Uso de drogas: início precoce acelera o desenvolvimento de transtornos?

Estudo mostra que a idade precoce para o uso de drogas está associada a transição mais rápida para o transtorno por uso de substâncias.

Um estudo publicado no jornal JAMA Pediatrics demonstrou que a idade precoce de iniciação ao uso de drogas está associada a uma transição mais rápida para o transtorno por uso de substâncias (TUS). 

Pesquisadores do National Institute on Drug Abuse (parte do National Institutes of Health) em Bethesda, Maryland, Estados Unidos, analisaram dados das Pesquisas Nacionais sobre Uso de Drogas e Saúde de 2015 a 2018, conduzidas pela Administração de Abuso de Substâncias e Serviços de Saúde Mental (2015 to 2018 National Surveys on Drug Use and Health of the Substance Abuse and Mental Health Services Administration), excluindo dados de medicamentos controlados de 2005 a 2014 porque, de acordo com os autores do estudo, nem todas as datas de início foram coletadas em 2015 a 2018.

Pessoa faz uso de drogas

Uso de drogas

Os dados foram analisados em julho de 2020. Os critérios para diagnóstico de TUS foram extraídos do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais quarta edição (Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders Fourth Edition DSM-IV).

Foram avaliadas a proporção, ou prevalência, de adolescentes, com idades entre 12 e 17 anos, e adultos jovens, com idades entre 18 e 25 anos, que tiveram TUS no ano anterior em vários intervalos, considerando desde a primeira vez que eles tivessem usado uma das seguintes drogas: tabaco, álcool, cannabis, cocaína, metanfetamina, heroína e medicamentos prescritos, como opioides, estimulantes e tranquilizantes, usados sem indicação clínica.

Além disso, foram analisados os TUS no ano anterior em quatro períodos de tempo, desde o primeiro uso de drogas: ≤ 12 meses, > 12 a 24 meses, > 24 a 36 meses e > 36 meses.

As substâncias mais comumente usadas foram: álcool, cannabis e tabaco. A prevalência de uso de substâncias ao longo da vida entre adolescentes em 2018 foi de 26,3% para álcool, 15,4% para cannabis e 13,4% para tabaco. No mesmo ano, entre os jovens adultos, a prevalência de uso de substâncias ao longo da vida foi de 79,7% para álcool, 51,5% para cannabis e 55% para o tabaco. A prevalência de TUS diferiu por substância, faixa etária e tempo desde o início.

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Os pesquisadores observaram que a prevalência ajustada de transtorno por uso (TU) de cannabis foi maior entre adolescentes do que entre adultos jovens dentro de 12 meses do início (10,7% versus 6,4%) e em mais de 36 meses (20,1% versus 10,9%). A prevalência de TU de álcool e dependência de nicotina não diferiu entre os dois grupos dentro de 12 meses do início, mas foi maior para adultos jovens em períodos subsequentes. 

Entre os adultos jovens, a prevalência de uso de cocaína, metanfetamina e heroína ao longo da vida em 2018 foi de 11,4%, 2,5% e 1,3%, respectivamente. Em 12 meses do início, a prevalência ajustada foi maior para TU de metanfetamina (24,8%) e heroína (30,9%) do que para cocaína (5,6%). As estimativas para adolescentes não foram relatadas devido ao pequeno tamanho da amostra.

Os pesquisadores descreveram que a prevalência de uso indevido de medicamentos prescritos na vida em 2014 foi de 9,2% entre adolescentes e 26,3% entre adultos jovens. Destaca-se o fato de que, entre a população com uso indevido ao longo da vida, a prevalência ajustada de TU de opioides prescritos, TU de estimulantes prescritos e TU de tranquilizantes prescritos foi consistentemente maior para adolescentes do que para adultos jovens.

A prevalência desde o momento da iniciação para adolescentes foi estável para TU de opioides prescritos e diminuiu para TU de estimulantes prescritos e de tranquilizantes prescritos. Para adultos jovens, a prevalência aumentou para TU de opioides prescritos e ficou estável para TU de estimulantes prescritos e tranquilizantes prescritos.

Há limitações nesse estudo. Isso porque a prevalência de TUS pode ter sido subestimada pois, de acordo com os pesquisadores, o survey exclui indivíduos encarcerados e moradores de rua que não vivem em abrigos e está sujeito a recalls e vieses sociais. 

O que os números dizem sobre o uso de drogas

Esses resultados ressaltam a vulnerabilidade dos adolescentes aos TUS e a importância do rastreamento do uso indevido de substâncias nessa faixa etária. Considerando as altas taxas de óbitos por opioides e o número crescente de mortes por metanfetamina, os pesquisadores ressaltam a necessidade de prevenção, triagem e tratamento de TUS durante a adolescência. 

No Brasil, um levantamento recente indicou que o álcool e o tabaco são as substâncias mais consumidas por adolescentes e que cerca de 5% começaram a experimentar essas drogas antes dos dez anos de idade. Outra pesquisa realizada no país mostrou que 4% dos adolescentes já utilizaram maconha e 3% usaram cocaína ao menos uma vez na vida.

Conclusões

O consumo de drogas na adolescência está associado a inúmeras complicações, como acidentes de trânsito, comportamento sexual de risco, homicídio e suicídio, por exemplo. Infelizmente, apesar das recomendações feitas por órgãos nacionais e internacionais, as medidas de triagem e de prevenção estão muito aquém do desejado. 

Referências bibliográficas:

  • Volkow ND, et al. Prevalence of Substance Use Disorders by Time Since First Substance Use Among Young People in the US. JAMA Pediatr. Published online March 29, 2021. doi: 10.1001/jamapediatrics.2020.6981
  • Pereira, Bruna, et al. Avaliação da versão brasileira da escala CRAFFT/CESARE para uso de drogas por adolescentes. Ciênc. saúde coletiva,  Rio de Janeiro,  v.21, n.1, p.91-99, 2016. doi: 10.1590/1413-81232015211.05192015

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