Tuberculose: um mal de séculos

Apesar de ser uma doença curável, em 2020, estima-se que 9,9 milhões de pessoas desenvolveram tuberculose e que 1,5 milhão tenham morrido.

Apesar de ser uma doença curável, a tuberculose ainda é uma das maiores causas de morte mundialmente. Em 2020, estima-se que 9,9 milhões de pessoas desenvolveram tuberculose e que 1,5 milhão tenham morrido pela doença. Para fins de comparação, a tuberculose fica somente atrás de covid-19 como causa de morte por um único agente infeccioso.

Além do grande número de casos, outra questão de relevância é o desenvolvimento de resistência. Em 2019, aproximadamente 500.000 de pessoas que desenvolveram tuberculose apresentavam resistência à rifampicina. Estima-se que, no mesmo ano, casos de tuberculose resistente à rifampicina (incluindo casos de TB-MDR, que são resistentes simultaneamente a rifampicina e a isoniazida) foram responsáveis por 180.000 mortes ao redor do mundo.

Leia também: Teste molecular na tuberculose extrapulmonar: uma boa alternativa diagnóstica?

A convivência do ser humano com a tuberculose data de séculos e mesmo milênios atrás. Análises arqueológicas e paleontológicas identificaram casos de tuberculose em coluna vertebral de múmias egípcias. Registros de Hipócrates e Galeno já descreviam casos da doença e teorias sobre sua origem. Ao longo da história, a doença tornou-se notória, com a construção de várias lendas e folclores em relação à sua forma de aquisição e a possíveis tratamentos e por vitimar diversas pessoas ilustres, como São Francisco de Assis, Honore de Balzac, as escritoras Anne e Emily Bronte, Frederic Chopin, Franz Kafka, a atriz Vivian Leigh, os reis Luís XIII e VXII, os escritores George Orwell e Robert Louis Stevenson, entre muitos outros.

Embora tenha permeado a história, avanços em relação à nossa compreensão sobre a doença ocorreram tardio e lentamente. Somente em 1882, Robert Koch conseguiu, utilizando a coloração de Ziehl-Neelsen — previamente descrita pelo bacteriologista Franz Ziehl e pelo patologista Friedrich Neelsen —, identificar o bacilo Mycobacterium tuberculosis em amostras biológicas de pacientes com tuberculose, estabelecendo a micobactéria como agente etiológico. Outro grande avanço ocorre em 1908 com o desenvolvimento do teste tuberculínico — o famoso PPD — por Mendel e Mantoux, permitindo, na época, um método diagnóstico de rastreio. Posteriormente, em 1932, o meio de cultura Lowenstein-Jenson foi desenvolvido, contribuindo grandemente para o diagnóstico.

O tratamento da tuberculose também teve grandes alterações ao longo do tempo, mas de forma igualmente lenta. Desde a construção de sanatórios a partir de 1859, onde os doentes eram isolados, ao desenvolvimento de diversas técnicas cirúrgicas, até a metade do século XX, as modalidades de tratamento da tuberculose tinham resultados limitados.

A vacina BCG foi desenvolvida em 1908, sendo utilizada pela primeira vez em humanos em 1921, sendo utilizada até hoje, como forma de prevenir doença grave em doenças. Contudo, até hoje não existe uma vacina totalmente eficiente contra a tuberculose. A utilização de antibióticos com níveis de toxicidade aceitáveis na prática clínica começou somente em 1944, com a descoberta de estreptomicina, e foi se ampliando lentamente com a descoberta e introdução no mercado de outros fármacos como isoniazida em 1952 e rifampicina em 1963. A estratégia de tratamento diretamente observado (DOT) passou a ser adotada em nos anos de 1970, sendo recomendada até hoje pela Organização Mundial de Saúde.

Tuberculose um mal de séculos

Tuberculose: onde estamos?

Mesmo com todo o progresso da tecnologia na área de cuidados de saúde, a tuberculose permanece uma doença negligenciada e o desenvolvimento de novos fármacos permanece lento. Entretanto, alguns avanços recentes foram obtidos, que podem ter grande relevância no controle e combate da doença. Alguns desses avanços incluem:

  • O desenvolvimento de métodos diagnósticos mais sensíveis e práticos, como testes moleculares e testes baseados em interferon.
  • Novas estratégias de quimioprofilaxia de infecção latente, com esquemas mais curtos, favorecendo a adesão e contribuindo para a redução na incidência de casos de tuberculose ativa. No Brasil, atualmente estão aprovados para o tratamento de ILTB: isoniazida por 6 ou 9 meses (6H ou 9H), rifampicina por 4 meses (4R) e isoniazida associada a rifapentina por 3 meses (3HP).
  • Disponibilização de novos medicamentos para o tratamento de tuberculose droga resistente (TB MR), especialmente bedaquilina e delamanide no Brasil, permitindo esquemas sem utilização de fármacos injetáveis.

Saiba mais: Infecção latente pelo M. tuberculosis: como usar os diagnósticos por PPD e IGRA?

Temos avanços, mas o desafio ainda é grande. Não se pode esquecer que determinantes sociais têm papel importante na transmissão e efetividade do tratamento da doença. Identificação e tratamento precoces de casos de tuberculose ativa e de infecção latente, pesquisa de comprovação microbiológica sempre que possível – especialmente com comprovação de resistência – e reforço de adesão são contribuições essenciais que os profissionais de saúde podem dar no combate à tuberculose.

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