UTI Resiliente: você conhece esse conceito?

A pandemia obrigou inúmeras unidades de saúde a adaptarem espaços de terapia intensiva em meio a crises, isso se chama UTI resiliente.

A pandemia pela COVID-19 testou a capacidade de sistemas de saúde, assim como das Unidades de Terapia Intensiva. Um maior número de pacientes graves foi visto, com ampla utilização de recursos e sobrecarga de equipes. Apesar do cenário desenhado, algumas UTIs conseguiram manejar de forma adequada o momento de crise.  

Leia também: “Derressuscitação” volêmica na UTI: o que você precisa saber

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O que significa resiliência de um sistema de saúde? 

A resiliência de um sistema de saúde diz respeito à capacidade das instituições e demais mecanismos envolvidos de se adaptarem e responderem a uma crise. Essa resposta envolve a manutenção das operações principais, aprendizagem a partir da crise com produção de bons desfechos.  

E em relação às Unidades de Terapia Intensiva (UTIs)? Nesse sentido, foi publicado no periódico Annals of Intensive Care, em abril de 2022, o artigo “The resilient intensive care unit”, por grupo brasileiro capitaneado pelo Dr. Jorge Salluh.  

Já tivemos a oportunidade de entrevistar o Dr. Jorge Salluh aqui no Portal. Confira no link: ISICEM 2022: Gestão de dados na UTI com Jorge Salluh (EPIMED Solutions)

UTI Resiliente: como definir? 

Uma UTI resiliente precisa ser adaptável e capaz de responder não apenas à grandes calamidades como uma pandemia, mas também aos momentos ofensores mais frequentes à sua performance, como mudanças no “case-mix” (perfil de pacientes que internam na unidade) e aumento no volume de admissões.  

Em termos práticos, uma UTI resiliente deve ter a habilidade de se adaptar às mudanças no perfil dos seus pacientes, gravidade e volume com mínimo impacto nos desfechos. Não se trata apenas de adaptação. Uma UTI resiliente também deve aprender com o momento de crise e incorporar novas práticas para melhor performance, ainda durante a crise.

Abordagem 4S para um sistema de saúde resiliente 

A abordagem geral conhecida como 4S é utilizada na definição de sistemas de saúde resilientes:  

S: staff (equipe) 

S: stuff (estrutura e equipamentos) 

S: space (espaço) 

S: system (sistemas) 

Um exemplo, utilizando a pandemia, seria uma UTI que se adaptou levando em conta a abordagem 4S, logo possibilitando lidar com toda a demanda maior de pacientes graves durante a crise e, ao mesmo tempo, incorporou e garantiu o emprego de práticas baseadas em evidências, assim como dos novos conhecimentos gerados durante a crise (corticosteróides, suporte ventilatório não-invasivo…). Além de ter desenfatizado práticas que não fossem embasadas em evidências científicas favoráveis (hidroxicloroquina, ivermectina…).  

Sendo assim, os autores enfatizam a adição de um novo S ao esquema anterior, referindo-se à ciência (science). A produção de novas evidências a partir da pesquisa e a incorporação das mesmas em projetos de melhoria da qualidade de processos são fundamentais para uma UTI Resiliente.

Grid de Avaliação de Resiliência de Hollnagel (RAG): pilares do sistema resiliente 

De acordo com o Grid de Avaliação de Resiliência de Hollnagel (RAG), a performance de um sistema resiliente é determinada por 4 pilares. Vamos analisar cada um deles levando em conta os 4S expostos anteriormente: 

Learn: ciência 

Implementação de novas evidências (systems); 

Comunicação efetiva (systems); 

Pesquisa clínica (systems);   

Monitor: dados 

Volume de pacientes (systems); 

Variabilidade do case-mix e gravidade (systems); 

Desfechos clínicos (systems);

Anticipate: preparação 

Processos assistenciais (systems); 

Capacidade da UTI (stuff) 

Engajamento e treinamento da equipe (staff) 

Equipamentos e materiais (stuff);   

Respond: capacidade de resposta – gerenciamento 

Bem-estar da equipe (staff) 

Liderança (systems) 

Uso racional dos recursos da UTI (systems); 

Otimização dos desfechos da UTI (systems) 

UTI Resiliente: como avaliar?

Algumas medidas principais para avaliação de resiliência de uma UTI são: mortalidade hospitalar e na unidade, duração de internação na UTI e taxa de complicações infecciosas nosocomiais. Outras métricas podem ser adicionadas, como adesão a protocolos baseados em evidências.  

Como se trata de uma condição dinâmica, a resiliência de uma unidade também pode ser avaliada a partir de indicadores como a VLAD (Variable Life-Adjust Display).  

A ferramenta é geralmente empregada para avaliar a qualidade do sistema de saúde e os desfechos dos pacientes. De forma dinâmica, a VLAD trabalha com a predição do desfecho do paciente e realiza uma comparação dinâmica com o observado e o predito de forma gráfica e sequencial.

Mensagens práticas 

  • Conceito super interessante que é reforçado pela recente crise que vivenciamos com a pandemia da COVID-19; 
  • De forma geral, nossas unidades de terapia intensiva apresentaram capacidades diferentes de resposta diante da crise, o que revela diferentes graus de resiliência das unidades ao longo do país; 
  • No entanto, o conceito vale para o nosso cotidiano, mesmo na ausência de uma crise. Em períodos regulares, como vimos no texto, um aumento do volume de casos ou gravidade dos mesmos pode impactar na dinâmica da sua unidade; 
  • Os conceitos explicitados pela abordagem 4S e pelo Grid de Avaliação de Resiliência de Hollnagel são interessantes para sistematização do conceito, tornando-o mais pragmático; 
  • No contexto da UTI resiliente, o aprendizado a partir da pesquisa clínica e incorporação das novas evidências à prática clínica, na minha opinião, é um motor para a melhoria contínua do processo de cuidado; 
  • Reforçamos mais uma vez a importância da gestão contínua e adequada de dados em uma unidade de terapia intensiva. Ajudará no diagnóstico, predição e antecipação a diversos ofensores que possam surgir.  

 

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Referências bibliográficas: Ícone de seta para baixo
  • Salluh, J.I.F., Kurtz, P., Bastos, L.S.L. et al. The resilient intensive care unit. Ann. Intensive Care 12, 37 (2022). https://doi.org/10.1186/s13613-022-01011-x 

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