Veja o que todo cirurgião precisa saber sobre psiquiatria

Neste artigos iremos nos ater à seção de psiquiatria. Confira tudo o que os profissionais desta área precisam saber sobre o assunto.

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No artigo passado, falamos sobre o que todo cirurgião deve saber sobre pneumologia. Dando sequência aos temas clínicos para cirurgiões, iremos nos ater agora a seção de psiquiatria:

                                                                           ABSTINÊNCIA ALCOÓLICA
DEFINIÇÃO Síndrome de abstinência que ocorre entre algumas horas ou alguns dias após a interrupção ou diminuição abrupta de consumo prolongado de bebidas alcoólicas. Risco e gravidade aumentam com a idade.
CLÍNICA Os sintomas se iniciam quando concentrações séricas de álcool declinam abruptamente entre 6 e 12 horas.

SINTOMAS: tremor aumentado nas mãos, hiperatividade autonômica, ansiedade, insônia, náuseas ou vômitos, agitação psicomotora, alucinação visuais, táteis ou auditivas transitórias, convulsões.

Esse quadro é marcado por flutuação na cognição, alucinações, hiperatividade autonômica. Há também a alucinose alcoólica, marcada por alteração no nível de consciência, desorientação, alterações no humor, piloereção, midríase e disartria.

CRITÉRIOS
(DSM)
Cessação do uso pesado e prolongado de álcool. 2 ou mais dos sintomas relacionados acima. Os sintomas acima causam sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no funcionamento social, profissional e em outras áreas. Exclusão de outros diagnósticos diferenciais.
TRATAMENTO HOSPITALAR

Cuidados gerais + sinais vitais + contenção física

Benzodiazepínicos: Diazepam 10mg 8/8h + SOS

Reposição vitamínica: Tiamina 1 amp IM/dia por 15 dias, após 300 mg VO

Convulsões? Diazepam 1 amp IV correr lento por 1 min até melhora do quadro.

Delirium tremens? Diazepam 60 mg/dia + Haloperidol 5 mg/dia.

Alucinose alcoólica? Haloperidol 5 mg/dia.

NÃO FAZER: glicose de forma indiscriminada (risco de precipitar Síndrome de Wernicke), fenitoína parenteral, clorpromazina ou outros sedativos de baixa potência, benzodiazepínico IV se não houver suporte em caso de PCR.

 

                                                                                          DELIRIUM
DEFINIÇÃO Síndrome neuropsiquiátrica em que se observam alterações da atenção. Início agudo, curso flutuante, associa-se com alterações do ciclo sono-vigília. Comum entre os idosos. Aumenta tempo de internação e morbidade.

Subdivide-se em:
Hiperativo: oscilação de humor, agitação e/ou recusa a cooperar. Hipoativo: lentidão, letardia que se aproxima a estupor. Misto: nível normal de atividade, porém com alteração da atenção.

CRITÉRIOS
(DSM)
Perturbação da atenção e da consciência. Pertubação se desenvolve em um período breve de tempo, Os sintomas acima causam sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no funcionamento social, profissional e em outras áreas. Exclusão de outros diagnósticos diferenciais.
TRATAMENTO Definir pacientes com risco aumentado, usar critérios diagnósticos diariamente, detectar e tratar causas.

Antipsicóticos: Haloperidol 10 mg/dia VO/IV/IM. Iniciar 0,5 – 2,5mg 2-3x/dia.
Outras opções (que podem ser repetidas a dose a cada 30 minutos):
Risperidona 1-6 mg/dia VO. Começar 0,5-1 mg em 1-2 tomadas; Olanzapina 1 mg/dia VO 1x/dia. Quetiapina 25 mg 2x/dia VO.
Benzodiazepínicos: Lorazepam 1-2 mg VO.

Opções IV?
Dexmedetomidina 2 ml + SF 0,9% 48 ml IV em BIC. Midazolam 5 mg + SF 0,9% 10 ml IV em BIC.
Glicemia capilar, Insulina regular conforme esquema, Glicose SOS, dieta oral livre sob observação, avaliação da necessidade de O2, contenção física.

 

                                                                                       TRANSTORNO DE USO
CLÍNICA
DROGAS SINTOMAS
OPIOIDES Abstinência: depressão, fissura, disforia, hiperalgesia, insônia, midríase, fotofobia, hiperatividade autonômica.

Intoxicação: sedação, analgesia sonolência, miose, depressão respiratória, hipotensão, arreflexia, coma.

ESTIMULANTES
Anfetamina
Cocaína
Ritalina ®
Abstinência: depressão, ideação suicida, irritabilidade, hipersonia ou insônia, fissura, aumento do apetite, anedonia.

Intoxicação: midríase, boca seca, autoconfiança, alucinações, agressividade, anorexia, transtorno psicótico, IAM, AVE, convulsões, coreia, alterações neurocognitivas, morte súbita.

ALUCINÓGENOS
LSD
MDMA
Quetamina
Intoxicação: hiperatividade autonômica, aumento das sensações perceptivas sensoriais, sensação distorcida do tempo, bem-estar, sensação de estar fora do corpo, sinestesia, disforia, ataques de pânico, psicose, arritmias, catatonia, IRA, CIVD, choque.
SEDATIVOS
HIPNÓTICOS
Benzodiazepínicos
Carbamatos
Barbutúricos
Abstinência: hiperatividade autonômica, tremores, alucinações, agitação psicomotora, perda de peso, disforia, convulsões.

Intoxicação: quedas, problemas cognitivos em idosos, tontura, zumbidos, desinibição, agressividade, incoordenação, marcha instável, sonolência diurna, estupor, depressão respiratória.

DROGAS TRATAMENTO
TRATAMENTO
OPIOIDES Abstinência: Metadona 20-30 mg/dia.

