Vacinação contra Influenza

A campanha de vacinação contra Influenza pelo Ministério da Saúde, iniciada em 12 de abril, está programada para ocorrer até 09 de julho.

Para o ano de 2021, a campanha de vacinação contra Influenza pelo Ministério da Saúde (MS), iniciada em 12 de abril, está programada para ocorrer até 09 de julho. Com realização anual, a vacina fornecida pelo Sistema Único de Saúde (SUS) é composta por três cepas de potencial pandêmico, sendo duas de Influenza A e uma de Influenza B. Para o ano de 2021, as cepas de Influenza A consistem em uma cepa de H1N1 e uma de H3N2.

A infecção pelo vírus Influenza está relacionada a uma importante carga de absenteísmo na população jovem e de morbidade e mortalidade, principalmente em idosos. Estima-se que, em 2017, Influenza foi associada a 145.000 mortes globalmente, com 50% em adultos com 70 anos ou mais. Idosos estão mais suscetíveis ao desenvolvimento de Influenza e apresentam maior risco de hospitalização, complicações e mortalidade.

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A vacinação, por sua vez, está associada a menor risco de doenças cardiovasculares e respiratórias, como infarto agudo do miocárdio, acidente vascular cerebral isquêmico e doença pulmonar obstrutiva crônica. Da mesma forma, entre indivíduos com doenças cardiovascular ou pulmonar prévias, a vacinação contra Influenza diminui o risco de morte. Entretanto, informações da efetividade da vacina em relação a hospitalizações nessa população são escassas. Um estudo chinês busca avaliar essa questão por meio de um estudo retrospectivo.

Vacinação contra Influenza

Materiais e métodos

Trata-se de um estudo de coorte retrospectivo que utiliza dados de hospitalização registrados no banco de dados de seguro médico de Pequim durante o período de janeiro de 2013 a dezembro de 2016. O banco de dados que serviu de base para o estudo contém informações de mais de 14 milhões de habitantes de Pequim, correspondendo a mais de 60% da população da cidade.

Indivíduos eram elegíveis se tinham 60 anos ou mais no momento da admissão hospitalar e se o diagnóstico de alta foi uma doença respiratória ou cardiovascular. A população do estudo foi dividida em três coortes, cada uma correspondendo a uma temporada de Influenza. Foram consideradas as hospitalizações que ocorreram durante ou em até duas semanas após uma temporada de Influenza. Seguindo esses critérios, foram incluídos 132.714 indivíduos na primeira coorte (2013-2014), 137.851 na segunda (2014-2015) e 157.794 na terceira (2015-2016).

Para avaliação do status vacinal, os dados dos indivíduos incluídos foram cruzados com informações do banco de dados de vacinação contra Influenza de idosos de Pequim, que contém informações a cerca da vacinação contra Influenza em pessoas a partir de 60 anos na cidade desde o ano de 2013. Para cada temporada de Influenza, os participantes foram considerados vacinados se haviam recebido a dose da vacina durante o período de Influenza vigente e no mínimo 14 dias antes da hospitalização.

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Os desfechos avaliados foram duração de hospitalização, custos médicos diretos, morte intra-hospitalar por qualquer causa e readmissão hospitalar pelo mesmo diagnóstico em até 14 dias da data da alta hospitalar. O último foi escolhido como um indicador da qualidade da assistência, uma vez que indicaria altas precoces. Os custos médicos diretos incluíram custos relacionados a medicações, tratamentos não farmacológicos, testes físicos e bioquímicos, cirurgias, entre outros serviços. Como forma de controle para fatores de confundimento, os desfechos também foram calculados para os meses de verão, quando a vacinação de Influenza não deveria ter efeito.

Resultados

As características demográficas e clínicas entre os participantes dos grupos com doenças cardiovasculares e com doenças respiratórias eram semelhantes, mas houve diferença entre os vacinados e não vacinados dentro do mesmo grupo. Para os internados com doença cardiovascular, os indivíduos vacinados tendiam a ser mais velhos, homens, morar em áreas suburbanas, ter menos visitas a hospitais no último ano, ter menos diagnósticos relacionados ao consumo de álcool ou à obesidade e a menos frequentemente ter sido submetidos a procedimentos cirúrgicos durante a internação. Para os internados por doenças respiratórias, não houve diferença em relação à idade ou realização de cirurgia, mas, para as outras variáveis, as diferenças foram semelhantes às encontradas no grupo com doença cardiovascular.

Para doenças cardiovasculares, o número de hospitalizações nas temporadas de Influenza foi de 139.506 e de 66.618 nos meses de verão, com 3.218 mortes e 7.388 readmissões vs. 1.507 mortes e 3.442 readmissões, readmissões. Esses números representam uma taxa de mortalidade bruta de 0,98 a cada 1.000 semanas de observação nas temporadas de Influenza e de 1,89 nos meses de verão. Para as readmissões, as taxas brutas foram de 2,21 e 4,31 a cada 1.000 semanas de observação, respectivamente. As taxas de vacinação por período foram de 15% em 2013-2014, 13% em 2014-2015 e 13% em 2015-2016.

