Uso de antimicrobianos: balanceando os riscos e benefícios

O uso racional de antimicrobianos continua configurando como uma das prioridades na Saúde Pública mundial e na era da medicina moderna.

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O uso racional de antimicrobianos continua configurando como uma das prioridades na Saúde Pública mundial e na era da medicina moderna. Por um lado, temos os antibióticos como nossa principal alternativa para terapia contra doenças infecciosas bacterianas potencialmente fatais, prevenindo de milhões de mortes anualmente. Por outro, inúmeras evidências têm surgido quanto aos benefícios da prevenção ao uso de antibióticos sem indicação significativa para tal uso, de forma a evitar a emergência da resistência a antimicrobianos ou a contribuição para aumento da proporção de doenças infecciosas não tratáveis devido à resistência a múltiplas drogas, limitando o arsenal de opções atuais disponíveis. De fato, o uso preciso do antimicrobiano consiste na principal medida que liga o médico em sua atividade individual no cuidado com o paciente aos resultados para a sociedade como um todo.

Em suas considerações para a Journal of Infectious Diseases (2018), Flashe e Atkins ressaltam, baseados em diferentes exemplos de estudos publicados recentemente que:

– A compreensão do impacto clínico no tratamento de doenças com antibióticos e da pressão seletiva a ser exercida durante o uso consistem em elementos fundamentais para a otimização de estratégias para a prescrição de medicamentos, exemplo: estudo realizado por Lewnard et al (2018) com tratamento de doenças pediátricas por Streptococcus pneumoniae no qual verifica-se que o uso de amoxicilina-clavulanato para tratamento de otite media em crianças reduz o contingente de pneumococos sensíveis a penicilina, mas não os microrganismos não suscetíveis. Tais achados indicam que o tratamento confere vantagem dupla para as cepas não suscetíveis: (i) Eliminação de competidores da mesma espécie em sítios de colonização e (ii) Bloqueio da recolonização por cepas susceptíveis, não somente durante o tratamento, mas dias a semanas após o término. A proporção de colonização por cepas não susceptíveis pode aumentar de 2 a 5x após o tratamento, mesmo que não seja de forma linear.

A percepção desses aspectos acima, apesar de simplória e, de certa forma, esperada, chama a atenção para o fato que permanece impossível quantificar os efeitos benéficos da antibioticoterapia com os riscos de contribuição para a maior prevalência da resistência a antimicrobiana e os efeitos para a Saúde Pública, já que não há, em geral, como não utilizar antibióticos para o tratamento de doenças bacterianas e consequentemente aumentar a proporção da colonização por cepas não suscetíveis no individuo. Seria algo como um destino traçado. O estudo de Lewnard et al (2018) também indica a necessidade de mudanças nos modelos de estudo que envolvem a transmissão para a avaliação da pressão seletiva na transmissão de pneumococos.

Mais informações sobre essa discussão podem ser obtidas em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/29873748.

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Referências:

  • Cobey S, Baskerville EB, Colijn C, Hanage W, Fraser C, Lipsitch M. Host population structure and treatment frequency maintain balancing selection on drug resistance. J R Soc Interface. 2017; 14(133):20170295.
  • Flasche S, Atkins KE. Balancing benefits and risks of antibiotic use. J. Infect. Dis. 2018 Jun 5. doi: 10.1093/infdis/jiy344. [Epub ahead of print]
  • Lehtinen S, Blanquart F, Lipsitch M, Fraser C. Mechanisms that maintain coexistence of antibiotic sensitivity and resistance also promote high frequencies of multidrug resistance. bioRxiv. 2017.
  • Lewnard et al. Impact of antimicrobial treatment for acute otitis media on carriage dynamics of penicillin-susceptible and penicillin-non-susceptible Streptococcus pneumoniae. J Infect Dis. 2018.
  • Skalet AH, Cevallos V, Ayele B, et al. Antibiotic Selection Pressure and Macrolide Resistance in Nasopharyngeal Streptococcus pneumoniae: A Cluster-Randomized Clinical Trial. Opal SM, editor. PLoS Med. 2010; 7(12):e1000377.

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