Um aprimoramento da técnica do esfregaço direto para o diagnóstico de tuberculose pulmonar

A tuberculose pulmonar, causada pelo Mycobacterium tuberculosis, ainda é um grave problema de saúde pública no mundo.

A tuberculose pulmonar — doença bacteriana milenar, causada pelo Mycobacterium tuberculosis — ainda é um grave problema de saúde pública no mundo, notadamente nas regiões com baixo desenvolvimento socioeconômico. 

O Brasil figura na lista, emitida pela Organização Mundial da Saúde (OMS), dos 30 países com alta carga de tuberculose e tuberculose + HIV (coinfecção), considerados prioritários para o controle da infecção. Esses países são responsáveis por, nada menos que, 90% de todos os casos de tuberculose no mundo.

Sem dúvidas, um dos pilares para o seu devido controle passa, necessariamente, pelo seu adequado diagnóstico à nível laboratorial. A técnica mais empregada em nosso meio, por diversos motivos, é a microscopia direta do esfregaço com a coloração de Ziehl-Neelsen, conhecida genérica e popularmente como “BAAR do escarro”.

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Essa metodologia apresenta algumas vantagens, como sua simplicidade técnica, alta disponibilidade nos Laboratórios Clínicos, seu baixo custo e da rapidez dos resultados. Entretanto, muitos pacientes com tuberculose ativa podem apresentar resultados negativos (falsos negativos), notadamente em indivíduos com algum grau de imunocomprometimento (ex.: crianças, coinfecção por HIV/Aids). Outra desvantagem se dá em relação às questões de biossegurança, já que a manipulação da amostra gera aerossóis com bactérias viáveis, o que pode levar a uma contaminação dos profissionais de saúde.

Um estudo da Fiocruz/PE, buscou avaliar, dentre outros objetivos, a acurácia do aprimoramento dos procedimentos do esfregaço direto convencional por microscopia óptica, em relação a outros métodos rotineiros.

Um aprimoramento da técnica do esfregaço direto para o diagnóstico de tuberculose pulmonar

O procedimento da microscopia direta de esfregaço modificada/processada

Com a finalidade de incrementar a acurácia do método tradicional da microscopia direta do esfregaço, os autores propuseram adicionar um tratamento químico, seguido de uma sedimentação espontânea das amostras, previamente à confecção da lâmina.

Ao escarro é adicionado uma quantidade de água sanitária (hipoclorito de sódio – NaClO a 2,0-2,5%) correspondente a duas vezes o volume da amostra, homogeneizando-a em seguida. Essa mistura é deixada em repouso por 10 minutos, a fim de inativar o M. tuberculosis, além de outras possíveis bactérias contaminantes. Esse líquido é então vertido em um tubo cônico com tampa, sendo homogeneizado para uma melhor digestão química do material orgânico. O tubo é mantido em temperatura ambiente por cerca de 12 a 18 horas para sedimentação espontânea.

O sobrenadante é desprezado, sendo aproveitado apenas o depósito no fundo do tubo. Esse material é então colocado em uma lâmia de vidro, onde é espalhado pela superfície. Após esse procedimento deixa-se secar ao ar em temperatura ambiente, e então procede-se com a coloração de Ziehl-Neelsen e a posterior avaliação microscópica.

Preparação convencional versus modificada

As amostras de escarro foram coletadas de pacientes com sinais e sintomas de tuberculose, nas unidades de saúde da cidade de Recife/PE. Elas foram submetidas a quatro metodologias diferentes {microscopia direta convencional, microscopia direta modificada, teste rápido molecular (Xpert® MTB/RIF) e cultura}. Os resultados obtidos foram comparados entre si e com a técnica considerada padrão ouro (cultura).

Das 1.348 amostras analisadas, quando comparadas entre a preparação convencional e a modificada, 13,8% (n=186) e 18% (n=243) foram positivas para BAAR, respectivamente. Dentre os resultados negativos, houve uma concordância de 1.105 amostras (82%). Pôde ser observado um aumento de 31% da positividade entre as técnicas (mais 57 amostras na preparação modificada).

Conclusão

A microscopia direta do escarro, preparada mediante tratamento químico (água sanitária) e sedimentação espontânea, elevou significantemente a detecção de BAAR em amostras negativas pela técnica convencional. Além disso, devido à inativação bacteriana proporcionada pela água sanitária, ela reduz os riscos de contaminação dos profissionais do laboratório pelos aerossóis, melhorando assim a biossegurança. 

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Essa modificação da técnica mostrou-se ser simples, barata e acurada para o diagnóstico e controle do tratamento da tuberculose. Ela pode ser facilmente implantada e disponibilizada no sistema básico de saúde, o que irá facilitar o acesso à testagem e, dessa forma, contribuir para o controle dessa doença infecciosa.

Referências Bibliográficas:

  • Magalhães JLO, et al. Microscopia direta de amostra de escarro concentrado em água sanitária para diagnóstico de tuberculose pulmonar. J. Bras. Patol. Med. Lab. 2021;57:1-8. doi: 10.5935/1676-2444.20210008

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