Úlcera Terminal de Kennedy: principais intervenções de Enfermagem

A Úlcera Terminal de Kennedy caracteriza-se por ser um tipo de lesão por pressão que aparece de forma espontânea em pacientes com doenças avançadas.

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Quantas vezes você já se deparou com uma lesão de pele que evolui rapidamente em pacientes com doenças avançadas? Muitos enfermeiros talvez já observaram que os pacientes que estão nos últimos dias de vida apresentam uma falência orgânica progressiva com múltiplas manifestações clínicas que surgem dia a dia.

Desta maneira, a pele sendo o maior órgão do corpo humano, também inicia um processo de despedida de suas funções e um dos sinais mais frequentes e pouco conhecido é a Úlcera Terminal de Kennedy (UTK); observada pela primeira vez em 1983 pela enfermeira americana Karen Lou Kennedy e descrita em 1989 na conferência do National Pressure Ulcer Advisory Panel (NPUAP). 

A UTK caracteriza-se por ser um tipo de lesão por pressão que aparece de forma espontânea, geralmente, como uma lesão por pressão estágio II similar uma abrasão e evolui rapidamente (horas, dias) para uma lesão estágio IV em pacientes com doenças avançadas. Além destas características, a UTK apresenta algumas peculiaridades que a diferenciam de Lesões por Pressão (LPP): 

  • Localiza-se principalmente na região sacral ou dorso das costas;
  • As bordas são irregulares; 
  • Pode ter um formato semelhante a uma “pera ou borboleta ou ferradura”; 
  • Sua coloração inicia-se com vermelho ou roxo e evolui para amarelo e/ou preto rapidamente;
  • Tem evolução muito rápida, geralmente horas. 

Quando a UTK está associada a outras manifestações clínicas comuns da fase final de vida, pode ser considerado sinal prognóstico para as últimas horas ou dias do paciente. A enfermeira Kennedy em 1989, apresentou um estudo retrospectivo de 5 anos com 500 pessoas que apresentavam lesões por pressão em relação a taxa de prevalência de lesões por pressão no serviço em que trabalhava, descobrindo que pacientes que desenvolviam lesões por pressão em sua instituição morriam dentro de 2 semanas ou poucos meses. E ainda cerca de  55,7% das pessoas com lesões por pressão e doença avançada morreram dentro de 6 semanas após o início.

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Outro estudo realizado em pacientes sob a abordagem dos Cuidados Paliativos e com doença avançada observou que 62,5% dos pacientes que desenvolviam lesões por pressão morriam dentro de duas semanas. Os estudos fundamentam a falência da pele como preditor de últimos dias de vida.

A abordagem para este tipo de lesão deve ser multidimensional, o profissional deve sempre seguir as diretrizes gerais para prevenção e cuidados com a pele e deve também compreender o estágio da doença principal e as principais necessidades. O plano de cuidado e as intervenções devem ser realizadas com proporcionalidade e todos os profissionais e cuidadores devem compreender que a prioridade é o conforto do paciente, controle de sintomas e prevenção de sofrimentos. 

Principais intervenções de enfermagem em pacientes com Úlcera Terminal de Kennedy (UTK):

  • Orientar os principais cuidadores sobre a falência de pele na fase final de vida, esclarecendo dúvidas e assegurando que as lesões não são por falta de cuidados;
  • Realizar reunião familiar;
  • Orientar os familiares sobre a proximidade da morte;
  • Ofertar apoio emocional;
  • Realizar um plano de cuidados individualizado com cuidados para as principais necessidade e medidas preventivas para complicações;
  • Realizar mudanças de decúbito com intervalos maiores. Mudanças frequentes objetivando prevenir lesões podem causar mais dor que benefícios;
  • Otimizar o posicionamento. O paciente pode ter uma posição que minimize a dor e ofereça conforto respiratório;
  • Administrar medicações para controle de sintomas, principalmente dor. Recomenda-se em torno de 30 minutos antes dos curativos, banho ou procedimentos realizar dose de resgate com analgésico prescrito; 
  • O tratamento proposto deve seguir as recomendações para Lesões por Pressão, desde que não cause desconforto ao paciente;
  • Avaliar a lesão e prescrever curativo. Recomenda-se uso de placas superabsorventes para lesões exsudativas, coberturas impregnadas com prata para lesões que apresentem infecção ou odor e coberturas com múltiplas camadas e espuma para conforto do paciente;
  • Avaliar a proporcionalidade e indicação de desbridamento. O desbridamento deve ser discutido previamente, pois pacientes em fase final de vida não se beneficiam deste procedimento, portanto não é indicado;
  • Avaliar odor. Recomenda-se além das medidas para controle de odor através do curativo, deixar um copo com sementes de café no quarto ou próximo ao leito do paciente;
  • Priorizar sempre o conforto do paciente, a compreensão do processo pela família e a serenidade da partida. 

As UTK são um anúncio do momento de partida e não há prognóstico de cicatrização ou remissão para este tipo de lesão. No entanto, pode ser um convite aos familiares e pessoas do convívio do paciente a estarem presente e se despedirem aos poucos de seu ente querido.

Os profissionais envolvidos no cuidado também estão convidados a refletir sobre os melhores cuidados para fase final de vida, que prioriza uma morte serena com sintomas controlados, sofrimentos prevenidos e familiares acolhidos diante do luto. 

Referências bibliográficas:

  • Kennedy KL. The prevalence of pressure ulcer in an intermediate care facility. Decubitus. [Internet]; 1989; [citado em outubro de 2019]: 2(2):44–45.
  • Hanson D, Langemo DK, Olson B, et al. The prevalence and incidence of pressure ulcers in the hospice setting: analysis of two methodologies. Am J Hosp Palliat Care. [Internet]; 1991; [citado em outubro de 2019]: 8(5):18–22.
  • Polastrini RTV, Yamashita CC, Kurashima AY. Enfermagem e o Cuidado Paliativo. In: SANTOS, Franklin Santana. (org). Cuidados Paliativos: diretrizes, humanização e alívio dos sintomas. São Paulo: Atheneu, 2011. Cap. 30. pp. 277-283.
  • Roca-Biosca A, Rubio-Rico L, Velasco-Guillen MC. et al. Adecuación del plan de cuidados ante el diagnóstico de úlcera terminal de Kennedy. Enfermeíra Intensiva. [Internet]; 2016; [citado em outubro de 2019].
  • Kennedy Terminal Ulcer (site). Understanding Kennedy Terminal Ulcer. [Internet]; 2014; [citado em outubro de 2019].

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