Uso de betabloqueadores piora os sintomas depressivos?

Apesar do começo promissor, cada vez mais estudos têm mostrado resultados desanimadores em relação ao uso de betabloqueadores.

Apesar do começo promissor, cada vez mais estudos têm mostrado resultados desanimadores em relação ao uso de betabloqueadores. Uma nova pesquisa feita na Dinamarca mostrou a relação entre o fármaco, ansiedade social, fobia, risco de depressão e suicídio.

Pesquisadores analisaram o uso de betabloqueadores em estudantes, que utilizaram o fármaco para diminuir a ansiedade antes de provas. Para isso, eles pegaram dados demográficos da Dinamarca, matrículas escolares, prescrições e condições médicas.

O coorte foi de 12.147 estudantes saudáveis ​​identificados com uma prescrição de betabloqueador (média de idade: 19 anos; intervalo: 14-30; 80% do sexo feminino), combinado com grupo de controle de não-usuários. A maior parte dos estudantes (59%) recebeu prescrição de pacotes de 100 comprimidos.

Veja também: ‘Betabloqueadores: A melhor escolha na sepse + FA’

Durante 16 anos de seguimento, os betabloqueadores foram associados com riscos significativamente aumentados para o uso de antidepressivos (HR ajustado 1,68), outras medicações psicotrópicas (HR 1,93) e tentativas de suicídio (HR 2,67). As prescrições de antidepressivos foram significativamente mais elevadas nos participantes do sexo masculino (HRs 2,14 vs. 1,62 do sexo feminino).

Após uma prescrição de betabloqueador, o tempo médio para uma primeira prescrição de antidepressivos ou outros psicotrópicos foi de cerca de cinco anos; e cerca de três anos foi o tempo médio para uma tentativa de suicídio.

Pelos resultados, os pesquisadores sugerem que, em estudantes saudáveis, o uso de betabloqueadores foi associado a um risco aumentado de resultados psiquiátricos.

E mais: ‘1 em cada 4 estudantes de medicina sofre de depressão. E o pior: não procuram ajuda!’

Dr. Marcos Fidry Muniz, médico psiquiatra, dá sua opinião sobre o tema:

“O uso dos betabloqueadores na psiquiatria surgiu muito promissor, principalmente com a possibilidade de “driblar” os efeitos adrenérgicos dos transtornos ansiosos e potencializar o efeito de antidepressivos através de efeitos serotoninérgicos e simpatomiméticos. No entanto, cada vez mais estudos mostram resultados conflitantes, mostrando-os pouco eficazes ou mesmo piorando sintomas depressivos e ansiosos, como mostra este estudo.

A indicação deles hoje na prática psiquiátrica é muito restrita, há o uso aceito apenas em casos de transtorno de ansiedade social (antiga fobia social) de desempenho, para diminuir tremores e possíveis efeitos adrenérgicos. Seu uso é também preconizado nos possíveis efeitos colaterais de outras medicações, como acatisia no uso de antipsicóticos e tremores no uso de lítio.

Vale lembrar que os betabloqueadores mais eficazes nas suas indicações são os que tem boa penetração na barreira hemato-encefálica, como o propranolol e o pindolol. O uso deve respeitar também possíveis interações medicamentosas, já que boa parte dos psicofármacos já produz algum efeito na condução cardíaca, como prolongamento de espaço QT, o que poderia potencializar o efeito arritmogênico.

Muitos estudos apontam seu uso como um possível fator de risco para depressão,como este estudo. Cada vez mais seu uso se restringe, devendo ser indicado apenas em casos bastante específicos”, finaliza Dr. Marcos.

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Referências:

  • Butt JH et al. Beta-blockers for exams identify students at high risk of psychiatric morbidity. J Child Adolesc Psychopharmacol 2016 Oct 26; [e-pub]. (https://dx.doi.org/10.1089/cap.2016.0079)

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