Uso de calfactante em aerossol em neonatos com síndrome do desconforto respiratório

Em estudo o calfactante em aerossol na dose de 210 mg de fosfolipídios/kg reduziu a intubação e a instilação de surfactante pela metade.

Um estudo realizado nos Estados Unidos mostrou que, em recém-nascidos (RN) com dificuldade respiratória inicial de leve a moderada, o calfactante em aerossol na dose de 210 mg de fosfolipídios/kg de peso corporal reduziu a intubação e a instilação de surfactante quase pela metade. O artigo Aerosolized Calfactant for Newborns With Respiratory Distress: A Randomized Trial foi publicado no jornal Pediatrics.

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Os surfactantes de origem animal diminuem a morbidade e a mortalidade entre os RN com síndrome do desconforto respiratório (SDR). A administração precoce de surfactante diminui o risco de lesão pulmonar e óbito neonatal em comparação com o tratamento tardio. A literatura sugere que o tratamento deva começar assim que os sinais de SDR surgirem. No entanto, a intubação endotraqueal, necessária para a administração de surfactante intratraqueal, pode ser difícil e prejudicial. As taxas de falha na primeira tentativa são altas e várias tentativas estão associadas a complicações. A lesão pulmonar ocorre com mais frequência em RN que precisam de intubação porque mesmo o uso breve de ventilação com pressão positiva inicia uma cascata inflamatória, levando a dano alveolar. Métodos menos invasivos de administração de surfactante estão sendo estudados na tentativa de evitar as complicações da intubação, incluindo o uso de um cateter intratraqueal ou dispositivo supraglótico para vias aéreas. Ambos os métodos, entretanto, ainda submetem o RN à manipulação das vias aéreas e/ou ventilação com pressão positiva. A administração de surfactante em aerossol evita a manipulação das vias aéreas e não requer habilidade técnica. Em modelos animais de SDR, o surfactante em aerossol mostrou melhorar as trocas gasosas e a mecânica pulmonar com menos distúrbios fisiológicos, além de sugerir uma distribuição mais homogênea do medicamento com essa forma de administração.

Uso de calfactante em aerossol em neonatos com síndrome do desconforto respiratório

Newborn baby boy covered in vertix inside incubator

Método do estudo

Com a hipótese de que a aerossolização eficiente de um surfactante com baixa viscosidade, no início do curso de SDR poderia reduzir a necessidade de intubação e instilação de surfactante líquido, os pesquisadores Cummings e colaboradores conduziram um estudo comparativo prospectivo, multicêntrico, randomizado e não cego de calfactante em aerossol (Infasurf®) em neonatos com sinais de SDR que exigiram suporte ventilatório não invasivo. A suspensão intratraqueal Infasurf® é um surfactante pulmonar estéril apirogênico destinado apenas à instilação intratraqueal. É um extrato de surfactante natural do pulmão de bezerros que inclui fosfolipídios, lipídios neutros e proteínas B e C associadas ao surfactante hidrofóbico (SP-B e SP-C).

O calfactante foi administrado em aerossol usando um nebulizador Solarys® modificado com um adaptador de chupeta (o Solary®s é um dispositivo aprovado pelo Food and Drug Administration para a administração de medicamentos em pacientes intubados). Uma dose de 6 mL/kg (210 mg de fosfolipídeo/kg de peso corporal) foram administrados diretamente na boca do bebê. Os RN do grupo aerossol receberam até 3 tratamentos com, pelo menos, 4 horas de intervalo. Os RN do grupo controle receberam cuidados habituais, com intubação e instilação de surfactante.

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Foram incluídos 457 RN de 22 Unidades de Terapia Intensiva Neonatal americanas. A mediana da idade gestacional foi de 33 semanas e a mediana do peso dos bebês ao nascer foi de 1960 gramas. No total, 230 RN foram aleatoriamente designados para o aerossol; 225 receberam 334 tratamentos, começando com uma mediana de 5 horas. As taxas de intubação para instilação de surfactante foram de 26% no grupo de aerossol e 50% no grupo de tratamento usual (P < 0,0001). Os desfechos ventilatórios até 28 dias de vida dos bebês não foram diferentes.

Resultados

De acordo com esse estudo, o calfactante em aerossol pode ser prontamente administrado a RN com dificuldade respiratória leve a moderada e reduz a necessidade de intubação e instilação de surfactante líquido durante os primeiros quatro dias de vida do bebê. Além disso, seu uso evita os riscos associados à intubação endotraqueal e amplia as oportunidades de terapia com surfactante no paciente hospitalizado.

O uso de surfactante em aerossol parece ser bastante promissor, mas acredito que seu custo possa ser um fator limitante à sua utilização em larga escala. Por outro lado, a redução de complicações também promove uma grande redução dos gastos hospitalares. O calfactante não está disponível no Brasil.

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