Trombose: devemos suspender a pílula em tempos de Covid-19?

A Covid-19 aumenta o risco de tromboembolismo venoso e algumas sociedades recomendam interromper ou evitar o uso de anticoncepcionais orais.

A pandemia da Covid-19 mostrou claramente causar mais mortalidade no sexo masculino do que feminino. A China, primeiro país a ser afetado pelo novo vírus, contabilizou mortalidade masculina em torno de 2,8%, enquanto em mulheres 1,7%. Além disso, a idade também mostrou ser determinante para o risco de gravidade e morte. O novo vírus aumenta o risco de tromboembolismo venoso e algumas sociedades recomendam interromper ou evitar o uso de anticoncepcionais orais (ACO) quando infectadas pelo novo vírus. Outras sociedades rebatem esta recomendação e defendem o estrogênio como um protetor, mencionando que inclusive ele está sendo estudado como uma possibilidade terapêutica em pacientes hospitalizados.

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Trombose: devemos suspender a pílula em tempos de Covid-19?

Por que as mulheres tendem a quadros mais brandos de Covid-19 do que homens?

Diferentes fatores podem estar associados:

  • Efeito protetor do cromossomo X: melhor resposta imune, maior produção de anticorpos e melhor ativação de imunidade celular.
  • Maior quantidade de estrogênio, que auxiliam na resposta imune e celular. Isso explica também, por exemplo, o porquê de mulheres mais velhas, na pós-menopausa, ficarem adoecidas mais facilmente e com gravidade maior do que mulheres mais jovens. Assim como, mulheres gestantes, 88% mantém-se assintomáticas quando infectadas por Covid-19.
  • Maior síntese de óxido nítrico, também mediada por estrogênio, causando efeito vasodilatador, protegendo dos efeitos de inflamação de constrição induzidos pelo SARS-CoV 2.

Risco de tromboembolismo causado por Covid-19 relacionado ao anticoncepcional hormonal

A trombose venosa é uma entidade de doença de mulheres jovens, mas que ocorre principalmente em pacientes que possuem fatores de risco.

A European Society of Contraception and Reproductive Health considera especialmente importante neste momento de pandemia a avaliação dos fatores de risco de tromboembolismo nas usuárias de anticoncepção hormonal.

A Sociedade considera que devemos classificar as pacientes em uso de anticoncepcional hormonal em 3 modalidades:

  • Pacientes hospitalizadas, com sintomas moderados a graves de Covid-19.
  • Pacientes assintomáticos ou com sintomas leves de Covid-19 e não hospitalizados.
  • Pacientes da população geral sem Covid-19, expostos à infecção pelo SARS-CoV-2.

No caso número 1, a European Society of Contraception and Reproductive Health considera a discussão do uso de ACO uma situação muito rara, visto que contempla na maioria das vezes mulheres mais velhas.

No caso número 2, a sociedade traz um estudo espanhol de mulheres com Covid-19 em vigência de anticoncepção. O estudo recomenda a troca do contraceptivo combinado por anticoncepcional com progestina exclusivamente. Além disso, sugere que apenas o estrogênio oral deve ser evitado, mantendo-se o uso do estrogênio transdérmico nos casos de terapia hormonal.

Enquanto isso, a Italian Society of Contraception recomenda não suspender a contracepção nesse caso, considerando que a falta do estrogênio poderia acelerar a progressão da doença.

Nesse mesmo contexto, outros autores também concordam com este raciocínio e, portanto, defendem a ideia de manter o anticoncepcional combinado durante a pandemia, como um efeito protetor.

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No cenário número 3, em um estudo de caso-controle realizado no último ano pelo King College London, e University of Liverpool, os autores concluem um efeito protetor do estrogênio. Além disso, a normalização dos efeitos na coagulação após a suspensão do ACO demora cerca de 2 meses, assim, sugere-se a prescrição de um anticoagulante do que a suspensão de ACO, ou troca por um anticoncepcional de progestina isolada

Conclusão

Portanto, até o momento não há evidências que suportem a recomendação de descontinuar os métodos anticoncepcionais hormonais durante a pandemia Covid-19. O mecanismo trombótico advindo do novo vírus se mostra diferente do mecanismo de aumento de risco agregado do anticoncepcional hormonal, e, portanto, parece não haver sinergismo ou somatório de riscos de tromboembolismo.

Sendo assim, segundo a Italian Society of Contraception, e a European Society of Contraception and Reproductive Health, os médicos podem continuar a prescrever anticoncepcionais nesse contexto de pandemia.

Referências bibliográficas:

  • Lete I. Combined hormonal contraception and Covid-19. The European Journal of Contraception & Reproductive Health Care. 2021;26(2):128-131.doi: 1080/13625187.2020.1867845

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