Tratamento de prurido nas colangiopatias fibrosantes: resultado do estudo FITCH

Colangiopatias fibrosantes progressivas são associadas ao desenvolvimento de cirrose hepática, uma das suas complicações é o prurido.

Colangite esclerosante primária (CEP) e colangite biliar primária (CBP) são colangiopatias fibrosantes progressivas associadas ao desenvolvimento de cirrose hepática. Uma das principais complicações dessas patologias é o desenvolvimento de prurido, o qual ocorre em até 70% dos pacientes, com grande prejuízo da qualidade de vida dos mesmos. O prurido das doenças colestáticas acomete principalmente as palmas das mãos e planta dos pés. É caracterizado por ritmo diurno, com maior intensidade no início da noite.

A fisiopatologia é ainda desconhecida, embora estudos recentes apontem uma associação do ácido lisofosfatídico e da autotaxina como possíveis cofatores. Atualmente, existem diversas opções para tratamento do prurido, como colestiramina, rifampicina, naltrexona e sertralina. No entanto, a eficácia e tolerância desses medicamentos é muito limitada. Dessa forma, novos medicamentos são necessários no controle desse sintoma. O estudo FITCH é o primeiro estudo randomizado controlado com fibratos, agonistas de PPAR, para tratamento de prurido nas colangiopatias fibrosantes.

Figura 1: Escada de tratamento do prurido — devemos incluir o bezafibrato?

Pesquisa sobre tratamento de prurido nas colangiopatias fibrosantes

Metodologia

Foram incluídos pacientes maiores de 18 anos com diagnóstico de CEP, CBP ou colangite esclerosante secundária, com queixa de prurido pelo menos 5 em 10 por escala visual analógica (VAS), ao menos 2 vezes por semana, recrutados em 7 hospitais universitários da Holanda e um da Espanha. Os indivíduos foram randomizados para receber bezafibrato 400 mg, via oral, uma vez ao dia ou placebo, por 21 dias. O desfecho primário do estudo foi redução de pelo menos 50% do prurido pela escala VAS.

Foi permitido uso concomitante de colestiramina, agentes tópicos contendo mentol e ácido ursodesoxicólico. Outras medicações antiprurido foram suspensas 10 dias antes do início do estudo. Pacientes com clearance de creatinina < 60 mL/min foram considerados inelegíveis. Pacientes com colestase por causas obstrutivas com necessidade de tratamento invasivo (CPRE, cirurgia ou drenagem percutânea transhepática) foram excluídos. Aumento de transaminases maior que 6 vezes o limite superior da normalidade ou ≥ 3 vezes o basal foram critérios para interrupção da medicação. Os pacientes foram acompanhados em três consultas: dias 0, 21 e 35.  Durante as visitas, foi aplicado a escala VAS, o 5D itch score e o Liver Disease Symptom Index 2.0, além de realizada coleta de exames laboratoriais.

Resultados

Foram incluídos 74 pacientes de março de 2016 a abril de 2019, sendo que 70 completaram o estudo. Trinta e oito pacientes foram alocados no grupo bezafibrato e 36 no grupo placebo. Dois pacientes foram identificados retrospectivamente com clearance de creatinina < 60mL/min, sendo excluídos da análise por protocolo. De maneira geral, 61% eram do gênero feminino e 62% diagnosticados com CEP. A mediana de prurido pelo escore VAS ao início do estudo foi de 7,3 no grupo intervenção versus 7,0 no placebo.

O desfecho primário foi alcançado por 45% dos indivíduos do grupo bezafibrato versus 11% no grupo placebo (p = 0,003; delta 34%, IC 95% 12-55). Houve redução da mediana de prurido pelo escore VAS para 4,0 no grupo tratado com fibrato no dia 21, retornando a 7,0 no dia 35. Observou-se ainda redução no escore 5D itch (p = 0,002) e melhora do Liver Disease Symptom Index 2.0 no grupo bezafibrato comparado ao placebo. Laboratorialmente, demonstrou-se redução de 35% da fosfatase alcalina no grupo bezafibrato comparado a aumento de 6% no placebo (p = 0,03). Não houve alteração nos níveis de ácidos biliares séricos totais, FGF19 e atividade sérica de autotaxina.

Leia também: Qual o impacto da cirrose hepática após realização de angioplastia coronariana?

Análise post-hoc comparando a resposta entre pacientes com CBP (n = 26) e CEP (n = 46) demonstrou taxa de resposta semelhante, a saber 55% e 41% reportaram redução de pelo menos 50% do prurido, respectivamente. Além disso, não se observou diferenças na resposta com relação a intensidade basal do prurido, estágio da doença hepática (cirrose vs não cirrose) e tratamento simultâneo com colestiramina. Houve aumento da creatinina de 3% no grupo bezafibrato e 5% no placebo (p = 0,14) em três semanas de acompanhamento.

Conclusão

O bezafibrato pode ser considerado uma nova opção no tratamento do prurido associado a colangiopatias fibrosantes, embora novos estudos sejam necessários para avaliação de segurança no longo prazo.

Saiba mais: Cirrose na emergência: como manejar as principais complicações (parte 4)

Referências bibliográficas:

  • de Vries E, et al. Fibrates for itch (FITCH) in fibrosing cholangiopathies: a double blind, randomized, placebo-controlled trial. Gastroenterology. 2020 (ahead of print). doi: 10.1053/j.gastro.2020.10.001

Avaliar artigo

Dê sua nota para esse conteúdo

Selecione o motivo:
Errado
Incompleto
Desatualizado
Confuso
Outros

Sucesso!

Sua avaliação foi registrada com sucesso.

Avaliar artigo

Dê sua nota para esse conteúdo.

Você avaliou esse artigo

Sua avaliação foi registrada com sucesso.

Baixe o Whitebook Tenha o melhor suporte
na sua tomada de decisão.

Especialidades