Intoxicação: Naloxana 0,8 mg IV ➠ em 15 min 1,6 mg IV ➠ mais 15 min 3,2 mg IV

ESTIMULANTES Diazepam 10 mg IV. 1/2 dose pode ser repetida a cada 10 minutos até controle total da agitação.
ALUCINÓGENOS Midazolam 1-2 mg IV; Haloperidol 2-5 mg IM ou IV; Diazepam 2-5 mg IM ou IV.
SEDATIVOS
HIPNÓTICOS
Flumazenil 0,2 mg IV em 30 seg ➠ + 0,2 mg ➠ até total 1 mg

Para todas as drogas, faz parte do tratamento monitorização cardíaca, oximetria, suporte ventilatório, correção de distúrbios hemodinâmicos e eletrolíticos, cuidados gerais, além de psicoterapia. A descontaminação gastrointestinal, em geral, é pouco útil.

Leia mais: Como a psiquiatria pode auxiliar o paciente sob cuidados paliativos?

                                                                                               DEPRESSÃO
DEFINIÇÃO É um dos transtornos psiquiátricos mais comum na população em geral, associado a elevada mortalidade pela omissão de sua existência pela maior parte das pessoas. Incluindo nesse grupo pacientes e médicos, ambos possíveis vítimas desse mal.

Pode ser:
LEVE: psicoterapia. MODERADO: psicoterapia e/ou antidepressivos. GRAVE SEM SINTOMAS PSICÓTICOS: antidepressivos. GRAVE COM SINTOMAS PSICÓTICOS: antidepressivos de amplo espectro de ação em doses altas + antipsicóticos. MELANCÓLICA: antidepressivos tricíclicos e eletroconvulsoterpia. ATÍPICA: antidepressivos IMAP e inibidores da receptação de serotonina. SAZONAL: fototerapia e antidepressivos. PÓS-PARTO: medicar se houver prejuízo nos cuidados maternos, sendo que a psicose puerperal demanda tratamento medicamentoso e, por vezes, eletroconvulsoterapia.

CRITÉRIOS
DSM
≥ 5 dos seguintes sintomas presentes por 2 semanas: humor deprimido na maior parte do dia, acentuada diminuição do interesse em todas ou quase todas as atividades do dia, perda ou ganho significativo do peso sem estar fazendo dieta, insônia ou hipersonia, agitação ou retardo psicomotor, fadiga, sentimentos de culpa excessiva, capacidade diminuída para se concentrar, pensamentos recorrentes de morte com ideação suicida. Os sintomas causam sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no funcionamento social. Não é atribuível aos efeitos fisiológicos de uma substância ou condição médica. Não é bem explicada por transtorno esquizoafetivo, delirante. Nunca houve episódio maníaco.
CUIDADO
QUADRO TRATAMENTO
LEVE Psicoterapia + tricíclicos em doses baixas ou trazodona.
Trazodona 50-300 mg (50 mg por 4 dias ➠ 2 cp por 4 dias ➠ 3 cp)
MODERADO Inibidores da recaptação de serotonina
Fluoxetina 20-80 mg (iniciar com 10 mg ➠ 1/2 cp por 7 a 10 dias ➠ 1 cp).
Sertralina 50-200 mg (1/2 cp por 7 dias ➠ 1 cp).
Paroxetina 20-50 mg (1/2 cp de 20 mg por 7 dias ➠ 1 cp).
GRAVES SEM PSICOSE
ISRS, ISRN e dopamina
Bupropiona 150-300 mg (150 mg por 7 dias ➠ 1 cp manhã outro tarde)
Venlafaxina 75-375 mg (1/2 cp 37,5mg por 7 dias ➠ 75mg/dia)

COM PSICOSE
IRSR + antipsicóticos

 

                                                                                                INSÔNIA
DEFINIÇÃO É uma das queixas mais comuns da prática clínica. Deve aliar dificuldade persistente para dormir apesar de adequada oportunidade de sono, acarretando prejuízo em atividades feitas durante o dia. Pode ser:

INICIAL: dificuldade de iniciar o sono. INTERMEDIÁRIA: dificuldade em manter-se dormindo. TERMINAL: despertar muito cedo.

CRITÉRIOS
DSM
Queixas de insatisfação predominantes com a quantidade ou a qualidade do sono associada a um ou mais dos sintomas inicial, intermediário ou terminal. A perturbação do sono causa sofrimento clinicamente significativo e prejuízo no funcionamento social. Ocorrem pelo menos 3 noites por semanas. Permanecem durante pelo menos 3 meses. Ocorrem a despeito de oportunidades adequadas para dormir. Não é bem explicada ou não ocorre exclusivamente durante o curso de outro transtorno de sono-vigília. Não é atribuída aos efeitos fisiológicos de uma substância. A coexistência de transtornos mentais e de condições médicas não explica.
TRATAMENTO
HIGIENE DO SONO: manter rotina de sono, atividade física, suspender psicotrópicos, evitar dormir durante o dia e atividades estimulantes a noite.
BENZODIAZEPÍNICOS Alprazolam 0,5-3 mg/d
Clonazepam 4-10 mg/d
HIPNÓTICO Zolpidem 5-12,5 mg/d
Zopiclona 3,75-7,5 mg/d
TRICÍCLICOS Amitriptilina 25-150 mg/d
Imipramina 25-300 mg/d
INIBIDOR CAPTAÇÃO DE SEROTONINA Trazodona 50-400 mg/d
                        TERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL

Bom, esses são os principais conceitos (básicos) de psiquiatria que você precisa conhecer para melhor tratar seu paciente. Ou, quem sabe, reconhecer até o que está acontecendo com você.

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