Você sabe reconhecer e tratar as 30 afecções dermatológicas mais comuns na infância? (parte 1)

No dia a dia da clínica pediátrica, nos deparamos com diversas alterações dermatológicas na criança, muitas delas gerando dúvidas nos pais e até nos colegas que estão atendendo o paciente.

No dia a dia da clínica pediátrica, nos deparamos com diversas alterações dermatológicas na criança, muitas delas gerando dúvidas nos pais e até nos colegas que estão atendendo o paciente.

Vamos ver aqui as principais características das afecções que encontramos mais comumente e o tratamento para cada uma, mas vamos separá-las em 3 partes:

– Parte 1: alterações comuns no RN / lactente pequeno e alterações com componente alérgico / reação a algum fator de exposição
– Parte 2: alterações causadas por infecção bacteriana ou por infestação parasitária
– Parte 3: alterações causadas por infecção viral

Então hoje começamos a primeira parte, abordando dermatite atópica, dermatite de fralda, dermatite seborreica infantil, eczemátide ou ptiríase alba, efélides (sardas), hemangioma, manchas café-au-lait, mancha mongólica, miliária, mílio e urticária.

Dermatite atópica (DA) – é a principal manifestação cutânea da atopia e tem aumentado bastante o número de casos que chegam ao consultório / ambulatório. Tem evolução flutuante, podendo ocorrer em qualquer idade após o terceiro mês de vida. Sempre há prurido intenso. É dividida nas fases infantil, pré-puberal e adolescentes-adultos. DA infantil: até 2 anos, áreas eritematocrostosas em regiões malares, indo para couro cabeludo, pescoço, fronte, punhos, face extensora dos membros e região das fraldas. DA pré-puberal: lesões menos exsudativas, mais papulosas, tendendo a liquenificar, em dobras anticubitais e poplíteas, punhos, pálpebras, face e pescoço. DA adolescentes: lesões papulo-descamativas, liquenificadas, em dobras anticubitais e poplíteas, pescoço, pálpebras, mãos e punhos. É preciso evitar ou reduzir a exposição aos fatores desencadeantes, além de tratar as crises agudas com corticoide tópico ou oral. Dependendo da gravidade do quadro, deve ser acompanhado por especialista em alergia.

Dermatite de fralda – extremamente comum, sendo a dermatite de contato por irritante primário mais frequente na infância. Até metade dos lactentes pode apresentar essa lesão, tendo pico entre 9 e 12 meses de idade. Os pais referem que há eritema no local, no início do quadro. Acaba progredindo com maceração, escoriações e pápulas. Pode ter erosões e ulcerações nas formas mais graves. É necessário orientar a deixar o local sempre limpo, seco, retirando os irritantes que causam a lesão. Também é importante avaliar se há candidíase associada.

Dermatite seborreica infantil – muito comum na infância! Vários casos chegam como sendo DA (também por conta dos vários diagnósticos de alergia, como APLV), mas na verdade são dermatite seborreica. Há lesões eritematodescamativas não pruriginosas que comprometem área de fraldas, face e couro cabeludo, surgindo entre a primeira e segunda semanas de vida. Não há comprometimento do estado geral, e pode ser tratada com xampu à base de LCD a 5%, piritionato de zinco a 1-2%, sulfeto de selênio a 1-2,5%, coaltar a 2-3%, cetoconazol a 1-2%, avaliando cada caso e idade.

Eczemátide ou ptiríase alba – a maioria das pessoas associa essas lesões com presença de verminose… É mais comum em pacientes alérgicos, havendo áreas ovais ou arredondadas, cor da pele ou eritematosas, com descamação fina. São lesões múltiplas, de tamanho variado, principalmente em face, lateral dos braços e tronco. É mais evidente após exposição ao sol. O tratamento é difícil, apesar da benignidade da lesão, sendo à base de emolientes e cremes com baixa concentração de coaltar (0,5-1,0%) ou corticoide não potente.