Para doenças respiratórias, foram 81.520 hospitalizações nas temporadas de Influenza e 35.752 nos meses de verão. Nesse grupo, foram registradas 5.638 mortes e 5.041 readmissões nas temporadas de Influenza (taxa de mortalidade bruta de 2,41 a cada 1.000 semanas de observação e de readmissão de 2,15 a cada 1.000 semanas de observação).  Para os meses de verão, o número de mortes foi de 2.683 e de readmissões foi de 2.821 (6,25 e 6,57 a cada 1.000 semanas de observação). As taxas de vacinação foram de 14%, 13% e 12% para os períodos de 2013-2014, 2014-2015 e 2015-2016.

Vacinação contra Influenza esteve associada a um risco 40% menor de mortalidade intra-hospitalar por qualquer causa nos períodos de Influenza (OR ajustada = 0,6; IC 95% = 0,53 – 0,68) e 33% menor nos meses de verão (OR ajustada = 0,67; IC 95% = 0,57 – 0,80) para doenças cardiovasculares. Ajustando para fatores de confundimento, usando os meses de verão como referência, o risco de mortalidade intra-hospitalar foi 15% menor entre os vacinados, mas sem diferença estatística (OR ajustada = 0,85; IC 95% = 0,68 – 1,06). Para readmissões, para as internações por doenças cardiovasculares, o grupo vacinado apresentou um risco 19% menor em comparação aos meses de verão (OR ajustada = 0,81; IC 95% = 0,69 – 0,95).

Já para doenças respiratórias, a vacinação esteve associada a um risco 65% menor de mortalidade intra-hospitalar nos períodos de Influenza (OR ajustada = 0,35; IC 95% = 0,31 – 0,40) e 47% menor nos meses de verão (OR ajustada = 0,53; IC 95% = 0,46 – 0,62). Com o ajuste para possíveis fatores de confundimento, a vacinação contra Influenza esteve associada a um risco 34% menor de morte intra-hospitalar (OR ajustada = 0,66; IC 95% = 0,54 – 0,82). Para readmissões, não houve diferença em relação ao impacto da vacinação entre os meses de verão e os de Influenza após análise ajustada (OR ajustada = 1,12; IC 95% = 0,92 – 1,35).

Resumindo os resultados principais, a vacinação contra Influenza em idosos esteve associada a:

  • Menor risco de morte intra-hospitalar por doenças cardiovasculares;
  • Menor risco de morte intra-hospitalar por doenças respiratórias;
  • Menor risco de readmissão por doenças cardiovasculares.

Como limitações do estudo, a natureza secundária dos dados, assim como o uso de dois bancos de dados diferentes, gera a possibilidade de alguns vieses, como erros de diagnóstico ou fatores de confundimento. Além disso, por avaliar dados de uma única cidade, localizada na Ásia, não necessariamente seus resultados podem ser extrapolados para a população brasileira. Contudo, trata-se de mais um estudo que sugere benefícios com a vacinação contra Influenza.

Mensagens práticas

  • Vacinação contra Influenza esteve associada a menor risco de mortalidade intra-hospitalar por doenças cardiovasculares e respiratórias em idosos;
  • A vacina anual contra Influenza é fornecida pelo SUS para os grupos prioritários: crianças de 6 meses a 6 anos, gestantes, puérperas, populações indígenas, trabalhadores da saúde, idosos a partir de 60 anos, professores, portadores de doenças crônicas, condições clínicas especiais ou deficiência permanente, profissionais de forças armadas, de segurança ou de salvamento, caminhoneiros e trabalhadores de transporte público rodoviário, trabalhadores portuários, funcionários do sistema prisional e população privada de liberdade, incluindo jovens de 12 a 21 anos sob medidas socioeducativas;
  • A vacina administrada pelo SUS é trivalente. A vacina quadrivalente está disponível no setor privado. Em ambos os casos, a vacina é inativada e não há contraindicação para uso em pessoas com alguma forma de imunossupressão.

Referências bibliográficas

  • Pang Y, Wang Q, Lv M, Yu M, Lu M, Wu J, Xie Z. Influenza vaccination protects against hospitalization outcomes among older patients with cardiovascular or respiratory diseases: Effectiveness of influenza vaccination in older patients. The Journal of Infectious Diseases. 2021 Abril;223(7):1196–1204. doi:10.1093/infdis/jiaa493
  • Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Informe Técnico. 23ª Campanha Nacional de Vacinação Contra a Influenza. Brasília, 2021. Disponível em: https://www.gov.br/saude/pt-br/media/pdf/2021/marco/16/informe-tecnico-influenza-2021.pdf

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