA (com inclusão entre 2002 e 2010), uma coorte histórica de referência para o tratamento da AR durante a gestação.

Resultados

Foram incluídas 184 gestantes com AR, com 188 recém-nascidos (4 gestações gemelares). Dessas, 11 pacientes (6%) não usaram DMARDs durante a gestação. Os DMARDs mais utilizados foram os previamente descritos: sulfassalazina, hidroxicloroquina e certolizumabe. A mediana de prednisona no último trimestre foi de 5 mg/dia (desvio interquartílico 5-7,5 mg); 19% dos pacientes utilizaram doses > 7,5 mg/dia em algum momento da gestação. As medianas de doses de hidroxicloroquina e sulfassalazina foram 200 mg (desvio interquartílico 200-400 mg) e 2.000 mg (desvio interquartílico 1.000-2.000 mg), respectivamente.

Com relação ao uso de anti-TNF, 87 pacientes (47,3%) fizeram uso desse grupo de medicamentos durante a gestação, sendo que 26 interromperam o seu uso e 65,4% delas precisaram de prednisona no seu lugar. No terceiro trimestre, 56 pacientes utilizaram anti-TNF; dessas, 62,5% fizeram uso de sulfassalazina, 46,4% de hidroxicloroquina e 44,6% de ambos.

Saiba mais: Atividade de doença na artrite reumatoide associada ao risco de tromboembolismo venoso?

Na coorte do estudo PARA, 41,2% das pacientes não fizeram uso de DMARDs durante a gestação. As medicações foram mantidas estáveis em 85% daquelas que fizeram uso; a sulfassalazina e a prednisona foram os fármacos mais prescritos. A mediana de dose da prednisona foi de 7,5 mg (desvio interquartílico 5-10 mg) e 70,6% das pacientes utilizaram doses maiores que 7,5 mg/dia em algum momento da gestação. Durante a gestação, nenhuma paciente fez uso de anti-TNF nessa coorte.

Analisando os escores compostos de atividade de doença, os pacientes da coorte do estudo PARA (comparador histórico) apresentaram piores valores em todas as visitas, quando comparados com o estudo atual (PreCARA). O percentual de pacientes em remissão foi maior no estudo PreCARA para todos os períodos analisados. A baixa atividade de doença/remissão foi atingida em 90,4% dos pacientes do PreCARA no terceiro trimestre.

Além disso, os pacientes do estudo PARA apresentaram maiores taxas de reativações moderadas (21 vs. 12,2%, p = 0,018) e graves (5,7 vs. 0%, p=0,01) no pós-parto do que as do PreCARA.

Não foram avaliados biológicos não anti-TNF nem DMARDs sintéticos alvo específicos. Os desfechos gestacionais também não foram avaliados.

Comentários

O estudo em discussão é importante, porque demonstra que a evolução do tratamento na AR tem permitido melhores desfechos a curto prazo da AR, resultando em uma doença mais controlada durante a gestação e no período pós-parto.

Dessa forma, a estratégia T2T se mostrou adequada também para pacientes grávidas. É importante conhecermos quais medicações podem ser utilizadas nesse contexto, para evitar que as pacientes recebam drogas deletérias para o feto; ao mesmo tempo, devemos estar vigilantes para evitar que a doença entre em atividade e, consequentemente, piore os desfechos gestacionais.

A limitações desse trabalho são inerentes ao tipo de estudo (observacional).

Os autores concluíram que o tratamento atual da AR atinge taxas de remissão/baixa atividade de doença bastante substanciais no terceiro trimestre, próximas de de 90%.

Referências bibliográficas

  • Smeele HTW, Röder E, Wintjes HM, et al. Modern treatment approach results in low disease activity in 90% of pregnant rheumatoid arthritis patients: the PreCARA study. Ann Rheum Dis. 2021. doi:1136/ annrheumdis-2020-219547.

Avaliar artigo

Dê sua nota para esse conteúdo

Selecione o motivo:
Errado
Incompleto
Desatualizado
Confuso
Outros

Sucesso!

Sua avaliação foi registrada com sucesso.

Avaliar artigo

Dê sua nota para esse conteúdo.

Você avaliou esse artigo

Sua avaliação foi registrada com sucesso.

Baixe o Whitebook Tenha o melhor suporte
na sua tomada de decisão.

Especialidades