Violência sexual contra mulher: uma perspectiva epidemiológica

A violência sexual contra mulher é uma das formas de violência que teve um aumento expressivo nos últimos anos, devido à pandemia de covid-19.

A violência de gênero é um fenômeno frequente em nossa população. Especificamente a violência sexual contra mulher é uma dessas formas de violência que teve um aumento expressivo de casos relatados após a pandemia de covid-19. Embora combater essa forma de violência seja uma das metas globais de desenvolvimento sustentável, ela ainda é responsável por uma elevada mortalidade e grande volume de agravos de saúde derivados dessa condição, impactando a saúde física e mental de mulheres e crianças em contato constante com esse estressor.

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Violência sexual contra mulher uma perspectiva epidemiológica

Análise recente

Dessa forma, tentando traçar um perfil epidemiológico a respeito da violência sexual, pesquisadores realizaram uma revisão sistematizada de literatura em busca de estudos epidemiológicos que permitissem traçar um perfil situação a cerca da violência sexual contra mulher em níveis locais, regionais e globais. O principal achado foi que a prevalência dessa forma de violência já era alta anteriormente ao início da pandemia de covid-19.

Para chegar a essa conclusão, os pesquisadores revisaram estudos publicados entre os anos 2000 e 2018, com amostras de base populacional avaliando mulheres com 15 anos ou mais que sofreram alguma forma de violência sexual. O objetivo era avaliar a prevalência global de violência sexual contra mulheres.

Os pesquisadores encontraram 366 estudos elegíveis que continham dados de 2 milhões de mulheres distribuídas sob mais de 161 países. Globalmente, 27% das mulheres entre 15-49 anos apresentaram violência física ou sexual de seu parceiro durante a vida, sendo que 13% ainda passavam por essa rotina no último ano.

Esse estudo ainda identificou que das mulheres que relatavam experiências de violência 24% tinham entre 15 a 19 anos, 26% entre 19 e 24 anos e já haviam passado por uma situação de violência. Dessa forma percebemos o grande impacto que esses agravos causam em termos de saúde pública.

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Além disso, os estudos apontam que dessas mulheres relatando experiências de violência, cerca de 30% já experimentaram situações de trauma no passado. Esse dado se repete em países de baixa renda e em países desenvolvidos, sendo os primeiros os mais marcados por essa situação.

Além disso, no acolhimento à pessoa vítima de violência, uma estratégia de manejo pode ser a adoção do protocolo de cuidado de trauma informado (tradução livre de trauma informed care). Essa abordagem implica a adoção de uma estratégia de cuidado centrada na pessoa preconizando autonomia e prevenção de revitimização.

Os princípios dessa abordagem são:

  1. Segurança: paciente e equipe se sentem seguros física e psicologicamente.
  2. Confiança e transparência: as decisões são realizadas com transparência, de modo compartilhando reforçando a confiança.
  3. Suporte de pares: pessoas com experiência de vida são acolhidas e integradas como parte da equipe de cuidado.
  4. Colaboração: as diferenças de saberes entre os clientes e provedores de saúde são mutuamente valorizadas e reconhecidas para tomada de decisão compartilhada.
  5. Empoderamento: as forças e potencialidades da equipe e do cliente são reconhecidas e reforçadas, o que inclui a crença na resiliência e habilidade de superar o trauma.
  6. Humildade e responsabilidade: vieses e particularidades (ex. etnia, gênero, idade, orientação sexual, localização geográfica, condições de vida) são reconhecidas e avaliadas.

No Brasil, a situação não é diferente. Entre os anos de 2000 a 2018, segundo o estudo, 23% das mulheres haviam sofrido violência de alguma forma ao longo da vida, sendo 6% a incidência no ano anterior à realização da pesquisa. Além do aumento no número de casos descritos e de denúncias realizadas, vale a pena ressaltar o papel do profissional de saúde no acolhimento e notificação, uma vez que esse se trata de um agravo de notificação compulsória.

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Referências bibliográficas: Ícone de seta para baixo
  • Sardinha L, et al. Global, regional, and national prevalence estimates of physical or sexual, or both, intimate partner violence against women in 2018. The Lancet. 2022;399(Issue 10327):803-813. DOI:10.1016/S0140-6736(21)02664-7
  • Purkey E, Patel R, Phillips SP. Trauma-informed care: better care for everyone. Canadian Family Physician. 2018;64(3):170-172. PMCID: PMC5851387