Uso de dantrolene sódico para tratamento de rabdomiólise tardia por Covid-19

Relato de caso de um paciente com diagnóstico de Covid-19 grave evoluindo para hipertermia e rabdomiólise tratado com dantrolene sódico,

Como já é de grande conhecimento científico, as complicações relacionadas a infecção pelo vírus Covid-19 estão muito relacionadas a parte do sistema pulmonar e a linfopenia. Porém, também são encontradas outras patologias associadas a complicações tardias como alterações do sistema nervoso central e periférico, complicações cardíacas como arritmias e cardiomiopatias, coagulopatias e rabdomiólise com evolução para falência múltipla de órgãos e choque. Isso tudo está relacionado a tempestade de citoquinas que acaba promovendo o aumento dos marcadores inflamatórios com hipertermia, trombocitopenia e hiperferritnemia. Esse relato de caso se refere a um paciente de 36 anos com diagnóstico de Covid-19 grave evoluindo para hipertermia e rabdomiólise e que foi tratado com dantrolene sódico, evoluindo com diminuição significativa da creatino quinase (CK), dos níveis de mioglobina, da temperatura assim como também dos marcadores inflamatórios, incluindo a proteína C reativa e ferritina.

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Uso de dantrolene sódico para tratamento de rabdomiólise tardia por Covid-19

Caso clínico

Paciente de 36 anos, sexo masculino, hígido, deu entrada no setor de emergência com quadro de febre, tosse, fadiga e dificuldade respiratória. Negava mialgia. Ao exame físico apresentava estertores pulmonares, temperatura corporal de 39,2 °C, saturação de oxigênio de 92% em ar ambiente, pressão arterial de 141/105 mmHg, FC de 22 irpm e FC de 142 bpm. Raio X de tórax evidenciando infiltrado pulmonar bilateral e tomografia computadorizada pulmonar com imagem sugestiva de infiltrado pulmonar em padrão de vidro fosco bilateral.

Exames laboratoriais: contagem de leucócitos de 5.7×103/microL, linfócitos 11.7, plaquetas 165×103/microL, PCR de 3,17 mg/dL, desidrogenase láctea 220 U/L, CK 170 U/l, mioglobina de 20 ng/mL, creatinina 0,7 mg/dL, D-dimero 0,7 ng/mL e peptídeo natriurético cerebral de 3,9 pg/mL , além de apresentar exame positivo para SARS-CoV-2.

Iniciado tratamento com antipiréticos, oxigenioterapia, azitromicina e ceftriaxona. Quatro dias após, houve piora da sua condição clínica com quadro de febre alta persistente, hipotensão e hipoxemia, evoluindo para intubação traqueal e encaminhado a unidade de tratamento intensivo. No nono dia de internação hospitalar, houve novamente piora do quadro clínico, com aumento da febre e dificuldade de manter os padrões ventilatórios com aumento de CK e da mioglobina (2.6046 U/L e 3.668 ng/mL respectivamente) sendo diagnosticado como quadro de hipertermia maligna como complicação pelo Covid-19, não tendo, supostamente, história familiar nem pregressa da patologia. O paciente foi tratado com dantrolene sódico na dose de 20 mg intravenoso quatro vezes ao dia por dois dias seguido de 50 mg via oral três vezes ao dia por dois dias. Sua temperatura e níveis de CK, mioglobina e ferritina diminuíram e no 17º dia de internação foi extubado e após 28 dias obteve alta hospitalar.

Discussão

Já foram relatados alguns casos de febre e rabdomiólise associados com Covid-19, entretanto, a real relação entre essa complicação e a infeção não está bem esclarecida.

A hipertermia maligna pode ser desencadeada por alguns fatores como exposição a determinados agentes anestésicos ou infecções virais. A possível fisiopatologia está na hipersensibilidade ao cálcio liberado pelo retículo endoplasmático (RE) levando a mutações ou ativações de receptores presentes nas células dos músculos esqueléticos com liberação excessiva de citocinas inflamatórias que desencadeiam contrações musculares intensas com rabdomiólise e aumento da temperatura com elevação dos níveis de mioglobina e CK.

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O dantrolene sódico é uma droga essencial no tratamento dos pacientes com hipertermia maligna por diminuir os índices de CK e da temperatura corporal devido a sua ação nos canais de cálcio do RE, inibindo a sua liberação e bloqueando também a ação da interleucina 6 que é um potente agente liberador de substâncias pirogênicas. Pesquisas recentes demonstraram que hiperpirexia relacionada a uma resposta imunológica exacerbada em pacientes com diagnóstico de SARS-CoV-2 predispõe a uma evolução mais maligna da doença.

No caso em questão, observou-se uma diminuição significativa dos índices de mioglobina, CK e da temperatura corpórea após a administração de dantrolene sódico. Apesar de casos de rabdomiólise por Covid-19 serem raros e estarem ligados supostamente a uma invasão direta do vírus ou das toxinas virais nas células da membrana muscular ou a tempestade de citocinas encontrada nas formas mais graves da doença, no caso em questão não se conseguiu ter a certeza se esta estava ligada a um gatilho do vírus ou se o paciente possuía uma condição hereditária desconhecida. De qualquer forma, o uso de dantrolena se mostrou bastante eficaz no desfecho favorável do caso.

Referências bibliográficas:

  • Chiba N, et al. Beneficial Effects of Dantrolene in the Treatment of Rhabdomyolysis as a Potential Late Complication Associated With COVID-19: A Case Report. European Journal of Medical Research. 2021;26(18). doi: 10.1186/s40001-021-00489-8

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