Tricomoníase: dose única ainda permanece eficaz para tratamento?

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A tricomoníase é a doença não viral mais prevalente no mundo, acometendo aproximadamente 3,7 milhões de pessoas somente nos EUA. Como não é uma doença de notificação e não tem indicação de rastreio seu estudo epidemiológico baseia-se em estudos de observação clínica e populacional. Nos EUA a prevalência gira em torno de 2,1% entre mulheres e 0,5% em homens.

Entre 2015 e 2019 as taxas de gonorreia, tricomoníase, sífilis e clamídia aumentaram nos EUA, enquanto as taxas de herpes simples tipo 1 e 2 caíram. Os grupos com maiores taxas de IST (infecções sexualmente transmíssiveis) foram jovens abaixo de 25 anos, minorias de gênero e sexo (homens, mulheres transgênero que tiveram relações sexuais com homens) e minorias raciais e étnicas (como pessoas latinas e negras). Alguns fatores de risco incluem mulheres com dois ou mais parceiros no último ano, presença de sintomatologia, privação de liberdade (mulheres privadas de liberdade têm cinco vezes mais chance de apresentar tricomoníase que as livres), baixo nível cultural e socioeconômico.

Os sintomas clínicos incluem, em mulheres, corrimento vaginal amarelo ou esverdeado espumoso, prurido, disúria e dispareunia. A transmissão entre parceiros é por via sexual através do contato pênis-vagina (alguns assintomáticos podem inconscientemente transmitir) e através de fômites ou fluidos vaginais em mulheres homossexuais. O tratamento se torna necessário em pacientes sintomáticas, pois as sequelas podem levar à infertilidade e na gestação 1,4 vezes mais quadros de partos prematuros, amniorrexe prematura e fetos pequenos para idade gestacional.

Para tratamento, tem sido discutido na literatura o uso de dose única de nitroimidazólicos (tinidazol e secnidazol) ou múltiplas doses de metronidazol (500 mg VO duas vezes ao dia por sete dias). O tratamento em dose única permite maior aderência, menor perda de controle dos pacientes, sendo apenas reservado o tratamento exclusivo com múltiplas doses para os pacientes HIV.

Tricomoníase

Estudos

Uma revisão publicada no JAMA (jan. 2022) sugere a manutenção desse esquema como bastante seguro e eficaz, devendo-se pesquisar outras IST’s sempre nessas pacientes. Outro estudo duplo cego, placebo controlado, randomizado de fase 3 publicado no Clinical Infections Diseases (set. 2021) sugere benefício maior da dose única oral de secnidazol (2g) em relação ao placebo, randomizado 147 mulheres em dez centros nos EUA com taxas de cura de 92% em mulheres habituais, 100% em mulheres HIV e 95,2% em mulheres com vaginose associada. Outro estudo caandense publicado em fevereiro de 2022 também mantém o tratamento em dose única usando metronidazol em dose única por via oral (2g) e como alternativa 500mg de metronidazol duas vezes ao dia por sete dias, já com evidências limitadas mostrando discreta superioridade para o tratamento semanal.

Com todas esses dados algumas conclusões são:

  • A tricomoníase deve ser tratada utilizando nitroimidazólicos, de preferência em dose única oral, para garantir maior aderência e eficácia no tratamento. Metronidazol parece ser a melhor escolha, podendo nos casos de alergia medicamentosa utilizar-se tinidazol ou realizar dessensibilização com especialistas.
  • Tratar sempre os parceiros.
  • Evitar contato sexual durante o tratamento.
  • A taxa de cura é alta.
  • A recidiva está relacionada à resistência das trichomonas (variável entre 1 a 10%), erro de uso medicação, não tratamento do parceiro ou reinfecção.
  • Pacientes imunodeprimidos (HIV) devem optar pelo tratamento semanal mais prolongado.
  • Sempre pesquisar outras IST’s na vigência da tricomoníase.

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Referências bibliográficas: Ícone de seta para baixo
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