Uso de corticosteroides em pneumonia grave

Estudo analisou o impacto dos corticosteroides na mortalidade e outros desfechos em pacientes com PAC grave.

A pneumonia adquirida na comunidade (PAC) é uma causa de mortalidade e morbidade em todo o mundo, apesar do uso correto de antibióticos. Casos graves não são incomuns e frequentemente requerem assistência em unidade de terapia intensiva. O uso de corticosteroides em quadros graves de pneumonia têm benefícios nos casos associados a choque séptico e reconhecer pacientes elegíveis ao uso da droga é fundamental.  

Embora os antimicrobianos sejam altamente eficazes na redução da carga bacteriana da infecção pulmonar, eles não modulam diretamente a resposta inflamatória. Dado que a justificativa para o uso de corticosteroides é atenuar a resposta inflamatória, aqueles com o status inflamatório mais alto devem obter o maior benefício. O objetivo deste estudo foi analisar o impacto dos corticosteroides na mortalidade e outros desfechos em pacientes com PAC grave e alta resposta inflamatória. 

Leia também: Guideline para descontinuação de antibióticos no contexto de pneumonias associadas à ventilação mecânica

Uso de corticosteroides em pneumonia grave

Métodos 

Foi um estudo observacional e multicêntrico com dados de duas coortes espanholas. Os critérios de inclusão foram os seguintes: (a) adultos idade ≥ 18 anos ao diagnóstico; (b) PAC confirmada pela radiografia com manifestações clínicas consistentes (por exemplo, febre, tosse, produção de escarro e dor pleurítica); (c) pacientes internados em UTI; (d) pacientes com resposta inflamatória alta, definida como PCR > 15 mg/dL na admissão, com base nos resultados de um estudo anterior, (e) pacientes com critérios maiores para PAC grave de acordo com os critérios ATS/IDSA no baseline. O desfecho principal foi a mortalidade por todas as causas em 28 dias. O desfecho secundário foi o tempo de permanência no hospital. 

Resultados 

Dos 610 pacientes incluídos, 198 (32%) receberam corticosteroides. A dose de corticoide utilizada foi o equivalente de 30 mg de prednisona ou mais, por no mínimo 72 horas, podendo ser prednisona, metilprednisolona ou dexametasona.  O microrganismo mais comum foi o Streptococcus pneumoniae, seguido pelo Staphylococcus aureus, Enterobacteriaceae e Haemophilus influenzae. Pacientes que receberam corticosteroides foram mais comumente do sexo masculino, tinha mais comorbidades (por exemplo, diabetes mellitus, câncer ou doença pulmonar obstrutiva crônica), apresentaram pontuações PSI e SOFA significativamente mais altas e níveis mais baixos de PaO2/FiO2. A mortalidade em 28 dias foi menor entre os pacientes que receberam corticosteroides (16 pacientes [18%]) do que entre aqueles que não o fizeram (28 pacientes [31%]; p < 0,05). As análises de regressão de Cox revelaram que os corticosteroides reduziram o risco de mortalidade em 28 dias, dando um HR de 0,53 (IC 95% 0,29–0,98). Para pacientes que não preencheram os critérios maiores para PAC, a mortalidade em 28 dias foi semelhante entre os grupos (16% [n=9] no grupo de corticosteroides vs 18% [n=10] no grupo não corticosteroide, HR 0,88 (IC 95% 0,32-2,36). 

Saiba mais: Podemos utilizar corticoides na síndrome inflamatória multissistêmica em pediatria?

Discussão 

Os benefícios de mortalidade foram apenas observados entre os pacientes mais graves com PAC recebendo corticoterapia. A mortalidade em 28 dias não diferiu com o uso de corticosteroides na análise pareada ou não pareada para pacientes em UTI com uma alta resposta inflamatória; entretanto, quando analisados apenas os pacientes que necessitaram de ventilação mecânica e/ou apresentaram choque séptico, a mortalidade foi significativamente menor entre aqueles que receberam corticosteroide. Houve redução da mortalidade associada ao uso de corticosteroides apenas nos pacientes considerados mais gravemente doentes de acordo com os critérios da ATS/IDSA, porém, o tema ainda é controverso. É importante lembrar que o estudo é observacional e muitos pacientes receberam corticosteroides em momentos diferentes, sem um protocolo determinado. 

Mensagens práticas: 

  • O uso de corticoides sistêmicos no tratamento da pneumonia permanece controverso, sobretudo quanto à dose e à duração do tratamento;  
  • Pacientes mais beneficiados parecem ser aqueles em ventilação mecânica ou choque, com indícios de resposta inflamatória aumentada; 
  • O controle da resposta inflamatória nos pacientes com PAC ganhou força durante o manejo de pacientes com Covid-19 e parece ter benefício também em pacientes não Covid. 

 

Referências bibliográficas: 

  • Ceccato A, Russo A, Barbeta E, Oscanoa P, Tiseo G, Gabarrus A, Di Giannatale P, Nogas S, Cilloniz C, Menichetti F, Ferrer M, Niederman M, Falcone M, Torres A. Real-world corticosteroid use in severe pneumonia: a propensity-score-matched study. Crit Care. 2021 Dec 16;25(1):432. doi10.1186/s13054-021-03840-x

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