Uma revisão sobre policitemia vera e trombocitemia essencial

A policitemia vera e a trombocitemia essencial são neoplasias mieloproliferativas crônicas que causam aumento do risco de eventos trombóticos e sangramento.

A policitemia vera (PV) e a trombocitemia essencial (TE) são neoplasias mieloproliferativas crônicas que cursam, classicamente, com aumento do risco de fenômenos trombóticos e sangramento. Estatisticamente, a idade de diagnóstico das duas doenças gira em torno de 60 anos.

O quadro clínico da PV envolve anormalidades hipertensivas e vasculares, como cefaleia, distúrbios visuais, prurido, eritromelalgia e parestesia. Devemos pesquisar PV em alguns tipos de tromboses, como mesentérica, portal, esplênica e na síndrome de Budd Chyari.

Já em relação à TE, além de trombocitose, podemos encontrar esplenomegalia, sintomas vasomotores, perda fetal e sangramentos. Atentar sempre à contagem plaquetária maior que 1 milhão: com tamanha quantidade de plaquetas circulantes, o risco de sangramento (atentar a pesquisa de doença de Von Willebrand adquirida) e trombose arterial aumenta.

Morfologicamente, na PV, encontramos panmielose e megacariócitos pleomórficos e em número aumentado. Já em relação à TE, caracteriza-se por trombocitose e megacariócitos maduros, grandes e hiperlobulados.

Para realização do diagnóstico de PV, em 2018 a WHO (Classificação OMS) incluiu o mínimo de hemoglobina (Hb) 16,5 g/dL ou hematócrito (HCT) 49% para mulheres e 16 g/dL ou 48% para homens, ou massa eritrocitária aumentada e outros dois critérios maiores: biópsia de medula óssea e presença de JAK2 V617 ou JAK2 exon 12. O único critério menor inclui níveis subnormais de eritropoietina. O diagnóstico pode ser feito com três critérios maiores ou dois maiores e um menor. Biópsia de medula óssea não é fundamentalmente necessária para o diagnóstico, porém revela informações importantes, como o grau de fibrose medular, se houver.

Mais da autora: Hemocromatose: uma revisão da prática

Em relação ao diagnóstico da TE, precisamos encontrar: contagem plaquetária maior que 450×109/L, demonstração de uma das mutações: JAK2, CALR ou MPL ou na ausência delas, exclusão de outras causas de trombocitose. Cerca de 10% dos pacientes portadores de TE são triplo negativos para essas mutações. A biópsia de medula óssea avalia grau de fibrose, se existir, e diferenciação entre outras neoplasias mieloproliferativas.

Uma vez diagnosticado, o paciente passa por uma estratificação de risco da PV com as seguintes variáveis:

Estratificação de Risco

Manejo Clínico

Baixo Risco: < 60 anos e sem trombose Flebotomia, AAS baixa dose, avaliação risco cardiovascular
Alto Risco: todos os demais pacientes Flebotomia, AAS baixa dose, avaliação risco cardiovascular e terapia citorredutora

Em relação à TE, a estratificação de risco segue as seguintes orientações:

Estratificação de Risco

Atributos

Manejo Clínico

Muito Baixo Idade ≤ 60 anos, JAK2 não detectada, sem trombose Observação ou baixa dose aspirina
Baixo Idade ≤ 60 anos, JAK2 V617F mutada, sem trombose Baixa dose de aspirina (1 ou 2x/dia)
Intermediário Idade > 60 anos e JAK2 V617F mutada, sem trombose Citorredução + aspirina
Alto* Idade > 60 anos, JAK2 V617F mutada e trombose prévia Citorredução + anticoagulação sistêmica (1 ou 2x/dia). Avaliar aspirina.

Atenção: Em caso de avaliação cardiovascular positiva para doença coronariana, o uso da aspirina em baixa dose, se não houver contraindicações, deve ser feito.

O tratamento da PV é baseado na flebotomia com incremento da aspirina e citorredução, caso necessário, enquanto o tratamento da TE é baseado na citorredução, também com incremento de aspirina ou até anticoagulação quando indicado.

Por fim, as complicações hematológicas a médio e longo prazo das duas doenças incluem transformação para mielofibrose, síndrome mielodisplásica e/ou leucemia mieloide aguda.

Veja também: Meu paciente apresenta eosinofilia, o que devo fazer?

Referências bibliográficas:

  • Swerdlow SH. WHO Classification of Tumours of Haematopoietic and Lymphoid Tissues. WHO Classification of Tumours, Revised 4th Edition, 2017.
  • Tefferi, A., Vannucchi, A.M. & Barbui, T. Essential thrombocythemia treatment algorithm 2018. Blood Cancer Journal 8, 2 (2018) doi:10.1038/s41408-017-0041-8.
  • Tefferi, A, MD. Prognosis and Treatment of Polycytemia Vera. UpToDate Inc. https://www.uptodate.com (Accessed on December 26, 2019).
  • Tefferi, A, MD. Prognosis and Treatment of Essential Thrombocytemia. UpToDate Inc. https://www.uptodate.com (Accessed on December 26, 2019).

Avaliar artigo

Dê sua nota para esse conteúdo

Selecione o motivo:
Errado
Incompleto
Desatualizado
Confuso
Outros

Sucesso!

Sua avaliação foi registrada com sucesso.

Avaliar artigo

Dê sua nota para esse conteúdo.

Você avaliou esse artigo

Sua avaliação foi registrada com sucesso.

Baixe o Whitebook Tenha o melhor suporte
na sua tomada de decisão.