Como abordar lesões por trauma oftalmológico?

A abordagem inicial das lesões por trauma oftalmológico deve estar direcionada primeiramente as lesões ameaçadoras da vida e somente depois ao dano.

De acordo com revisão publicada em julho de 2019 no UpToDate, os dados da organização mundial da saúde informam um total de 55 milhões de lesões oculares atendidas em todo o mundo anualmente resultando em mais de 23 milhões de pessoas com baixa visão no mínimo unilateral.

Os homens sofrem mais traumas oculares que as mulheres (70% dos casos). A idade média dos pacientes com trauma ocular é de 29 anos nos EUA. O reconhecimento rápido de lesões graves e o envolvimento do oftalmologista são críticos para garantir a melhor visão possível como desfecho. 27% dos pacientes ficam com visão pior que 20/200, o que poderia ser definido como cegueira legal. O uso de equipamentos de proteção como óculos protetores durante atividades de risco tem o potencial de prevenir 90% das lesões.

Corpos estranhos oculares

Lesões por trauma oftalmológico

A abordagem inicial das lesões oculares deve estar direcionada primeiramente as lesões ameaçadoras da vida e somente depois ao dano periocular e ocular. Após essas lesões serem excluídas ou tratadas podemos focar na tentativa de preservar a visão. O reconhecimento rápido e tratamento das exposições a soda cáustica, da síndrome compartimental orbitária e das lesões de globo aberto é essencial para a preservação da visão.

Em crianças pequenas pode ser difícil definir a extensão da lesão pela pouca cooperação. Nesses casos o exame pelo oftalmologista em alguns casos com sedação pode ser feito.

Os mecanismos da lesão podem sugerir lesões específicas. Os projéteis de alta velocidade por ex. podem gerar corpos estranhos intraoculares, intraorbitais e intracranianos. Já as lesões por materiais vegetais podem estar associadas a alto risco de infecção.

Além disso, os sintomas podem em alguns casos ajudar no diagnóstico das estruturas envolvidas no trauma. Diplopia, dor na movimentação, náusea, sangramento do nariz e da boca são consistentes com fratura de órbita. Lacrimejamento, fotofobia e blefaroespasmo podem estar associados à lesão de córnea ou irite.

Como identificar as questões mais graves e importantes?

  • Síndrome compartimental orbital: Pressão intraorbitária elevada causada por infecção, sangramento ou inflamação que gera diminuição da mobilidade e pode levar à isquemia ocular;
  • Corpo estranho orbitário: Pode ser encontrado algum corpo estranho posterior ao septo orbitário, fora do globo;
  • Neuropatia óptica traumática: Perda visual aguda associada a defeito pupilar aferente induzidos por lesão traumática do nervo óptico. Pode ocorrer em casos de lesão óssea ou da órbita sem trauma direto ao globo;
  • Avulsão do nervo óptico: Perda visual aguda e defeito pupilar aferente decorrente de transecção traumática do nervo óptico;
  • Lesão da artéria oftálmica: Isquemia ocular decorrente de compressão e laceração da artéria oftálmica;

Leia mais: Cisto de inclusão conjuntival: causas, sintomas, diagnóstico e tratamento

Quais são as lesões mais comuns associadas ao trauma ocular?

Lacerações de pálpebra: O trauma ocular pode estar acompanhado de laceração de pálpebra em 2/3 dos casos. Deve se ter atenção especial as alterações das vias lacrimais que podem estar associadas.

Abrasões de córnea e corpo estranho: Os pacientes com abrasão de córnea podem ter fotofobia importante e dificuldade de abrir os olhos. Como pode haver lesão corneana pela presença de corpo estranho, os olhos devem ser cuidadosamente inspecionados com lâmpada de fenda, incluindo os fórnices conjuntivais.

Abrasões conjuntivais, hemorragia subconjuntival, lacerações e corpo estranho conjuntival: Nos casos de hemorragia conjuntival associados à laceração escleral, sangramento intraocular ou vazamento de líquido intraocular deve se pesquisar lesão intraocular. Nos pacientes com laceração conjuntival deve ser feita inspeção cuidadosa, podendo ser necessária a tomografia de órbita. Em relação aos corpos estranhos conjuntivais, sempre deve ser feita eversão da palpebra para que sejam pesquisados, evitando assim a abrasão corneana. As abrasões conjuntivais podem ser vistas como uma irregularidade da superfície conjuntival, sendo melhor visualizadas com luz de cobalto e instilação de fluoresceína.

Fraturas orbitárias: São encontrados equimose periocular, dor na mirada lateral, diplopia, tecido amolecido na região da fratura, crepitação indicando enfisema orbitário. Esses pacientes podem também ter lesões ameaçadoras da visão como o hifema traumático, hematomas com síndrome compartimental e ruptura do globo.

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Referências:

  • Matthew F Gardiner. Overview of eye injuries in the emergency department. Up to Date, Nov 2019.
  • Matthew F Gardiner. Approach to eye injuries in the emergency department. Up to Date. Jul 2019.
  • Jack J. Kanski. Clinical Ophthalmology. Seventh Edition. Elsevier.

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