Uso de antibióticos na gestação: existe associação com o peso de nascimento da prole?

O uso de antibióticos no período pré e pós-natal tem sido apontado em alguns estudos como um contribuinte do peso de nascimento em neonatos. Saiba mais.

A epidemia de obesidade infantil tem sido apontada como um dos maiores problemas de saúde pública enfrentados pelas sociedades ocidentais. Vários fatores apresentam impacto no desenvolvimento desse quadro, incluindo fatores genéticos e ambientais. 

Estudos têm apresentado o peso de nascimento como um fator potencialmente relacionado ao desenvolvimento da obesidade infantil. Crianças com peso de nascimento aumentado são consideradas de alto risco para o posterior desenvolvimento de obesidade. 

O uso de antibióticos no período pré e pós-natal tem sido apontado em alguns estudos como um contribuinte do peso de nascimento em neonatos, e assim, pode ser um fator contribuinte para o desenvolvimento de obesidade a longo prazo nessas crianças. Dentre os mecanismos sugeridos para o aumento do peso de nascimento relacionado ao uso de antibióticos, incluem-se mudanças na microbiota materna e alterações no metabolismo energético do feto. O uso de antibióticos no período pós-natal tem sido relacionado ao sobrepeso e obesidade, principalmente em meninos. Com relação ao uso de antibióticos no período gestacional e peso de nascimento, existem poucos estudos, mas que apontam uma associação, tanto para baixo quanto para alto peso de nascimento.

Uso de antibióticos no período gestacional: existe uma associação com o peso de nascimento da prole?

Novo estudo

Um artigo publicado no periódico Pediatric Obesity, em junho de 2021, traz um novo estudo sobre o tema. O interessante desse trabalho foi a utilização de dados de uma coorte populacional para avaliação da associação entre uso de antibióticos na gestação e aumento do peso ao nascer, trazendo assim maior poder estatístico para avaliar a questão. Além disso, o estudo também trouxe dados para investigação da relação entre o período de exposição ao antibiótico, prematuridade e sexo da prole, com relação à associação com o peso de nascimento. 

Foram analisados dados de 63300 mulheres gestantes participantes do Danish National Birth Cohort (DNBC). As mulheres foram consideradas expostas ao uso de antibióticos e responderão positivamente ao uso desses fármacos durante suas gestações. Outros dados analisados incluíram o peso de nascimento das crianças, idade gestacional, idade materna, sexo da criança, paridade, status socioeconômico, uso de tabaco durante a gestação, índice de massa corporal (IMC) materno, ganho de peso durante a gestação, hipertensão materna no primeiro trimestre e diabetes mellitus materno ou gestacional. Modelos de regressão linear foram utilizados para avaliação de associação entre exposição materna a antibióticos durante a gestação e o peso de nascimento da prole, com e sem ajuste para possíveis confundidores potenciais. Além disso, também foram realizadas análises estratificadas por prematuridade e sexo da criança. 

Resultados

Um total de 11052 mulheres citaram o uso de antibióticos durante a gestação. A média de peso de nascimento foi de 3611 g, com 2,11% da prole apresentando baixo peso ao nascer (< 2500 g) e 23,73% com alto peso ao nascer (> 4000 g).

As análises de regressão linear não demonstraram associação entre o uso de antibióticos no período gestacional e o peso de nascimento, inclusive quando realizadas a análise estratificada por sexo ou prematuridade. Na análise estratificada por sexo e prematuridade, houve uma associação entre a exposição aos antibióticos e maior peso de nascimento em meninos prematuros. A exposição aos antibióticos no segundo ou terceiro trimestre da gestação esteve associada, de forma limitada, ao baixo peso de nascimento. 

O estudo apresenta resultados discrepantes com outros apresentados na literatura especializada. Os autores sugerem que essas diferenças possam ocorrer devido à amostra maior e de coorte populacional utilizada neste estudo, que pode demonstrar maior potencial de descartar resultados devido a fatores de confundibilidade. Apesar disso, como o estudo foi realizado baseado no relatório das mulheres, pode não representar adequadamente a realidade. 

Leia também: Obesidade infantil: vamos falar sobre e como evitá-la?

Mais estudos são necessários para esclarecimento da questão. Profissionais de saúde que lidem com cuidados materno-infantis devem se atentar ao potencial nocivo de antibióticos nessa população, devendo sempre pesar os benefícios e riscos relacionados a essa conduta. Nos casos em que o tratamento com antibióticos for inevitável, o acompanhamento e avaliação de fatores de risco da prole pode ser necessário. 

Referências bibliográficas:

  • TOMAR, Nupoor et al. Prenatal antibiotic exposure and birth weight. Pediatric Obesity, p. e12831, 2021. doi: 10.1111/ijpo.12831

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