Efélides (sardas) – crianças ruivas ou com pele clara são mais propensas a apresentar essas pequenas máculas amarronzadas que aparecem em áreas expostas à luz solar. A cada exposição solar, tornam-se mais pigmentadas. É importante utilizar protetor solar e evitar a exposição ao sol para que haja clareamento gradual das lesões. Peeling pode ser usado para acelerar o processo.

Hemangioma – é o tumor benigno mais comum na infância, com predileção pela cabeça e pescoço. Pode ser superficial, misto ou profundo, varia de milímetros a alguns centímetros de diâmetro. Possui fase proliferativa (lesão quente, firme, vermelho-vivo) e involutiva (mais violácea, com área branco-acinzentadas, menos firme e menos quente). A maioria das crianças tem lesão única, mas pode haver dezenas de lesões, de localização variada (lábio, nariz, face, região periorbitária, pavilhão auricular, parótida, região da fralda, dobras, sobre suturas cranianas, mama, fígado, região lombar). A maior parte dos casos não requer tratamento, mas é possível usar corticoide oral, propranolol, além de crioterapia e laser.

Manchas Café-au-lait são manchas congênitas acastanhadas, com formas e limites variáveis, causadas pelo aumento de melanócitos e de melanina. Podem aparecer de forma isolada, mas também estão presentes na neurofibromatose, na esclerose tuberosa, na síndrome de Albright, entre outras, sendo necessário ter atenção para isso (pensar em neurofibromatose se houver mais de 6 lesões ou se forem maiores que 4 a 6cm). Podem ser tratadas com lasers.

Mancha mongólica – é uma mancha congênita, com coloração azulada, que mede poucos centímetros. Geralmente é lesão única ou em pequeno número, em região sacra ou lombar. Não requer tratamento, bastando explicar aos pais a benignidade da lesão. Algumas involuem espontaneamente.

Miliária – bastante comum nos períodos mais quentes, havendo associação da sudorese com obstrução das glândulas sudoríparas que ainda não se desenvolveram por completo, principalmente no período neonatal. Também pode ocorrer durante os estados febris, naqueles RN que são colocados em incubadoras e os que são excessivamente agasalhados. Na miliária rubra (brotoeja), a obstrução é na derme, havendo pápulas avermelhadas devido ao processo inflamatório. Basta explicar aos pais para evitar o aquecimento excessivo que promove sudorese, deixando a pele seca e a criança em local fresco.

Mílio – muitos bebês apresentam essas lesões e os pais costumam questionar a respeito, como em qualquer alteração no RN. Mas é lesão benigna, expressa por várias pápulas ou cistos branco-perolados (também podem ser amarelo-pálidos), geralmente em nariz, queixo e fronte do bebê a termo. Não requer tratamento e desaparece nas primeiras semanas de vida.

Urticária – é causa de atendimento nos serviços de emergência, sendo uma erupção cutânea muito pruriginosa, com formação de placas eritematosas, elevadas e demarcadas, tendo desenhos, formas e tamanhos variados, com edema na região central mais pálida. Não deixa cicatrizes. O prurido é o dado clínico mais importante. Sua ausência coloca em dúvida o diagnóstico de urticária. Pode ser tratada com anti-histamínicos. Se houver sinais e sintomas sistêmicos associados, internar o paciente na unidade de emergência e fazer adrenalina.

Leia aqui a parte 2 do nosso especial com as alterações causadas por infecção bacteriana ou por infestação parasitária.

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Referências:

  • Tratado de Pediatria da SBP, 4ª Ed, 2017
  • P., CLOHERTY, J., EICHENWALD, C., STARK, R.. Manual de Neonatologia, 7ª edição. Guanabara Koogan, 03/2015.
  • Azulay, Rubem David. Dermatologia / Rubem David Azulay, David Rubem Azulay, Luna Azulay-Abulafia – 5ª edição, ver. e atual. – Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2008.

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