Libido e menopausa: as novas evidências para reposição de testosterona

O uso da testosterona tem crescido muito nos últimos anos como uma forma de reposição hormonal para recuperar a libido feminina na menopausa.

Com o passar dos anos, as mulheres alcançam a menopausa — mas, antes desse processo, há a diminuição na produção de andrógenos de origem ovariana e adrenal. Os sintomas relacionados a essa queda são evidentes tanto no complexo vulvovaginal, assoalho pélvico e uretra, assim como nas funções sexuais prejudicadas (menos lubrificação vaginal, por exemplo). A testosterona, ao contrário do que muitos pensam, atua para a manutenção desses sítios nas mulheres, em conjunto com o estrogênio.

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A utilização de testosterona na pós-menopausa tem sido largamente discutida e utilizada, muitas vezes sem critério, como em pacientes com sinais clínicos de aumento de andrógenos como alopecia, hirsutismo e acne, que podem ter valores de testosterona normais nos exames laboratoriais.

Diante desse cenário, um Consenso Global Para Uso de Testosterona em Mulheres foi publicado em 2019, para criar um roteiro de como diagnosticar e tratar os distúrbios de ordem sexual nas mulheres. O consenso foi elaborado em conjunto por: Sociedade Internacional de Menopausa, Sociedade de Endócrino, Sociedade Europeia de Menopausa e Andropausa, Sociedade Norte Americana de Menopausa, Federação Latino-Americana de Sociedades de Menopausa e Climatério, Royal College os Obstetricians and Gynecologists, Sociedade Internacional de Endocrinologia, Sociedade de Endócrino da Austrália e The Royal Australian and New Zealand College of Obstetricians and Gynecologists.

Libido e menopausa: as novas evidencias para reposição de testosterona

O consenso publicou as seguintes recomendações:

  1. Verificação dos níveis de testosterona:
    • Os níveis de testosterona parecem manter-se estáveis até os 65 anos idade. Não se sabe se sabe ao certo ainda se isso é benéfico ou não. (nível evidência IIB);
    • Os níveis de testosterona total e livre verificados pelos métodos atuais não são confiáveis no universo feminino (nível evidencia A);
    • As referências laboratoriais devem ser “harmonizadas” com a função biológica de acordo com critérios do CDC (opinião de experts);
  2. Recomendações para diagnóstico desejo sexual hipoativo:
    • Desejo sexual hipoativo e transtorno de excitação feminino são condições diferentes e o uso de androgênios deve ser criterioso para cada uma delas (evidência B);
    • O diagnóstico de desejo sexual hipoativo deve seguir rigor próprio com questionários revisados e aprovados pelas Sociedades de estudo de desejo sexual internacionais ou baseado no CID 11 (opinião de experts);
  3. Androgênios endógenos e função sexual feminina:
    • Não existem dados suficientes de sensibilidade e especificidade para relacionar valores e clínica (evidência C);
  1. Uso de androgênios para tratamento na menopausa (independente do uso ou não de estrogênios):
    • Terapia com testosterona, em doses que se aproximam das concentrações fisiológicas para mulheres na pré-menopausa, exerce um efeito benéfico sobre a função sexual, incluindo aumento acima dos efeitos da terapia placebo/comparada, de uma média de um evento sexual satisfatório por mês, e aumentos nos subdomínios do desejo sexual, excitação, função orgástica, prazer e capacidade de resposta sexual, juntamente com uma redução nas preocupações sexuais, incluindo sofrimento sexual (nível I, grau A).
    • Não se recomenda uso de comprimidos, pílulas, injetáveis ou outras composições/formulações supra fisiológicas de tratamento com testosterona (opinião de experts);
    • Os dados avaliados das metanálises não evidenciaram melhora no bem-estar geral na pós menopausa com testosterona (nível I, grau A);
    • Testosterona pode melhorar bem-estar mulher na pré menopausa, mas as evidências são insuficientes (nível 1, grau B);
  1. Testosterona no sistema musculoesquelético:
    • Não há evidências para uso de testosterona em pacientes para melhora densidade óssea espinhal, quadril ou fêmur em 12 meses (nível 1, grau A);
    • A administração de doses fisiológicas de testosterona não tem efeito significativo na massa corporal magra, gordura corporal total ou força muscular (nível 1, grau A);
  2. Recomendações sobre os efeitos colaterais:
    • Terapia sistêmica com testosterona para mulheres na pós-menopausa, em doses que se aproximam das concentrações fisiológicas de testosterona para mulheres na pré-menopausa, está associada a leve aumento da acne e crescimento de pelos faciais/corporais em algumas mulheres, mas não com alopecia, clitoromegalia ou alteração da voz (nível 1, grau A);
  3. Terapia com testosterona e saúde mamária:
    • As evidências não demonstraram prejuízo no uso (nível 1, grau A). Mulheres com antecedente de neoplasia mamaria foram excluídas do estudo para avalição de desejo sexual.
  4. Recomendações para mulheres elegíveis para tratamento com testosterona:
    • A única situação elegível para uso de testosterona na pós menopausa é a disfunção do desejo sexual hipoativo após diagnóstico criterioso (nível 1, grau A);
    • Não existem formulações preparadas especificamente e testadas para tratamento de mulheres na pós-menopausa com testosterona (opinião de experts);
    • Onde não houver preparados específicos, de forma off-label os aprovados para população masculina poderiam ser utilizados (opinião de experts);
    • Quando indicado e iniciado uso de testosterona, a paciente deve ser monitorizada a cada 3-6 semanas inicialmente (opinião de experts);
    • Se não houver benefícios em até 6 meses o tratamento deve ser interrompido (nível IB, grau C).

Resumo das evidências, até agora, corroboradas por nova revisão em 2022 no Sexual Medicine Journal:

  • Transtorno Desejo Sexual Hipoativo é uma condição comum que afeta milhões de pessoas e a incidência aumenta com idade;
  • O diagnóstico deve ser feito com uso de questionários clínicos envolvendo desde excitação, desejo, orgasmo e dor no ato sexual. Condições clínicas, cirúrgicas, sociais e de relacionamento devem ser afastadas como outras causas da dificuldade orgástica;
  • As metanálises avaliadas com dados suficientes mostraram segurança para seu uso por tempo curto (não maior que 6 meses). Ainda não se sabe a segurança do uso prolongado da testosterona;
  • A dosagem de testosterona total não deve ser usada no diagnóstico;
  • O tratamento deve ser realizado com preparações que mantenham a testosterona em níveis fisiológicos.

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Concluímos que, o que se tem até agora de evidências, garante que o tratamento com testosterona pode e deve ser realizado, apenas em pacientes (grupo restrito) com diagnóstico adequado de transtorno do desejo hipoativo e por tempo determinado.

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Referências bibliográficas: Ícone de seta para baixo
  • Davis SR, Baber R, Panay N, Bitzer J, Perez SC, Islam RM, Kaunitz AM, Kingsberg SA, Lambrinoudaki I, Liu J, Parish SJ, Pinkerton J, Rymer J, Simon JA, Vignozzi L, Wierman ME. Global Consensus Position Statement on the Use of Testosterone Therapy for Women. J Clin Endocrinol Metab. 2019 Oct 1;104(10):4660-4666. DOI: 10.1210/jc.2019-01603.