Tudo o que o médico precisa saber sobre o hemograma: série vermelha

O hemograma é um dos principais exames solicitados na prática, utilizado como um subsídio ao diagnóstico, classificação e monitoramento de patologias.

Daremos início a uma série de conteúdos abordando as principais informações contidas nos números absolutos e índices de cada uma das três séries do hemograma.

O hemograma constitui um dos principais exames solicitados na prática clínica, utilizado como um subsídio ao diagnóstico, classificação e monitoramento de uma ampla variedade de patologias. Ele pode ser dividido didaticamente em três partes: série vermelha (hemácias), branca (leucócitos) e plaquetária (plaquetas). Seja à nível ambulatorial ou hospitalar, em todos os níveis de atenção, sua interpretação correta é de fundamental importância para o manejo adequado do paciente.

A série vermelha no hemograma

O proeritroblasto é considerado o primeiro precursor eritroide que pode ser reconhecido, morfologicamente, na medula óssea. Durante os estágios de maturação até a formação do eritrócito (hemácia), passa por alguns estágios intermediários (eritroblasto basófilo, eritroblasto policromatófilo, eritroblasto ortocromático ou acidófilo e reticulócito). Toda essa etapa leva em torno de seis a sete dias.

De uma maneira geral, sob condições fisiológicas, no sangue periférico encontramos os reticulócitos e eritrócitos. Quando os eritroblastos ortocromáticos ou acidófilos perdem seu núcleo, dão origem aos reticulócitos.

Os reticulócitos são considerados hemácias imaturas que contém ácido ribonucleico (RNA) para a síntese de hemoglobina. Possuem uma meia vida de aproximadamente 24 horas no sangue periférico (quando perdem o RNA), representando cerca de 0,5 a 1,5% da população eritrocitária em um adulto normal (em números absolutos, cerca de 25 a 75 x 109/L). Eles fornecem uma estimativa da taxa de produção eritrocitária, uma medida da eritropoese efetiva.

Melhor do que simplesmente a porcentagem, uma expressão significativa da eritropoese pode ser observada pela: contagem absoluta = reticulócitos (%) x eritrócitos totais; índice de reticulócitos = reticulócitos (%) x (hematócrito observado/hematócrito normal); índice de produção dos reticulócitos = (índice de reticulócitos) x (1/ tempo de maturação).

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Os eritrócitos (RBC), também chamados de hemácias, constituem os elementos figurados mais abundantes no sangue periférico. Seu valor de referência varia conforme a idade e sexo. Para um adulto do sexo masculino, varia de 4,3 a 6,0 M/mm3, e para o sexo feminino, de 3,9 a 5,3 M/mm3.

A hemoglobina (Hb) é o seu principal componente das hemácias, cuja função principal é o transporte de oxigênio e gás carbônico. Para um adulto do sexo masculino, sua concentração pode variar de 13,5 a 17,8 g/dL, e para o sexo feminino, de 12,0 a 16,0 g/dL.

O hematócrito (Ht) é a razão entre o volume eritrocitário em relação ao volume total de sangue, sendo expresso em uma porcentagem. O valor de referência para a homem adulto é de 41 a 54%, e para uma mulher adulta, de 36 a 48%.

De um modo geral, ele corresponde a aproximadamente 3x o valor da hemoglobina.

Índices eritrocitários (hematimétricos)

Introduzidos por Wintrobe, são utilizados para a caracterização morfológica das anemias. A partir do número absoluto de eritrócitos, da concentração da hemoglobina e do hematócrito, eles podem determinar o tamanho, concentração de hemoglobina e o conteúdo dos eritrócitos.

O VCM (volume corpuscular médio) corresponde ao volume médio dos eritrócitos, expresso em femtolitros (fL), calculado pela seguinte equação: VCM (femtolitros) = Ht(%) x 10 / eritrócitos (milhões por mm3). Valor de referência para um adulto: 80 a 100 fL.

A HCM (hemoglobina corpuscular média) representa o conteúdo (peso) de Hb do eritrócito, expresso em pictogramas (pg). HCM (picogramas) = Hb (g/dL) / número de eritrócitos (x 1012 L). Valor de referência para um adulto: 27 a 33 pg.

Já a CHCM (concentração da hemoglobina corpuscular média) é a concentração média de hemoglobina em um volume determinado de eritrócitos, expressando o resultado em g/dL. CHCM = Hb (g/dL) / Ht (%). Seus valores de referência para um adulto variam de 32 a 36 g/dL.

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Outros índices podem ser obtidos pelos aparelhos hematológicos automatizados:

  • HDW (Hemoglobin Distribution Width): corresponde ao grau de anisocromia (variação da concentração de hemoglobina dos eritrócitos), expresso em g/dL. VR: 2,2 a 3,2 g/dL.
  • RDW (Red Distribution Width) ou índice de anisocitose: avalia a variação do tamanho dos eritrócitos, expresso em porcentagem. VR: 11,0 a 14,5%.

Apesar da grande evolução tecnológica e precisão dos contadores hematológicos automatizados, a análise microscópica das extensões sanguíneas em lâmina (hematoscopia) ainda é imprescindível em alguns casos, devendo ser avaliada muito criteriosamente pelo microscopista.

Referências bibliográficas:

  • Henry JB. Diagnósticos Clínicos e Tratamento por Métodos Laboratoriais. 20ª ed. São Paulo: Editora Manole; 2008.
  • Jacobs DS, Demott WR, Oxley DK. Jacobs & demott laboratory test handbook with key word index, 5th ed. Hudson, OH: Lexi-Comp, Inc; 2001.
  • Kanaan S. Laboratório com interpretações clínicas. 1a ed. Rio de Janeiro: Atheneu; 2019.

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